domingo, 7 de maio de 2023

RODEO

Antonio Carlos Egypto

 

 



RODEO (Rodeo), França, 2022.  Direção: Lola Quivoron.  Elenco: Julie Ledru, Yanis Lafki, Antonia Buresi, Cody Schroeder.  110 min.

 

O primeiro apelo que “Rodeo” tem é bem evidente.  Trata-se de um filme para quem gosta de motos, sabe valorizar os modelos e estilos delas e, principalmente, curte vê-las em ação, tomadas pela velocidade.  As disputas e exibições de manobras arriscadas com as motos, como equilibrá-las numa roda só em velocidade, ocupam várias sequências de “Rodeo” desde o seu início.

 

Entretanto, o filme vai se revelando bem mais interessante do que isso, à medida em que evolui sua narrativa.  A protagonista Júlia (Julie Ledru) é uma garota que quer entrar nesse mundo, dominantemente masculino.  Mais do que isso: machista e misógino.

 

Outro aspecto importante: estamos falando de um grupo social empobrecido e marginal.  Eles roubam motos, ou peças, montam e ganham dinheiro nessa atividade ilegal, coordenada por um presidiário, de dentro da cadeia, por meio de smartphones.

 

Esse caráter marginal do negócio torna bem mais sórdida a ilegalidade dos rachas e exibições de proeza dos encontros das motos. E vamos conhecendo as disputas internas, a agressividade, a violência e as vulnerabilidades desse grupo de rapazes.  O que, em princípio, deveria tornar mais difícil a entrada de Júlia, a única mulher no grupo.  As outras mulheres que aparecem são apenas companheiras, namoradas, andando na garupa das motos.  A única que se coloca como equiparação aos homens é Júlia.  E para ela isso não é difícil: além de dominar o manejo das motos, ela é uma exímia ladra de motos da burguesia, o que lhe abre um flanco importante de poder junto ao grupo e ao personagem encarcerado Domino (que só aparece como voz).

 




Ocorre que o preconceito é mais forte e fala mais alto do que a própria realidade, ali palpável.  Júlia será foco de rejeição, agressividade verbal, desrespeito ao seu corpo, ataques físicos e reações de inveja.  É bom que se diga que ela, como personagem, não é apenas uma vítima.  Ela joga o jogo e bebe a pinga, como se diz popularmente.  Equipara-se, em grande medida, às características do grupo em que se incluiu, mesmo que a contragosto de vários.  Sendo acolhida por alguém do grupo, como Kais (Yanis Lafki), ou por algumas pessoas, como Ofélia (Antonia Buresi), mulher de Domino, e seu filho, Kaylan (Cody Schroeder).

 

Resumo da ópera: o filme da diretora Lola Quivoron alcança uma visão feminista bem realista e escorada numa compreensão dos aspectos sociais muito clara.  Revela-se, assim, algo bem mais profundo do que aparentava ser.  O que pode interessar a muito mais gente do que só àqueles que amam e curtem motocicletas.



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