O
PRIMEIRO DIA DA MINHA VIDA (Il Primo
Giorno Della Mia Vita). Itália,
2023. Direção: Paolo Genovese. Elenco: Toni Servillo, Valerio Mastandrea,
Marguerita Buy, Sara Serraiocco, Gabriele Cristini. 121 min.
É raro
que o autor de um romance se torne também o diretor do filme que adapta o texto
literário. Essa é uma das
características de “O Primeiro Dia da Minha Vida”, de Paolo Genovese.
Há
muitas outras especificidades no filme, que parte de uma questão que nos ocupa
ao longo de toda a vida. O que acontece
após a morte? Esse assunto é,
geralmente, muito explorado pela filosofia e pelas religiões. Frequentemente, envolve questões morais e a
expectativa por uma imortalidade. O
trabalho de Paolo Genovese não vai por aí.
Trilha um caminho mais original sobre o tema. Mais leve, também, mas não se trata
exatamente de uma comédia. É uma
fantasia que nos leva a uma reflexão bastante interessante sobre a vida e a
forma como lidamos com seus desígnios e suas agruras. Por exemplo, quem nunca pensou em como segue
o mundo quando eu não estiver mais aqui?
Se faz alguma diferença a minha ausência?
Após
um suicídio, o que vem em seguida? Quero
dizer, imediatamente após, na primeira semana que se segue ao fato. Em primeiro lugar, encarar o que se fez e o
que motivou o ato. Buscar uma reparação
seria algo possível? Imaginemos que sim
e o processo dessa semana seja conduzido por um homem misterioso, uma figura
misteriosa, que não é Deus, nem demônio, nem anjo, nada disso. No entanto, tem um papel fundamental nesse
momento.
Diante
de quatro suicídios ocorridos na noite anterior, o condutor do processo vai
reunir um comunicador famoso, da área de motivação, uma atleta jovem,
vice-campeã na ginástica de competição, que por uma queda acaba numa cadeira de
rodas, uma mulher madura, inconsolável com a morte da filha e um menino de 12
anos, diabético, que comeu 40 donuts
intencionalmente e não tomou sua insulina habitual.
Toni
Servillo faz o homem misterioso de uma forma contida, como convém ao
personagem. E explora bem o inusitado da
figura. Napoleone, o motivador
desmotivado com a própria vida, papel de Valerio Mastandrea, exige dele uma
ambiguidade constante e uma rejeição à situação em que está. Que é central para a trama.
Marguerita
Buy, no papel de Arianna, explora muito bem o lado materno e acolhedor, mesmo
em contexto tão angustiado e desesperador.
Sara Serraiocco, a atleta Emilia, compõe um papel que nos remete à vida
em suspenso, com muita clareza. E o
jovem Danielle, de 12 anos, vivido por Gabriele Cristini, compõe o quarteto dos
suicidas com alguma leveza e até toques de humor, em meio à circunstância
trágica de rejeição de pai e mãe.
Acompanha-se
o filme com muito interesse, porque é um modo novo de abordar o assunto. E porque a armadilha do moralismo e da
literatura de autoajuda está bem perto, mas não triunfa. Afinal, é sempre possível olhar os assuntos
triviais por outra ótica, buscando um novo ângulo, desviando do que não
interessa tratar. Ainda bem. Ponto para o romancista cineasta.
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