Antonio Carlos Egypto
Questões femininas recebem tratamento
cinematográfico relevante em três filmes, dois, dirigidos por mulheres e um,
por homem, todos novos diretores, em seu primeiro longa-metragem.
LUA
AZUL, Romênia. Direção: Alina Grigore. Elenco: Ioana Chitu, Mircea Postelnicu,
Mircea Silaghi, Vlad Ivanov. 90 min.
Uma família disfuncional, em que as
pessoas se relacionam de forma ríspida, agressiva, umas mandando nas outras, vivendo
em ambiente rural. As evidências mostram
que a opressão maior se dirige às mulheres, que não dispõem de poder sobre a
propriedade e o trabalho na fazenda, nem liberdade sobre a sua própria vida
pessoal. Teoricamente, poderiam sair de
lá, se quiserem, mas serão vistas como traidoras, cujo retorno será, então,
indesejável. Mesmo que o motivo da saída
seja querer estudar em Bucareste. Pelo
valor libertador do conhecimento e para respirar os ares da cidade grande. Quem já se comporta de forma a realizar
alguns enfrentamentos com os homens da casa, é vista e tachada como
descontrolada, perdida, louca. A mulher
nunca pode ser forte e inteligente num mundo marcado pelo machismo estrutural e
conceitualmente apegado a preconceitos misóginos. O tom duro do drama, que praticamente não
comporta nenhum afeto, incomoda tanto quanto o nítido esmagamento da liberdade
feminina, que ele mostra o tempo todo.
Não é, porém, um filme sem esperança.
Essas mulheres lutam com as armas que têm, se apoiam e tentam vencer esse
processo de desumanização que estão vivendo.
As figuras masculinas ou estão atuando desesperadamente para se manter
no poder pela atitude violenta ou se incomodam profundamente com virtudes
femininas, como a inteligência, o conhecimento e a ousadia que os
humilham. Boa estreia da diretora Alina
Grigore.
FORTE
CLARÃO (Destello Bravio). Espanha.
Direção: Ainhoa Rodriguez.
Elenco: Guadalupe Gutiérrez, Carmen Valverde, Isabel Mendonza. 96 min.
Aqui as mulheres se veem sem
perspectivas, numa pequena cidade rural suspensa no tempo, que mingua ao invés
de crescer. A opressão ocorre pela
apatia, pela falta de possibilidades de ser e de viver com prazer, realizando
desejos, construindo uma existência interessante. Mas a busca de vivências libertadoras está
por trás desse cotidiano destruidor, pela esperança de um clarão muito forte e
poderoso, capaz de mudar tudo. Enquanto
ele não vem, é a igreja, com seus santos, procissões, imagens de sacrifício,
que ocupa a cena. E casamentos que são
verdadeiras prisões. O que domina aqui é
o tédio, até que a fantasia possa se realizar.
Uma boa imagem desse mundo que oprime pela ausência envolve a todos, mas
mais fortemente as mulheres, é o que o filme da diretora Ainhoa Rodriguez nos
oferece em sua estreia.
A
TAÇA QUEBRADA (La Taza Rota). Chile.
Direção: Esteban Cabezas. Elenco:
Juan Pablo Miranda, María Jesús González, Moisés Ângulo, Roman Cabezas. 73 min.
O filme chileno “A Taça Quebrada”
focaliza um problema comum e bem dramático: o da separação de um casal, com um
filho, em que o marido não consegue aceitar e superar a separação, enquanto a
esposa reconstrói sua vida com outro homem.
O filho, ainda pequeno, é o elo que os liga e é sempre uma oportunidade
para que o pai entre na casa onde morou, se imiscua na vida da mulher e tente
reconquistá-la a qualquer preço. Bem, o
preço a pagar poderia ser terrível, descambar para a violência doméstica contra
a mulher, produzir dramas que acabem em tragédia. Não é o caso aqui. O melodrama se desenvolve com baixa densidade,
menos interessado nos gritos do que na sutileza dos sentimentos e atitudes,
tanto dele, como dela, que está presa numa teia da qual não consegue se
soltar. Evidencia-se a vulnerabilidade
da mulher nessas situações, mesmo que o homem seja o elo mais fraco da
história. Um bom roteiro do diretor
Esteban Cabezas, em parceria com Álvaro Ortega, garante o interesse dessa
estreia promissora.
@mostrasp
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