Antonio
Carlos Egypto
QUE HORAS ELA VOLTA? Brasil, 2014. Direção e roteiro: Anna Muylaert. Com Regina Casé, Camila Márdila, Karine
Teles, Lourenço Mutarelli, Michel Joelsas, Helena Albergária. 111 min.
“Que Horas Ela Volta?”, que dá nome ao filme de Anna
Muylaert, é a pergunta típica que as crianças fazem, sentindo falta da
mãe. Pergunta que Jéssica (Camila
Márdila) desistiu de fazer quando era criança, já que sua mãe Val (Regina Casé)
a deixou no nordeste e não voltou. Dez
anos, ou mais, se passaram, ela cresceu e, na hora de fazer vestibular,
resolveu vir para São Paulo e reencontrar a mãe.
Val é empregada doméstica numa família paulistana de
classe alta, onde mora no quartinho destinado a ela, na casa de Dr. Carlos
(Lourenço Mutarelli) e de D. Bárbara (Karine Teles). E é uma segunda mãe para Fabinho (Michel
Joelsas), que ela viu crescer e acompanhou todos os seus passos, por quem nutre
afeto genuíno.
Val é feliz à sua maneira. Tem estabilidade no emprego, está lá há
muitos anos. É considerada quase um
membro da família e tudo corre bem, desde que ela não se esqueça de qual é o
seu lugar na hierarquia social. Ela não tem dúvidas: empregada não come na mesa
dos patrões, não dorme no quarto de hóspedes que está vazio, não nada na
piscina da casa. Isso tudo para sua
filha Jéssica não é assim tão claro, nem muito menos natural. E é por aí que o
filme vai explorar os conflitos de classe, as noções de humanidade, direitos,
justiça, autonomia. No microcosmos
familiar, a realidade social se revela por inteiro.
Regina Casé, no papel de Val, a protagonista da
história, é quem dá o tom do filme, o tempo todo. Ela está absolutamente brilhante, num
personagem que parece feito sob medida para ela. Totalmente convincente e rico de
nuances. Já começou a ganhar prêmios de
melhor atriz em festivais, como o de Sundance, e, pelo jeito, muitos outros
virão.
Camila Márdila, também premiada em Sundance, tem
excelente desempenho como Jéssica e todo o elenco realizou um bom trabalho,
entre eles, o escritor e desenhista Lourenço Mutarelli, que faz
convincentemente o Dr. Carlos, arquiteto rico e ocioso.
A diretora Anna Muylaert sabe compor ótimas cenas que
refletem a realidade dos relacionamentos humanos como eles se dão de fato. No
clima, nos comportamentos, nos diálogos e expressões corriqueiras, os
personagens que ela filma exprimem humanidade verdadeira. E, no coloquial, ela consegue abordar
questões importantes.
Conheci o trabalho de Anna Muylaert, primeiro, pelo
curta “A Origem dos Bebês Segundo Kiki Cavalcanti”, de 1995, que utilizei em
capacitações de educadores para o trabalho de orientação sexual na escola, com
muito êxito. Depois vieram os longas
“Durval Discos”, de 2001, “É Proibido Fumar”, de 2008, e o telefilme “Para
Aceitá-la, Continue na Linha”, que na versão para o cinema virou “Chamada a
Cobrar”, de 2012. São trabalhos que
mostram uma carreira consistente e respeitável de uma cineasta do primeiríssimo
time do cinema brasileiro.
“Que Horas Ela Volta?” promete ser um sucesso maior
do que os outros trabalhos dela. Já é o
filme nacional recente com maior carreira internacional, já foi vendido para 22
países e participou de festivais internacionais de cinema com prêmios de júri e
de público, como o que aconteceu no Festival de Berlim 2015.
Obrigado, Beth. Se alguém que você conheça quiser ser incluido na lista de envio é só me avisar.
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