quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Um Lugar Qualquer

 

Tatiana Babadobulos

Um Lugar Qualquer (Somewhere). Estados Unidos, 2010. Direção e Roteiro: Sophia Coppola. Com: Stephen Dorff e Elle Fanning. 97 minutos


Sophia Coppola não tem medo. Apesar do sobrenome que carrega (ela é filha de Francis Ford Coppola, diretor, por exemplo, da trilogia “O Poderoso Chefão”), ela não tem receio de dar sua cara à tapa. Depois de fazer filmes como “Encontros e Desencontros” e “Maria Antonieta”, e mostrar, neste último caso, sua visão sobre a vida da rainha francesa, agora ela chega ao cinema mostrando mais uma obra que escreveu, produziu e dirigiu: “Um Lugar Qualquer” (“Somewhere”), longa-metragem que passou pela Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, no ano passado, e estreia nesta sexta-feira, 28, nos cinemas.

Ronco do motor, câmera parada e o carro preto fica dando voltas em uma estrada vazia. O carro, na verdade, é um supercarro: trata-se de uma Ferrari, e está sendo dirigida por Johnny Marco (Stephen Dorff, de “Inimigos Públicos”), um ator que mora no Chateau Marmont, o lendário hotel de Hollywood.

Tal como outros atores, Marco vive à deriva: não tem mulher, só uma filha adolescente; toma pílulas para dormir, recebe mensagens anônimas e agressivas em seu BlackBerry, bebe cerveja, fuma e reveza as companhias (tem muitas mulheres, mas vive sozinho), além de apreciar shows de pole dance feitos por irmãs gêmeas vestindo trajes, digamos, sumários...

E é justamente por conta da filha Cleo (Elle Fanning, de “Babel”), principalmente após passar um tempo com ela na Itália, para onde foi participar do lançamento de seu filme, que ele começa a se dar conta da vida que leva: nada é levado como proveito para a cabeça ou para o coração, é tudo descartável, volátil.

As cenas se passam principalmente no apartamento onde Johnny Marco vive, mas também no hotel em Milão onde vai passar uns dias. Há também muitas cenas nas largas ruas de Los Angeles. Uma das cenas tocantes é quando Cleo vai fazer sua apresentação de patins no gelo e o pai vai acompanhá-la.

Com poucos diálogos e filme lento, aos poucos Sophia vai falando sobre a vida do rapaz e mostrando a sua rotina. Ou seja: a diretora insere cenas do cotidiano em sua história intimista, e inclui o espectador nela. Afinal de contas, embora se trate de um ator hollywoodiano, o personagem criado por ela poderia ser qualquer outra pessoa da plateia.

A atualização também é clara no filme: a menina usa iPhone para anotar a placa do SUV que provavelmente segue o pai, seu notebook é um iMac e, na hora da diversão, é o videogame de última geração que ela usa para brincar. Referência atual também quando ela cita o livro que está lendo e conta a história de um vampiro...

“Um Lugar Qualquer” é sobre a futilidade e a percepção que o protagonista tem ao ver o quão vã é a sua vida: nada tem de bom para o coração. Cerveja, mulheres a hora que quiser, além da Ferrari, símbolo do luxo e da ostentação. No longa-metragem, Sophia mostra a simplicidade da vida com a filha versus o jeito largado dele e a glamourização de Hollywood na vida dessas pessoas, que sai da entrevista coletiva com perguntas patéticas e cai na festa.

Com poucas palavras, 99 minutos de imagens e rock'n'roll (assim como em “Maria Antonieta”, que é o principal ritmo da trilha sonora de seu filme), Sophia Coppola dá o seu recado. Simples assim.

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