sexta-feira, 3 de maio de 2019

AMANDA

Antonio Carlos Egypto



AMANDA (Amanda).  França, 2018.  Direção: Mikhäel Hers.  Com Vincent Lacoste, Isaure Multrier,  Stacy Martin, Ophélia Kolb. 107 min.


“Amanda” é o nome de uma garota de 7 anos de idade (Isaure Multrier), que terá de encarar uma mudança muito grande de vida, já tão cedo.  Elaborar uma grande perda, realizar novas adaptações e reconstruir a existência é algo exigente demais para uma criança dessa idade, por mais viva e inteligente que ela seja.

Na dimensão do adulto jovem, o filme trabalha a questão da identidade ainda em construção de David, 20 anos, (Vincent Lacoste), que terá de deixar um jeito blasé  de lidar com a vida, quando uma exigência incontornável o fará assumir alguma coisa para a qual decididamente não está preparado.  Seus modestos trabalhos como podador de árvores e entregador de apartamentos alugados para turistas, enquanto tenta conquistar a bela locadora Lena (Stacy Martin), serão atropelados pelo destino.

Destino não é bem a palavra.  O que abala sua vida é um atentado terrorista realizado por um atirador numa praça de Paris, sem motivação conhecida.  Dessas que têm, mesmo, acontecido por lá e em várias outras partes do mundo.  E que de maneira inesperada e violenta atingem a população civil, produzindo o caos na vida das pessoas e na sua comunidade mais próxima.  E gerando medo em todos.

No entanto, a vida sempre continua e, com os recursos que cada um já tem ou procura adquirir, ela se reorganiza, podendo gerar novas descobertas e impulsionar o crescimento das pessoas.  A crise pode realmente produzir novas e surpreendentes situações, que são transformadoras.

“Amanda” é um filme de afetos e de drama, com respiros de leveza, apesar do tema dolorido.  Sua narrativa é envolvente, realista, surpreendente.  Sem pieguismo, sem lições de moral, o que seriam iscas fáceis de serem perseguidas, num assunto como esse.

O elenco tem um ator extraordinariamente natural e convincente, Vincent Lacoste, a quem acompanhamos o tempo todo, vivendo suas aflições, mas também sua forma simples de se relacionar com os outros, numa interpretação em baixo tom, mas sem peso, até alegre.  Entre risonha e envergonhada, eu diria.

A menina Isaure Multrier é viva, exuberante, esperta, mas também capaz de nos transmitir a dor e o incômodo que sente nos momentos mais dramáticos do filme. O elenco é complementado por duas atrizes jovens muito expressivas e de interpretações firmes: Stacy Martin e Ophélia Kolb.  Ao vê-las, no auge da juventude, marcadas por momentos trágicos, o sentimento é de inconformidade com o mundo violento em que vivemos.  Afinal, o filme fala de hoje e da mítica cidade-luz, farol do mundo.





O tradicional cine Belas Artes, em São Paulo, na Rua da Consolação, quase esquina da Avenida Paulista, um dos mais amados cinemas de rua da cidade, já teve de fechar suas portas e precisou contar com um movimento popular e a ajuda dos governos municipal e federal da época, para reabrir.  Agora, que as novas políticas de corte dos órgãos e do governo federais começam a atingir em cheio a cultura, o cinema perdeu o patrocínio da Caixa e estava novamente ameaçado.

Felizmente, chegou-se a um final feliz. O cine Belas Artes recebe, por um período de cinco anos a partir de agora, o patrocínio da cervejaria Petrópolis e passa a incorporar o nome de um de seus principais produtos, a cerveja Petra.  O cinema que, em suas salas, possibilita que muitos filmes menos comerciais permaneçam mais tempo em cartaz e possam ser descobertos, seguirá firme.  Longa vida ao cine Petra Belas Artes!




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