domingo, 13 de janeiro de 2019

MEU QUERIDO FILHO

Antonio Carlos Egypto





MEU QUERIDO FILHO (Weldi).  Tunísia, 2018.  Direção e roteiro: Mohamed Ben Attia.  Com Mohamed Dhrif, Mouna Mejri, Zaharia Ben Ayyed.  104 min.
 

O que o filme tunisiano “Meu Querido Filho’, dirigido por Mohamed Ben Attia, nos mostra é uma relação simbiótica entre pai e filho.  Conta também com a participação da mãe, Nazli (Mouna Mejri), mas de modo mais distanciado e crítico.  Já o pai, Riadh (Mohamed Dhrif), que acaba de se aposentar, vive agora em tempo integral a vida de seu filho único, em vias de prestar o vestibular.  O menino Sami (Zaharia Ben Ayyed), sufocado nessa relação, se comporta como um boi que vai ao matadouro.  Depressivo e sem reação aparente, a não ser as constantes enxaquecas, que denunciam seu mal-estar permanente.  O que só reforça a atitude familiar de viver em função das necessidades do filho.  Como sair dessa enrascada?

O filme dá uma pista: Sami sai correndo de algum lugar para chegar a tempo de ser buscado pelo pai no colégio.  E de lá sai como se tivesse se dedicado às aulas durante aquele período.  Às vésperas do vestibular, desaparece, deixando os pais sem rumo.

Até aí, o processo é compreensível e bem descrito.  A maionese desanda quando a gente fica sabendo que Sami foi para a Síria, em plena guerra, e o pai resolve ir atrás dele.  Estranho esse caminho.  Para se diferenciar e encontrar sua identidade, foi preciso ir em busca de uma forma de terrorismo islâmico?  Por que a Síria?  Para se casar e ter filhos lá?  Mais estranho ainda.  Teria sido convencido a ir lutar, por meio da Internet?  Ou teria sido sequestrado?

A questão assume contornos políticos que complicam a narrativa e flertam com preconceitos e com o uso da velha fórmula: o lado do bem e o lado do mal.




“Meu Querido Filho” conclui bem, depois disso, pois volta ao contexto pessoal e familiar de onde partiu, mas deixa um cheiro de manipulação no ar, que soa incômodo.  E não permite que a trama flua dentro da temática psicológica que nos apresentou.  Elementos exógenos a ela ficam mal explicados, inconvincentes.

O desempenho do elenco é bom, mas a figura do filho demandaria mais nuances interpretativas.  Já o pai é muito convincente na sua atuação, evocando sua dedicação, sua luta interna e seu sofrimento.  Talvez por isso seja mais fácil identificar-se com ele, em que pese a opressão inconsciente que o personagem pratica, do que com o filho, sufocado e inerte.  Bem, isso também dependerá da idade do espectador, por certo.

“Meu Querido Filho” foi exibido na 42ª. Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.  Participam dessa produção bem cuidada os irmãos Dardenne, conceituados cineastas belgas.




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