Antonio Carlos Egypto
A
BALEIA (The Whale). Estados Unidos, 2022. Direção: Daren Aronofsky. Elenco: Brendan
Fraser, Hung Chau, Sadie Sink, Samantha Norton, Ty Simpkis. 117 min.
A
questão da obesidade mórbida que o personagem Charlie (Brendan Fraser) de “A
Baleia” nos apresenta é muito importante e muito séria. Quando uma pessoa pesa acima de 200 quilos e
se torna incapaz de sair do sofá ou fica dependente de andar com andador e mesmo
assim com muita dificuldade, ela fica presa em casa, paralisa sua vida,
torna-se vítima de preconceito, silencia e se torna invisível à sociedade. Uma espécie de morte em vida, de gravíssimas
consequências. E que, geralmente,
envolve muito sentimento de culpa, ainda que outros fatores além da alimentação
desmedida contribuam para isso. O
aspecto emocional é, via de regra, o detonador do excesso alimentar e a
persistência nele revela uma dificuldade que tem diversas origens, mas, de
qualquer modo, demonstra uma incapacidade que é dolorida.
Charlie
foi – é – professor de literatura inglesa e ainda trabalha on line com os alunos, porém, com a câmera desligada, supostamente
quebrada ad eternum. De outro modo, poderia ser difícil continuar
a realizar esse trabalho.
Charlie
depende de uma enfermeira, que o acompanha na maior parte do tempo e garante
sua subsistência. Ela é Liz, belo
desempenho de Hung Chau, indicada ao Oscar de atriz coadjuvante. Outra personagem da história de Charlie é sua
filha Elie (Sadie Sink), de quem ele descuidou e agora tenta resgatar, que é
uma adolescente irritante, que age com crueldade, mas tem lá seus motivos para
ser assim. Ainda aparece a ex-mulher
dele, Mary (Samantha Norton). Circula
pela casa, também, Thomas (Ty Simpkis), um militante religioso, digamos, pouco
convencional.
A
dramaturgia que aqui se desenrola é fruto da peça teatral homônima, de Samuel
D. Hunter, que é também roteirista do filme.
Aqui não há a preocupação de disfarçar essa origem nem de ampliá-la. O filme se passa todo no apartamento mal
iluminado, de onde Charlie não sai. No
mesmo ambiente escuro, que é uma marca dominante da fotografia, experimentamos
o mal-estar dessa vida sufocante, claustrofóbica.
O
diretor Daren Aronofsky já é conhecido pelo seu pendor para o dramalhão pesado,
carregado emocionalmente, como vimos em “Cisne Negro”, de 2010, e em “Réquiem
para um sonho”, de 2000. Aqui não é
diferente, o que só carrega nas tintas de um filme que seria pesado, de
qualquer modo. Aronofsky acentua esse
peso. Em contrapartida, Brendan Fraser,
ótimo ator, com boa chance no Oscar, atua com comedimento e humildade,
humanizando o seu personagem, sem excessos, o que torna o filme mais palatável. De qualquer maneira, não é uma obra a que se
assista sem alguma dose de sofrimento.
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