Antonio Carlos Egypto
RODEO
(Rodeo), França, 2022. Direção: Lola Quivoron. Elenco: Julie Ledru, Yanis Lafki, Antonia
Buresi, Cody Schroeder. 110 min.
O
primeiro apelo que “Rodeo” tem é bem evidente.
Trata-se de um filme para quem gosta de motos, sabe valorizar os modelos
e estilos delas e, principalmente, curte vê-las em ação, tomadas pela
velocidade. As disputas e exibições de
manobras arriscadas com as motos, como equilibrá-las numa roda só em
velocidade, ocupam várias sequências de “Rodeo” desde o seu início.
Entretanto,
o filme vai se revelando bem mais interessante do que isso, à medida em que
evolui sua narrativa. A protagonista
Júlia (Julie Ledru) é uma garota que quer entrar nesse mundo, dominantemente
masculino. Mais do que isso: machista e
misógino.
Outro
aspecto importante: estamos falando de um grupo social empobrecido e
marginal. Eles roubam motos, ou peças,
montam e ganham dinheiro nessa atividade ilegal, coordenada por um presidiário,
de dentro da cadeia, por meio de smartphones.
Esse
caráter marginal do negócio torna bem mais sórdida a ilegalidade dos rachas e exibições de proeza dos
encontros das motos. E vamos conhecendo as disputas internas, a agressividade,
a violência e as vulnerabilidades desse grupo de rapazes. O que, em princípio, deveria tornar mais
difícil a entrada de Júlia, a única mulher no grupo. As outras mulheres que aparecem são apenas
companheiras, namoradas, andando na garupa das motos. A única que se coloca como equiparação aos
homens é Júlia. E para ela isso não é
difícil: além de dominar o manejo das motos, ela é uma exímia ladra de motos da
burguesia, o que lhe abre um flanco importante de poder junto ao grupo e ao
personagem encarcerado Domino (que só aparece como voz).
Ocorre
que o preconceito é mais forte e fala mais alto do que a própria realidade, ali
palpável. Júlia será foco de rejeição,
agressividade verbal, desrespeito ao seu corpo, ataques físicos e reações de
inveja. É bom que se diga que ela, como
personagem, não é apenas uma vítima. Ela
joga o jogo e bebe a pinga, como se diz popularmente. Equipara-se, em grande medida, às
características do grupo em que se incluiu, mesmo que a contragosto de
vários. Sendo acolhida por alguém do grupo,
como Kais (Yanis Lafki), ou por algumas pessoas, como Ofélia (Antonia Buresi),
mulher de Domino, e seu filho, Kaylan (Cody Schroeder).
Resumo
da ópera: o filme da diretora Lola Quivoron alcança uma visão feminista bem
realista e escorada numa compreensão dos aspectos sociais muito clara. Revela-se, assim, algo bem mais profundo do
que aparentava ser. O que pode
interessar a muito mais gente do que só àqueles que amam e curtem motocicletas.
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