ANTONIO CARLOS EGYPTO
TRUMAN (Truman), Espanha, 2015. Direção: Cesc Gay. Com Ricardo Darín, Javier Cámara, Dolores
Fonzi e o cão Troilo. 109 min.
Dois amigos de infância, separados geograficamente, e pelo
tempo decorrido, reencontram-se por alguns dias, quando um deles aparece para
uma visita surpresa. Tomás (Javier Cámara) vive no Canadá, com sua família, e
vem encontrar-se com Julian (Ricardo Darín), que vive na Espanha, separado da
mulher, com um filho em outra cidade, em um momento decisivo da vida. O encontro será marcado por muito afeto,
estranhezas, cobranças, disputas e também muita solidariedade. É um filme que
celebra a diversidade de pessoas e situações, buscando entender, não julgar. E
como isso pode ser difícil nos relacionamentos humanos!
O foco da narrativa está numa questão basilar: podemos
manejar e controlar a nossa própria vida, mantendo as rédeas até seu último
instante e garantindo até mesmo situações posteriores a ela mesma? Que domínio podemos ter sobre a própria
morte? Qual a melhor maneira de se
despedir da vida? E como nossas decisões
podem afetar os outros? Que direito
temos de levá-los a compartilhar de nossos desejos fúnebres? Quais são esses limites?
Essa pode ser uma discussão de caráter filosófico, mas
comporta também coisas bem prosaicas.
Uma delas: com quem ficaria meu cachorro, velho e grande amigo, que vai
sentir muito a minha falta? Isso exige
uma cuidadosa seleção de a quem caberiam esses cuidados na minha ausência, na
falta de um sucessor, digamos, natural.
Não escolhi esse exemplo à toa. “Truman”, o título do filme, é o nome do
cachorro em questão, o que mostra sua importância para a trama. O papel cabe ao cão Troilo, que tem o privilégio
de ter como parceiros de desempenho dois atores magníficos.
Ricardo Darín é um dos mais talentosos atores de cinema na
atualidade. Não só do cinema argentino,
mas do mundial. O espanhol Javier Cámara tem uma expressividade e um senso de
humor que lhe permitem construir personagens cheios de humanidade e
sutileza. O convívio de ambos na telona
é impactante.
O diretor tem especial interesse em mostrar questões humanas num nivel mais complexo, inesperado, surpreendente, algumas vezes constrangedor. E o faz mesclando drama e humor de forma muito eficiente.
Em 2012, Cesc Gay
dirigiu “O Que os Homens Falam”, ótimo filme, que também contou com a
participação de Ricardo Darín e Javier Cámara no elenco. Mas eles não contracenavam no mesmo
episódio. O roteiro original coube ao
diretor e seu parceiro também em “Truman”, Tomás Aragay. Parcerias bem
sucedidas que se repetem.
“Truman” foi o grande vencedor da 30ª. edição do Prêmio Goya
(O Oscar espanhol). Levou nada menos que os prêmios de melhor
filme, diretor, roteiro original e para os atores, protagonista e coadjuvante.
Além de prêmios em outros festivais, como o de San Sebastian, pela atuação de
Ricardo Darín.
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