Tatiana Babadobulos
Se o livro "Up in the Air", de Walter Kirn, não tivesse sido lançado em 2001, poderíamos pensar que o roteiro para o filme homônimo (mas que no Brasil está sendo chamado de "Amor Sem Escalas") foi escrito especialmente para um ator: George Clooney.
Ora, quem acompanha a carreira e um pouco que seja de sua vida pessoal sabe que se trata de um bon vivant de 48 anos, solteiro, que talvez nem pense em se casar. Assim é Ryan Bingham, personagem vivido por Clooney neste longa-metragem. Ao invés de ser ator e viajar por conta das filmagens, Ryan é executivo de uma empresa e sua função é viajar por todas as cidades dos Estados Unidos para demitir pessoas. Ou seja, ele é pago por empresas que terceirizam seu "trabalho sujo", que é encarar um funcionário de alguma instituição para demiti-lo, sem comentar os motivos.
Embora a fita não situe o espectador da época em que se passa, é fácil perceber que enfoca um período de crise econômica e, claro, pós-11 de setembro. E para escolher os personagens que vão interpretar os que foram demitidos, foi realizada pesquisa com diversas pessoas que passaram pelo drama. De fato, parece real. A maneira como esses depoimentos são mostrados na tela pelo diretor Jason Reitman (de "Juno") parece um documentário.
Um trabalho como esse (o de demitir pessoas), portanto, não poderia ser feito por alguém senão por uma pessoa que não se apega a nada: seja família, casa ou amor. Como diz o personagem, sua casa é no ar, pois ele se sente bem voando entre um destino e outro carregando apenas uma mala de mão, que é capaz de arrumar em minutos.
Além de demitir pessoas, seu trabalho consiste em fazer palestras motivacionais. E uma das coisas interessantes, já que faz analogia da vida de cada um como se fosse uma mochila, é que o espectador pode começar, sem prestar atenção, a fazer os exercícios que o personagem ensina na tela, colocando na mochila o que é essencial em sua vida e sentindo o peso dela nas costas. Ou que é preciso esvaziar a mochila antes de enchê-la novamente. Simples.
Em uma das viagens, Ryan conhece o que seria, aparentemente, sua versão feminina (ao decorrer da fita, porém, veremos outra coisa). Isso porque Alex (Vera Farmiga) é uma executiva que vive em Chicago e passa boa parte de seus dias viajando. Depois do primeiro dia, os dois começam a trocar o itinerário de suas agendas para se encontrarem casualmente em algum hotel. Uma das cenas mais bizarras que protagonizam juntos é quando ambos começam a disputar quem tem mais cartões fidelidade que o outro, além de trocarem experiências sobre o assunto. Ryan, aliás, tem a meta de chegar a 10 milhões de milhas voadas e ser o sétimo passageiro a conseguir o feito.
Seu destino começa a querer mudar, porém, quando seu chefe contrata uma funcionária, Natalie (Anna Kendrick), que criou uma maneira de demitir os funcionários via internet, em vez de gastar dinheiro com passagens aéreas, hotéis, aluguel de carros etc. A partir de então, ele vai carregá-la a tiracolo e mostrar como faz para não ter apego a nada.
Sobre demissões, o diretor Lars von Trier mostrou no filme "O Grande Chefe", quando o dono de uma empresa pretende vendê-la, mas para não mostrar aos seus funcionários seu caráter, precisa de um chefe fictício e, então, contrata um ator para desempenhar o papel do big boss para levar a culpa de mau caráter.
Clooney, que vem se tornando melhor ator a cada produção, mergulha de cabeça neste filme e mostra que está bem à vontade no papel. A cada cena, convence o espectador sobre sua opção, além de mostrar confiança ao funcionário que está demitindo. Afinal de contas, ele vai lá, se apresenta, dispensa a pessoa e lhe entrega um manual sobre os procedimentos a serem seguidos. Daí pra frente, nunca mais verá o demitido e segue para demitir outros, e outros.
A química com Vera funciona e ambos têm o timing perfeito para o roteiro que, além de ser um leve drama, tem um pouco de humor. Sem citar o nome, a fita faz uma referência à produção francesa "O Fabuloso Destino de Amélie Poulain", quando a protagonista pede a uma amiga para fotografar seu duende em diversos locais.
Além de discutir sobre o desapego, "Amor Sem Escalas", escrito a quatro mãos por Jason Reitman e Sheldon Turner, coloca em questão relacionamentos, principalmente quando Natalie pergunta por que Ryan não pensa em se casar e pede para ela convencê-lo do contrário. Então, ele afirma que o matrimônio é dispensável para o estilo de vida que escolheu. A fita retrata também de maneira sensível o momento em que vivemos, os avanços tecnológicos e as falhas de comunicação. "Amor Sem Escalas" é para ver e depois refletir, é para desfrutar das belas cenas, dos ensinamentos do protagonista, de se identificar com a história. E depois tocar a vida e sempre se questionar sobre o porquê das coisas.
Se o livro "Up in the Air", de Walter Kirn, não tivesse sido lançado em 2001, poderíamos pensar que o roteiro para o filme homônimo (mas que no Brasil está sendo chamado de "Amor Sem Escalas") foi escrito especialmente para um ator: George Clooney.
Ora, quem acompanha a carreira e um pouco que seja de sua vida pessoal sabe que se trata de um bon vivant de 48 anos, solteiro, que talvez nem pense em se casar. Assim é Ryan Bingham, personagem vivido por Clooney neste longa-metragem. Ao invés de ser ator e viajar por conta das filmagens, Ryan é executivo de uma empresa e sua função é viajar por todas as cidades dos Estados Unidos para demitir pessoas. Ou seja, ele é pago por empresas que terceirizam seu "trabalho sujo", que é encarar um funcionário de alguma instituição para demiti-lo, sem comentar os motivos.
Embora a fita não situe o espectador da época em que se passa, é fácil perceber que enfoca um período de crise econômica e, claro, pós-11 de setembro. E para escolher os personagens que vão interpretar os que foram demitidos, foi realizada pesquisa com diversas pessoas que passaram pelo drama. De fato, parece real. A maneira como esses depoimentos são mostrados na tela pelo diretor Jason Reitman (de "Juno") parece um documentário.
Um trabalho como esse (o de demitir pessoas), portanto, não poderia ser feito por alguém senão por uma pessoa que não se apega a nada: seja família, casa ou amor. Como diz o personagem, sua casa é no ar, pois ele se sente bem voando entre um destino e outro carregando apenas uma mala de mão, que é capaz de arrumar em minutos.
Além de demitir pessoas, seu trabalho consiste em fazer palestras motivacionais. E uma das coisas interessantes, já que faz analogia da vida de cada um como se fosse uma mochila, é que o espectador pode começar, sem prestar atenção, a fazer os exercícios que o personagem ensina na tela, colocando na mochila o que é essencial em sua vida e sentindo o peso dela nas costas. Ou que é preciso esvaziar a mochila antes de enchê-la novamente. Simples.
Em uma das viagens, Ryan conhece o que seria, aparentemente, sua versão feminina (ao decorrer da fita, porém, veremos outra coisa). Isso porque Alex (Vera Farmiga) é uma executiva que vive em Chicago e passa boa parte de seus dias viajando. Depois do primeiro dia, os dois começam a trocar o itinerário de suas agendas para se encontrarem casualmente em algum hotel. Uma das cenas mais bizarras que protagonizam juntos é quando ambos começam a disputar quem tem mais cartões fidelidade que o outro, além de trocarem experiências sobre o assunto. Ryan, aliás, tem a meta de chegar a 10 milhões de milhas voadas e ser o sétimo passageiro a conseguir o feito.
Seu destino começa a querer mudar, porém, quando seu chefe contrata uma funcionária, Natalie (Anna Kendrick), que criou uma maneira de demitir os funcionários via internet, em vez de gastar dinheiro com passagens aéreas, hotéis, aluguel de carros etc. A partir de então, ele vai carregá-la a tiracolo e mostrar como faz para não ter apego a nada.
Sobre demissões, o diretor Lars von Trier mostrou no filme "O Grande Chefe", quando o dono de uma empresa pretende vendê-la, mas para não mostrar aos seus funcionários seu caráter, precisa de um chefe fictício e, então, contrata um ator para desempenhar o papel do big boss para levar a culpa de mau caráter.
Clooney, que vem se tornando melhor ator a cada produção, mergulha de cabeça neste filme e mostra que está bem à vontade no papel. A cada cena, convence o espectador sobre sua opção, além de mostrar confiança ao funcionário que está demitindo. Afinal de contas, ele vai lá, se apresenta, dispensa a pessoa e lhe entrega um manual sobre os procedimentos a serem seguidos. Daí pra frente, nunca mais verá o demitido e segue para demitir outros, e outros.
A química com Vera funciona e ambos têm o timing perfeito para o roteiro que, além de ser um leve drama, tem um pouco de humor. Sem citar o nome, a fita faz uma referência à produção francesa "O Fabuloso Destino de Amélie Poulain", quando a protagonista pede a uma amiga para fotografar seu duende em diversos locais.
Além de discutir sobre o desapego, "Amor Sem Escalas", escrito a quatro mãos por Jason Reitman e Sheldon Turner, coloca em questão relacionamentos, principalmente quando Natalie pergunta por que Ryan não pensa em se casar e pede para ela convencê-lo do contrário. Então, ele afirma que o matrimônio é dispensável para o estilo de vida que escolheu. A fita retrata também de maneira sensível o momento em que vivemos, os avanços tecnológicos e as falhas de comunicação. "Amor Sem Escalas" é para ver e depois refletir, é para desfrutar das belas cenas, dos ensinamentos do protagonista, de se identificar com a história. E depois tocar a vida e sempre se questionar sobre o porquê das coisas.
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