domingo, 5 de setembro de 2021

SUK SUK

Antonio Carlos Egypto

 



 

SUK SUK, UM AMOR EM SEGREDO (Twilight’s kiss).  Hong Kong, 2019.  Direção e roteiro: Ray Yeung.  Com Tal Bo Pak, Ben Yuen Hoi, Patra Au Ching, Sluyea Lo Wan.  92 min.

 

“Suk Suk”, o filme chinês (de Hong Kong), aborda a questão homossexual de um ângulo ainda pouco explorado: o da velhice.  Focaliza dois personagens da Terceira Idade, que construíram suas vidas dentro da chamada heteronormatividade.  Ambos se casaram, um permanece vivendo com sua esposa, filhos e netos, é taxista.  O outro se divorciou e se aposentou, mas também convive com filho, nora e neta.  Um encontro casual entre ambos motiva o desejo, mas evolui para um envolvimento amoroso, complicado de ser administrado.

 

A aposentadoria e a velhice podem abrir novas portas e possibilidades, no entanto, no caso deles, um romance parece ser um pouco demais.  Seria possível desafiar valores para encontrar-se plenamente, poder ser quem se é e encontrar a felicidade?

 

O trailler de “Suk Suk” nos lembra de que, em Hong Kong, o casamento homossexual não é reconhecido, nem há qualquer lei que os proteja contra a discriminação.  A homofobia não é criminalizada.  Suponho que a figura da união estável também não exista na legislação de lá.

 

Diante da negação da homossexualidade no contexto social, o envelhecimento é um problema que se manifesta das mais variadas maneiras entre os gays na idade mais madura.  O futuro fica incerto e sujeito a humilhações.

 

O filme caminha por esse universo de questões, colocando um dos protagonistas em contato com um grupo de apoio que reúne homossexuais idosos para compartilhar seus problemas e dificuldades.  Mesmo em busca de reconhecimento e atendimento por parte da lei ou do governo, muitos não querem se expor.  E a solução que está em questão é a da reivindicação de uma casa de repouso exclusiva para homens gays, onde eles poderiam se expressar livremente.

 



A questão religiosa, seja budista, seja cristã, também entra nesse contexto.  A finitude da vida, o que virá depois, como encontrar alguém depois da morte e a maneira como as religiões lidam com a sexualidade gay, mobilizam sentimentos entre os dois apaixonados e na comunidade idosa, também.

 

Ao mostrar o relacionamento dos protagonistas que se envolvem emocionalmente e ao nos pôr em contato com as demandas dos idosos gays, Ray Yeung tece uma trama de sentimentos, tentados, experimentados, reprimidos, sutilmente modulados, que é bonita de se ver.  Tem cuidado, tem delicadeza, tem medos, tem escolhas calculadas.  E, ao mesmo tempo, revela a insensibilidade social para um drama muito verdadeiro.  Envelhecer em família, com afeto, é uma coisa.  Sozinho, isolado, esquecido, é outra.  Ou, ainda, discriminado com seu parceiro.  Às vezes, com dificuldades financeiras reais, embora perceba-se que o nível, mesmo dos pobres, é muito melhor do que o que se vê por aqui.  A miséria não chega a ser material, está na crueldade do preconceito.

 

Um elenco de atores e atrizes muito bons passa esse drama sutil, e talvez pouco conhecido, ao espectador com muita competência.  Num estilo low profile, as revelações vão se dando pouco a pouco, em detalhes, expressões, palavras e gestos.  A discreção dos figurinos e música suave embalam o romance.  O roteiro deu origem a uma narrativa bem montada e dirigida com sutileza oriental.




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