A
ÚLTIMA LOUCURA DE CLAIRE DARLING (Le
Derniére Folie de Claire Darling).
França, 2018. Direção: Julie
Bertuccelli. Com Catherine Deneuve,
Chiara Mastroianni, Samir Guesmi, Alice Taglioni. 94 min.
Ver Catherine Deneuve e Chiara Mastroianni,
mãe e filha na vida real, e grandes atrizes da telona, atuando juntas no mesmo
filme, já é um bom motivo para ir ao cinema.
“A Última Loucura de Claire Darling”, porém,
tem algo mais a oferecer. A história de
Claire, que decide que sua vida chegou ao fim e resolve se desfazer de todos os
seus ricos, artísticos e sofisticados pertences, a preços meramente simbólicos,
tratada aqui como loucura, pode trazer algumas reflexões interessantes.
Sabe-se que, com o avanço da idade, ocorrem
algumas perdas mentais, lapsos de memória, esquecimentos, o presente fugidio,
aspectos do passado que se borram, coisas assim. Não se trata de diagnóstico de Alzheimer ou
similar. É a perda natural da vida, que
o passar do tempo cobra. No entanto,
trata-se de pessoa lúcida, mais do que isso, inteligente, instruída, de gostos
altamente sofisticados.
O que ocorre é que essa lucidez acaba sendo
parcial. Ou seja, parte dela se perde
nesse processo de deterioração natural.
O uso inadequado e a percepção do valor do dinheiro é um bom exemplo. Coisas são supervalorizadas e pagas
regiamente. Ou bens e valores são esbanjados
sem motivo, ou a partir de uma avaliação precária e imediata, ou, ainda, por
adesão a uma causa, por exemplo, religiosa, discutível.
No caso do filme da diretora Julie
Bertuccelli, é a ideia de que se possa conhecer o dia ou o momento da própria
morte. Antevê-lo sem estar vivendo
nenhuma situação de doença ou dor extremas, é, evidentemente, um delírio, que
gera comportamentos extravagantes, capazes de trazer de volta à pequena aldeia,
onde vive a mãe, uma filha distante, um vínculo complicado. Mãe e filha, belas mulheres, grandes atrizes,
que encarnam com brilho esses papéis.
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