Antonio Carlos Egypto
UNDINE (Undine), Alemanha, 2020.
Direção e roteiro: Christian Petzold.
Elenco: Paula Beer, Franz Rogowski, Maryam Zaree, Jacob Matschenz. 90 min.
Undine é uma mulher que trabalha como
historiadora, na cidade de Berlim. Faz
encontros e palestras sobre o desenvolvimento urbano da cidade ao longo da
história e nos tempos mais recentes com a integração, pós queda do muro, da
Berlim Ocidental e Oriental. Por meio de
maquetes, ela explica aos estudiosos e visitantes de várias partes do mundo
todo o processo, com didatismo de professora.
Ocorre que Undine é também um ser da
água e isso fica muito claro no seu relacionamento com um escafandrista com
quem ela tem uma relação amorosa muito forte.
Que flerta com a morte.
Obviamente, na água. Tanto ela quanto ele passam por situações-limite de
sobrevivência. Os sonhos exercem papel
decisivo nessa questão. Um boneco
escafandrista representa visualmente esse mundo aquático que envolve a personagem
central do filme. Assim como um aquário
que se rompe, por exemplo.
Ela, como um ser aquático, também tem
consequências quando em sua vida na terra se envolve com um homem que não é da
água. E aí a morte tem um peso
decisivo. Ela terá que matar o homem, se
ele a trair.
Tudo isso remete ao mito de Ondine ou Ondina, mas numa das narrativas que encontrei é ela que morre por
ter sido traída. Neste caso, o filme faz
uma correção feminista da história.
Porque, afinal, se ela é que tivesse de morrer, estaríamos
culpabilizando a vítima, só por ser mulher.
Bem, mas o filme de Christian Petzold
desenvolve essa história fantástica com belas sequências e sempre num registro
sério. Uma questão mitológica tratada
como drama, que traz sentimentos à tona, sofrimentos palpáveis, traições,
omissões que rompem vínculos, com o espectro da morte sempre presente.
O elenco dá conta dessa situação de
forma admirável, nos colocando num contexto mágico, porém, eivado de
realidade. Destaque para a protagonista
Paula Beer, premiada como melhor atriz no Festival de Berlim, assim como a
produção, que recebeu lá o prêmio da crítica Fipresci de melhor filme.
O fantástico sempre exerceu uma grande
atração no cinema. Muitas vezes como
brincadeira, humor ou musical. Ou no
registro de horror e de suspense, que tanto interessa às pessoas. Na forma de romance e drama com que o
fantástico é tratado em “Undine”, conseguimos nos envolver com personagens da
água como se eles fizessem parte do nosso dia-a-dia. Sem estranheza. Coisas que fazem parte da imaginação, mas só
o cinema é capaz de concretizar.
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