Antonio Carlos Egypto
A ARTE DA CONQUISTA (The Art of Getting By). Estados Unidos, 2011. Direção e roteiro: Gavin Wiesen. Com Freddie Highmore, Emma Roberts, Sasha Spielberg, Marcus Carl Franklin. 83 min.
“A Arte da Conquista” é um título banal para um filme dirigido a adolescentes. Não se trata de um filme de ação, de violência, de efeitos especiais, de heróis de história em quadrinhos, ou chanchada de cunho pornográfico, produtos que Hollywood costuma oferecer a esse público. Pode ser considerada uma comédia romântica, o que também não seria nenhuma novidade. Acontece que o filme é inteligente, celebra a diversidade, lida com o inesperado.
Quando se trata de grupos sociais, como os adolescentes, temos uma tendência a uma generalização que enquadre a categoria. Os adolescentes são desta ou daquela maneira, se comportam assim, gostam disso e daquilo, seus sonhos de consumo são tais e tais. Tendemos a ignorar todas as diferenças, que são abissais, entre eles. Jovens de diversas classes sociais – pobres, ricos, de classe média – certamente são muito diferentes uns dos outros. Os que vivem na grande metrópole, nas pequenas cidades ou no campo, estão longe de se identificarem facilmente entre si, em que pesem a democratização da Internet, o estímulo aos produtos culturais e de consumo, dirigidos a uma juventude mundial, especialmente a música, as danças e os esportes radicais. Há gosto e desejo para tudo e de todo tipo. Alguns podem se sentir diferentes, e incomodados, quando escapam às expectativas sociais a respeito deles. E até terem dificuldade de conviver com seus próprios gostos e desejos, mas, cedo ou tarde, acabarão por ter de reconhecê-los em si mesmos.
“A Arte da Conquista” nos traz um personagem adolescente, que tem uma inegável especificidade. E é tão adolescente quanto todos os outros. George (Freddie Highmore) é um jovem solitário, dado a especulações filosóficas, e extrai delas, por um lado, um pessimismo diante da vida, por outro, uma boa desculpa para não se mexer, não se dedicar seriamente, nem ao estudo, nem a um trabalho. George percebe a vida como algo sem sentido, uma grande ilusão. Tem medo da vida e uma certa atração pela inevitabilidade da morte. Crê que nascemos e morremos sozinhos e não há nada a fazer quanto a isso. Se a vida não tem sentido, por que se dedicar a estudar, trabalhar com afinco, conviver com amigos, se preocupar em namorar?
Ele também se sente despreparado para amar e para lidar com as garotas. Claro que, quando o amor chega e se materializa em Sally (Emma Roberts), e isso acontece sem que se espere ou se esteja preparado, muita coisa muda. Uma esperança pode vir a desabrochar, assim como um talento ao qual não se dava a devida importância.
Um adulto aberto e sensível ao contato, um artista como Dustin (Michael Angarano), pode significar um novo alento, especialmente quando valoriza algo que o jovem faz e dá importância ao enamoramento. Não importa que ele possa vir a decepcionar mais tarde. Ainda assim, pode ser um estímulo importante.
É dessas questões vividas por um adolescente que se nutre o filme, que dialoga com os jovens de forma clara, simples e honesta. O que, sem dúvida, tem méritos. Afinal, faz pensar, traz uma realidade que pode ser a de muitos, apesar de escapar aos estereótipos mais comuns. Ou pode estar muito perto, sendo vivida por vizinhos, colegas, parentes, amigos. A história é um convite à compreensão e ao entendimento. Sem chancelar fantasias ou idealizações.
Um bom filme para ser assistido pelos jovens e pelos que se interessam pelas questões da juventude, principalmente aquelas que estão menos evidentes ou são menos propagandeadas.
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