sexta-feira, 3 de setembro de 2010

O REFÚGIO

Antonio Carlos Egypto

O REFÚGIO (Le Refuge). França, 2009. Direção: François Ozon. Com: Isabelle Carré, Louis-Ronan Choisy, Pierre-Louis Calixte, Melvil Poupard. 90 min.


O filme começa com um jovem casal na cama, no quarto, injetando heroína nas veias, sem parar. Vê-se que já não há mais onde picar e que, para uma dependência como esta, o fim está próximo. É o que de fato acontece com o rapaz, Louis, morte por overdose. Mas a moça, Mousse, sobrevive.

Para se livrar da dependência de heroína, há jeito: tratamentos à base de metadona costumam funcionar. Mas há um grande complicador: ao ser socorrida no hospital, descobre-se que ela está grávida. Do jovem e finado Louis, por suposto.

Prosseguir com essa gravidez inesperada, apesar da oposição da família dele? Realizar o aborto? Haverá espaço para cuidar de uma criança na vida dessa jovem, até aqui vivendo em função das drogas?

Uma casa de praia, longe de Paris, pode ser o refúgio ideal, numa hora dessas. Mas e se o irmão de Louis aparecer por lá? Muita coisa pode vir daí.

Como de hábito, François Ozon aborda relações humanas em que coisas um tanto fora do padrão acontecem. Os personagens têm algo que os diferencia do usual, seja uma personalidade, seja uma circunstância ou um mistério qualquer. Histórias que poderiam parecer comuns tomam rumos inesperados. “O Refúgio” vai nessa linha e consegue prender o interesse o tempo todo.

François Ozon, desde o seu primeiro filme, “Sitcom-Nossa Linda Família”, de 1998, foi sempre um diretor capaz de inovar no clima e na temática de suas histórias e, com frequência, intrigar. Foi assim com “Amantes Criminais”, de 1999, e “Gotas D’Água em Pedras Escaldantes”, também de 1999, esse baseado em texto teatral de Rainer Werner Fassbinder, o mestre alemão do cinema. Depois, vieram o inusitado “Sob a Areia”, de 2000, e “Swimming Pool – À Beira da Piscina”, de 2002, onde uma competição raivosa e contida entre duas mulheres, em momentos diferentes de vida e com idades muito distintas, se estabelece. Filmes fortes e desafiadores, que não combinavam com a investida de Ozon no superespetáculo que foi “Angel”, de 2007, uma história de amor mais convencional e ao estilo clássico.

Felizmente, “O Refúgio” traz o Ozon mais intrigante de volta. A fita recebeu o prêmio especial do júri do Festival Internacional do Filme, de San Sebastian.

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