Antonio Carlos Egypto
O MESTRE (The
Master). Estados Unidos, 2012. Direção e roteiro: Paul Thomas Anderson. Com Philip Seymour Hoffman, Joaquin Phoenix,
Amy Adams. 143 min.
Fareis tudo que
seu mestre mandar? A frase que
ilustra uma brincadeira infantil pode ser vivida por muita gente que abdica da
própria liberdade, em busca da hipotética segurança do mestre, visto como um
ser superior. Não importa muito se
divino, mítico ou uma personalidade carismática e dominadora. Um punhado de
gente à procura de quem decida por eles sobre a sua própria vida é do que
necessitam pregadores dispostos a fundar uma seita, que pode se tornar uma
religião forte e poderosa um dia.
Como se dá esse processo é o que pretende abordar o
filme “O Mestre”, de Paul Thomas Anderson.
O diretor gosta de temas controversos, que podem ser explorados por
vários ângulos, como demonstram seus filmes “Magnólia”, de 1998, “Boogie
Nights”, de 1999, ou “Sangue Negro”, de 2007.
Um ex-combatente da Segunda Guerra Mundial, Freddie
(Joaquin Phoenix), volta destroçado psicologicamente dos campos de
batalha. Descontrolado, com a
sexualidade exacerbada e dependente do álcool, ele será presa fácil de um mestre-guru,
como Lancaster Todd (Philip Seymour Hoffman), físico e filósofo, que trabalha
com uma espécie de hipnose e, na busca por autocontrole e cura espiritual,
evoca vidas passadas. Isso, associado à
dependência do mestre, que cria as coisas a seu bel-prazer e as muda como e
quando quiser, forma a base de uma organização religiosa demoninada A Causa.
A partir daí, não se pode estranhar mais nada, já que a racionalidade
perde espaço para verdades esotéricas que flertam com o absurdo e o non-sense, o que dá um tom até mesmo
divertido à trama. E, claro, é uma
provocação. Muito bem colocada, aliás.
As personalidades dos personagens de Joaquin Phoenix
e Philip Seymour Hoffman dão margem a interpretações espetaculares dos dois
atores, que são a alma do filme. Amy
Adams, no papel da mulher do mestre, também tem um desempenho brilhante. Não por acaso, o filme tem três indicações ao
Oscar 2013, todas referentes aos atores e à atriz.
Essas performances é que dão força ao filme, já que a
boa história que ele conta pressupõe um monte de maluquices pretensamente
vividas pelos personagens, como se fossem coisas aceitáveis ou
admissíveis. Não é só a dependência do
mestre que é absurda, é o que ele diz e faz, em conflito permanente com o bom
senso e a racionalidade, e de forma incoerente.
Mas seus seguidores não enxergam isso, ou se omitem cinicamente. E Freddie, o ex-combatente, ultrapassa todos
os limites na adesão à causa e na defesa de seu líder. Se o papel revela o quão bom ator Joaquin
Phoenix é, o mal-estar que ele causa é tão ou mais grave do que o que nos
mostra o mestre alucinado que Seymour Hoffman faz com enorme brilho.
A Paris Filmes, no cartaz de divulgação, informa que
o filme é sobre a cientologia.
Supostamente, o guru Lancaster Todd seria inspirado no criador dessa
doutrina, o escritor L. Ron Hubbard (1911-1986). Difícil saber quanto o que se mostra no filme
tem a ver realmente com a vida de Hubbard, ou se a forma como ele prega e se
comporta de fato reflete a cientologia.
O filme não é centrado na exposição ou na crítica direta às ideias da
cientologia ou de seu criador.
É muito mais uma reflexão sobre o que é e o que
significa seguir cegamente um mestre e no que isso pode dar. Nesse sentido, pode valer para a cientologia,
mas também para as seitas e religiões, de um modo geral, que se baseiam na
figura de uma liderança isolada, onipotente e onisciente.
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