quarta-feira, 19 de agosto de 2015

QUE HORAS ELA VOLTA?


Antonio Carlos Egypto





QUE HORAS ELA VOLTA? Brasil, 2014.  Direção e roteiro: Anna Muylaert.  Com Regina Casé, Camila Márdila, Karine Teles, Lourenço Mutarelli, Michel Joelsas, Helena Albergária.  111 min.


“Que Horas Ela Volta?”, que dá nome ao filme de Anna Muylaert, é a pergunta típica que as crianças fazem, sentindo falta da mãe.  Pergunta que Jéssica (Camila Márdila) desistiu de fazer quando era criança, já que sua mãe Val (Regina Casé) a deixou no nordeste e não voltou.  Dez anos, ou mais, se passaram, ela cresceu e, na hora de fazer vestibular, resolveu vir para São Paulo e reencontrar a mãe.

Val é empregada doméstica numa família paulistana de classe alta, onde mora no quartinho destinado a ela, na casa de Dr. Carlos (Lourenço Mutarelli) e de D. Bárbara (Karine Teles).  E é uma segunda mãe para Fabinho (Michel Joelsas), que ela viu crescer e acompanhou todos os seus passos, por quem nutre afeto genuíno.




Val é feliz à sua maneira.  Tem estabilidade no emprego, está lá há muitos anos.  É considerada quase um membro da família e tudo corre bem, desde que ela não se esqueça de qual é o seu lugar na hierarquia social. Ela não tem dúvidas: empregada não come na mesa dos patrões, não dorme no quarto de hóspedes que está vazio, não nada na piscina da casa.  Isso tudo para sua filha Jéssica não é assim tão claro, nem muito menos natural. E é por aí que o filme vai explorar os conflitos de classe, as noções de humanidade, direitos, justiça, autonomia.  No microcosmos familiar, a realidade social se revela por inteiro.

Regina Casé, no papel de Val, a protagonista da história, é quem dá o tom do filme, o tempo todo.  Ela está absolutamente brilhante, num personagem que parece feito sob medida para ela.  Totalmente convincente e rico de nuances.  Já começou a ganhar prêmios de melhor atriz em festivais, como o de Sundance, e, pelo jeito, muitos outros virão.



Camila Márdila, também premiada em Sundance, tem excelente desempenho como Jéssica e todo o elenco realizou um bom trabalho, entre eles, o escritor e desenhista Lourenço Mutarelli, que faz convincentemente o Dr. Carlos, arquiteto rico e ocioso.

A diretora Anna Muylaert sabe compor ótimas cenas que refletem a realidade dos relacionamentos humanos como eles se dão de fato. No clima, nos comportamentos, nos diálogos e expressões corriqueiras, os personagens que ela filma exprimem humanidade verdadeira.  E, no coloquial, ela consegue abordar questões importantes.




Conheci o trabalho de Anna Muylaert, primeiro, pelo curta “A Origem dos Bebês Segundo Kiki Cavalcanti”, de 1995, que utilizei em capacitações de educadores para o trabalho de orientação sexual na escola, com muito êxito.  Depois vieram os longas “Durval Discos”, de 2001, “É Proibido Fumar”, de 2008, e o telefilme “Para Aceitá-la, Continue na Linha”, que na versão para o cinema virou “Chamada a Cobrar”, de 2012.  São trabalhos que mostram uma carreira consistente e respeitável de uma cineasta do primeiríssimo time do cinema brasileiro.

“Que Horas Ela Volta?” promete ser um sucesso maior do que os outros trabalhos dela.  Já é o filme nacional recente com maior carreira internacional, já foi vendido para 22 países e participou de festivais internacionais de cinema com prêmios de júri e de público, como o que aconteceu no Festival de Berlim 2015.


Um comentário:

  1. Obrigado, Beth. Se alguém que você conheça quiser ser incluido na lista de envio é só me avisar.



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