AMANDA (Amanda). França, 2018.
Direção: Mikhäel Hers. Com
Vincent Lacoste, Isaure Multrier, Stacy Martin, Ophélia Kolb. 107 min.
“Amanda” é o nome de uma garota de 7 anos de
idade (Isaure Multrier), que terá de encarar uma mudança muito grande de vida,
já tão cedo. Elaborar uma grande perda,
realizar novas adaptações e reconstruir a existência é algo exigente demais
para uma criança dessa idade, por mais viva e inteligente que ela seja.
Na dimensão do adulto jovem, o filme trabalha
a questão da identidade ainda em construção de David, 20 anos, (Vincent
Lacoste), que terá de deixar um jeito blasé
de lidar com a vida, quando uma
exigência incontornável o fará assumir alguma coisa para a qual decididamente
não está preparado. Seus modestos
trabalhos como podador de árvores e entregador de apartamentos alugados para
turistas, enquanto tenta conquistar a bela locadora Lena (Stacy Martin), serão
atropelados pelo destino.
Destino não é bem a palavra. O que abala sua vida é um atentado terrorista
realizado por um atirador numa praça de Paris, sem motivação conhecida. Dessas que têm, mesmo, acontecido por lá e em
várias outras partes do mundo. E que de
maneira inesperada e violenta atingem a população civil, produzindo o caos na
vida das pessoas e na sua comunidade mais próxima. E gerando medo em todos.
No entanto, a vida sempre continua e, com os
recursos que cada um já tem ou procura adquirir, ela se reorganiza, podendo
gerar novas descobertas e impulsionar o crescimento das pessoas. A crise pode realmente produzir novas e
surpreendentes situações, que são transformadoras.
“Amanda” é um filme de afetos e de drama, com
respiros de leveza, apesar do tema dolorido.
Sua narrativa é envolvente, realista, surpreendente. Sem pieguismo, sem lições de moral, o que
seriam iscas fáceis de serem perseguidas, num assunto como esse.
O elenco tem um ator extraordinariamente
natural e convincente, Vincent Lacoste, a quem acompanhamos o tempo todo,
vivendo suas aflições, mas também sua forma simples de se relacionar com os
outros, numa interpretação em baixo tom, mas sem peso, até alegre. Entre risonha e envergonhada, eu diria.
A menina Isaure Multrier é viva, exuberante,
esperta, mas também capaz de nos transmitir a dor e o incômodo que sente nos
momentos mais dramáticos do filme. O elenco é complementado por duas atrizes
jovens muito expressivas e de interpretações firmes: Stacy Martin e Ophélia
Kolb. Ao vê-las, no auge da juventude, marcadas
por momentos trágicos, o sentimento é de inconformidade com o mundo violento em
que vivemos. Afinal, o filme fala de
hoje e da mítica cidade-luz, farol do mundo.
O tradicional cine Belas Artes, em São Paulo,
na Rua da Consolação, quase esquina da Avenida Paulista, um dos mais amados
cinemas de rua da cidade, já teve de fechar suas portas e precisou contar com
um movimento popular e a ajuda dos governos municipal e federal da época, para
reabrir. Agora, que as novas políticas
de corte dos órgãos e do governo federais começam a atingir em cheio a cultura,
o cinema perdeu o patrocínio da Caixa e estava novamente ameaçado.
Felizmente, chegou-se a um final feliz. O cine
Belas Artes recebe, por um período de cinco anos a partir de agora, o
patrocínio da cervejaria Petrópolis e passa a incorporar o nome de um de seus
principais produtos, a cerveja Petra. O
cinema que, em suas salas, possibilita que muitos filmes menos comerciais
permaneçam mais tempo em cartaz e possam ser descobertos, seguirá firme. Longa vida ao cine Petra Belas Artes!
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