Antonio Carlos Egypto
CHATÔ. Brasil, 2105. Direção: Guilherme Fontes. Com Marco Rica, Andréa Beltrão, Paulo Betti, Leandra Leal, Eliane Giardini, Gabriel Braga Nunes, Letícia Sabatella. 102 min.
O filme brasileiro mais esperado da história foi ”Chatô”, de Guilherme Fontes, inspirado em livro homônimo de Fernando Morais. Foram cerca de vinte anos de espera, desde a concepção do projeto. Certamente, todos os que me leem agora acompanharam pelo menos uma parte do noticiário relativo ao filme, que envolveu questionamentos de toda ordem, rejeição de contas, falta de verba para a continuação e finalização do trabalho, acusações de uso inadequado de dinheiro público e até afirmações categóricas de que o filme não existia ou que poucas sequências haviam sido filmadas e que nunca o veríamos.
Não vou entrar no mérito dessas questões, mas é inegável que o filme gerou expectativas demais, ao longo de todos esses anos. E, quando se espera muito de um filme, a chance de que ele não corresponda à expectativa é muito grande.
É por isso mesmo que foi uma agradabilíssima surpresa assistir a “Chatô”. Guilherme Fontes optou por contar a trajetória do magnata das comunicações Assis Chateaubriand (1892-1968) na forma de farsa. Foi uma ótima escolha. Permitiu mostrar os métodos e excessos do personagem com eficiência, sem maiores preocupações com a sequência histórica dos fatos ou com qualquer didatismo. E, naturalmente, acentuou o sentido crítico, tornando-o corrosivo em relação à figura retratada. Permitiu um mergulho no mundo manipulador e antiético que cercou a atuação de Chateaubriand e que se aplica também aos chamados barões da mídia até hoje. Ele fez escola e a forma como se utilizou do poder da imprensa serviu e serve de referência para muitos.
Fica menos evidente, mas é perceptível no filme, a contribuição inegável de Chateaubriand à cultura. Basta lembrar que se deve a ele o acervo que deu origem ao MASP, Museu de Arte de São Paulo, um dos nossos orgulhos.
O papel modernizador que Chatô exerceu no campo das comunicações e o investimento pioneiro na modernização da imprensa, no rádio e em trazer a televisão para o Brasil, são legados evidentes.
O problema de tudo isso é que os fins não justificam os meios e, no caso de Assis Chateaubriand, essa idéia marca toda a sua trajetória. Impossível dissociar os avanços dos métodos inaceitáveis utilizados. Justificáveis à luz do personagem, mostrado no filme como alguém sem escrúpulos. Seja como for, “Chatô” é um filme forte, provocador, ágil e bem-humorado. Seus excessos farsescos combinam com o personagem retratado.
Ver em cena, com cerca de quinze anos a menos, os atores e atrizes que protagonizam a história, é outra curiosidade que não costuma acontecer. É divertido e interessante, até para eles próprios, se ver na telona num filme atual, muito mais jovens e inexperientes do que são hoje. Nada que os desabone, o elenco é muito bom e os desempenhos merecem aplausos. Marco Rica faz um ótimo Chatô, Andréa Beltrão faz Vivi, uma combinação de duas personagens que com ele conviveram, uma paixão não correspondida. Paulo Betti vive Getúlio Vargas,Leandra Leal e Letícia Sabatella encarnam as esposas do magnata: Lola e Maria Eudóxia, respectivamente. Todos compõem adequadamente a vida de um Chatô ficcional, segundo o próprio diretor. Mas muito realista em sua farsa.
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