Antonio Carlos Egypto
SUK SUK, UM AMOR EM SEGREDO (Twilight’s kiss). Hong Kong, 2019. Direção e roteiro: Ray Yeung. Com Tal Bo Pak, Ben Yuen Hoi, Patra Au Ching,
Sluyea Lo Wan. 92 min.
“Suk Suk”, o filme chinês (de Hong Kong), aborda a questão homossexual de um ângulo ainda pouco explorado: o da velhice. Focaliza dois personagens da Terceira Idade, que construíram suas vidas dentro da chamada heteronormatividade. Ambos se casaram, um permanece vivendo com sua esposa, filhos e netos, é taxista. O outro se divorciou e se aposentou, mas também convive com filho, nora e neta. Um encontro casual entre ambos motiva o desejo, mas evolui para um envolvimento amoroso, complicado de ser administrado.
A aposentadoria e a velhice podem
abrir novas portas e possibilidades, no entanto, no caso deles, um romance
parece ser um pouco demais. Seria
possível desafiar valores para encontrar-se plenamente, poder ser quem se é e
encontrar a felicidade?
O trailler
de “Suk Suk” nos lembra de que, em Hong Kong, o casamento homossexual não é
reconhecido, nem há qualquer lei que os proteja contra a discriminação. A homofobia não é criminalizada. Suponho que a figura da união estável também
não exista na legislação de lá.
Diante da negação da homossexualidade
no contexto social, o envelhecimento é um problema que se manifesta das mais
variadas maneiras entre os gays na idade mais madura. O futuro fica incerto e sujeito a
humilhações.
O filme caminha por esse universo de
questões, colocando um dos protagonistas em contato com um grupo de apoio que
reúne homossexuais idosos para compartilhar seus problemas e dificuldades. Mesmo em busca de reconhecimento e
atendimento por parte da lei ou do governo, muitos não querem se expor. E a solução que está em questão é a da
reivindicação de uma casa de repouso exclusiva para homens gays, onde eles
poderiam se expressar livremente.
A questão religiosa, seja budista,
seja cristã, também entra nesse contexto.
A finitude da vida, o que virá depois, como encontrar alguém depois da
morte e a maneira como as religiões lidam com a sexualidade gay, mobilizam
sentimentos entre os dois apaixonados e na comunidade idosa, também.
Ao mostrar o relacionamento dos
protagonistas que se envolvem emocionalmente e ao nos pôr em contato com as
demandas dos idosos gays, Ray Yeung tece uma trama de sentimentos, tentados,
experimentados, reprimidos, sutilmente modulados, que é bonita de se ver. Tem cuidado, tem delicadeza, tem medos, tem
escolhas calculadas. E, ao mesmo tempo,
revela a insensibilidade social para um drama muito verdadeiro. Envelhecer em família, com afeto, é uma
coisa. Sozinho, isolado, esquecido, é
outra. Ou, ainda, discriminado com seu
parceiro. Às vezes, com dificuldades financeiras
reais, embora perceba-se que o nível, mesmo dos pobres, é muito melhor do que o
que se vê por aqui. A miséria não chega
a ser material, está na crueldade do preconceito.
Um elenco de atores e atrizes muito
bons passa esse drama sutil, e talvez pouco conhecido, ao espectador com muita
competência. Num estilo low profile, as revelações vão se dando
pouco a pouco, em detalhes, expressões, palavras e gestos. A discreção dos figurinos e música suave
embalam o romance. O roteiro deu origem
a uma narrativa bem montada e dirigida com sutileza oriental.
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