Antonio Carlos Egypto
O FESTIVAL DO AMOR (Rifkin’s Festival). Estados Unidos/Espanha, 2020. Direção e roteiro: Woody Allen. Elenco: Wallace Shawn, Gina Gershon, Louis Garrel, Elena
Anaya, Christoph Waltz, Sergi López. 92 min.
Para abrir o ano cinematográfico de
2002, entra em cartaz nos cinemas “O Festival do Amor”, uma comédia
romântica. Mais uma? Se isso não o entusiasma, lembre-se apenas de
que o diretor e roteirista dessa comédia é Woody Allen. E dele não se esperam coisas óbvias ou
batidas. Nem sempre são produtos
geniais, ninguém é genial o tempo todo, mas não faltam inovação e inteligência
no seu trabalho.
Em “O Festival do Amor”, a trama que
envolve Mort Rifkin (Wallace Shawn), escritor, crítico e professor de cinema
clássico, sua mulher Sue (Gina Gershon), jornalista e assessora de imprensa, o
cineasta Philippe (Louis Garrel) e a médica dra. Rojas (Elena Anaya), tem os
elementos habituais do gênero: ciúme, competição, decepções, brigas,
traições. Só que tudo isso transpirando
cinema por todos os poros.
Para começar, porque toda a ação se
passa durante o prestigioso Festival de San Sebastian, na Espanha. Lá se apresentam, se projetam e se discutem
os filmes. Os egos se manifestam fortemente,
as vaidades, a moda, a busca do sucesso tanto artístico quanto econômico. Tudo isso está contemplado na narrativa.
Os fatos, que estão sendo vividos
pelos personagens, na realidade, na imaginação ou no sonho, estão expressos em
“recriações” de cenas famosas de filmes essenciais para a história do
cinema. Assim, Woody Allen insere “O
Cidadão Kane”, de Orson Welles, o “8 ½”, de Fellini, “Jules e Jim”, de
Truffaut, “Persona” e “O Sétimo Selo”, de Bergman, “O Anjo Exterminador”, de
Buñuel, e “O Acossado”, de Godard. Uma
festa para os cinéfilos. E ele, claro,
constrói essas refacções em preto e branco, dentro de seu filme colorido. Permito-me lembrar-lhes de que devemos em
grande parte a Woody Allen o sucesso da empreitada de combater e abolir a
infeliz ideia, que ganhava força, de colorizar os filmes clássicos. Alguns foram feitos e o resultado é
lamentável. Mais um ponto a favor de
Allen na história do cinema, além de seus filmes.
O “O Festival do Amor” é também uma
bela homenagem à cidade de San Sebastian.
Woody Allen tem se dedicado a criar suas tramas em algumas das mais
bonitas cidades do mundo. E, segundo
ele, San Sebastian é uma delas. A julgar
pela fotografia e pelos lugares destacados no filme, deve ser mesmo. O filme estimula a conhecer San Sebastian e o
seu importante festival. Como é óbvio, “O
Festival do Amor” estreou no Festival de San Sebastian.
O novo filme de Allen é, portanto,
muito atraente para quem curte ou trabalha com cinema, para quem gosta de ver a
beleza das cidades e para quem gosta de uma pegada romântica.
O trabalho dos atores e atrizes do
filme é de primeira. Os protagonistas
estão muito bem, esbanjando talento e envolvimento com a história. Os coadjuvantes não ficam atrás, deixando sua
marca, como a morte (Christoph Waltz) na encenação de “O Sétimo Selo”, por
exemplo. É um filme leve, simpático, bem
construído. Mostra que Woody Allen continua sendo uma referência, em matéria de
cinema.
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