Antonio
Carlos Egypto
LONGWAVE – NAS ONDAS DA REVOLUÇÃO (Les Grandes Ondes [À L’Ouest]). Suíça, Portugal, França, 2013. Direção: Lionel Baier. Com Valérie Donzelli, Michel Vuilermoz,
Patrick Lapp, Francisco Belard, Jéan-Stéphane Bron. 85 min.
O Festival Internacional da Francofonia tem
trazido a produção artística em língua francesa, para melhor difusão em nosso
país. E filmes não só da França, mas da
Bélgica, do Canadá (de Québec) e da Suíça têm sido exibidos. Alguns chegam ao circuito comercial dos
cinemas em seguida. Esse é o caso da produção
suíça (em coprodução com França e
Portugal), que está sendo lançada com o título de “Longwave – Nas Ondas da
Revolução”.
No filme, vemos o interesse de uma rádio suíça
em mostrar os investimentos de seu país que contribuem para o bem-estar de
outros povos, como seria o caso de Portugal.
É preciso cobrir a ajuda que recebem da Suíça e dar divulgação a isso,
para agradar os patrocinadores. É o tal
do jornalismo chapa-branca, que,
justamente por essa característica, é mais do que desinteressante, é claramente
tedioso. Mas, se a missão é essa, vamos
reunir uma pequena equipe de jornalistas, encontrar um intérprete e ver, in loco, em que resultaram alguns dos
investimentos suíços em Portugal, a bordo de uma kombi.
As descobertas que vão aparecendo são um
verdadeiro vexame. Para citar só uma
delas: uma escola em Portugal recebeu, como apoio educacional suíço, um relógio e uma pequena verba para sua
manutenção. O que seria até dispensável,
já que os relógios suíços são os melhores do mundo, não é mesmo? O relógio, naturalmente, estampa, entre o
rodar dos ponteiros, a contribuição da Suíça para a educação.
Já estava na hora de desistir de tal
lamentável cobertura jornalística e voltar à Suíça, quando o grupo de
jornalistas, em plena 25 de abril de 1974, é envolvido por um evento
extraordinário, que não estava no programa: a Revolução dos Cravos, que pôs fim
à longa ditadura portuguesa, em forma de festa e com intensa participação
popular nas ruas. Com direito a canhões
empunhando cravos. O que seria um evento
jornalístico sem propósito resulta numa reportagem inédita, espetacular,
histórica. E que envolve cada um dos
responsáveis pela tal missão de modo absoluto e permanente. Como é incrível estar no lugar certo e na
hora certa, com o equipamento necessário.
Nem que isso tenha se dado por mero acaso e completo desconhecimento do
que estava por vir.
O tom de comédia é muito apropriado para
contar essa história e o estilo crítico que perpassa toda a ação não faz apenas
rir. Denuncia pela chacota um certo tipo
de jornalismo, assim como os tais investimentos, em contraste com algo pulsante
e real: uma revolução popular.
A equipe de cobertura rádiojornalística e os
tipos que com ela convivem caracterizam uma comédia que tem excessos e clichês,
além de situações absurdas, em busca de fazer rir. Funciona, até certo ponto. Mas, mais do que as piadas ou a performance cômica do elenco, é o viés
crítico de gozação o que o filme tem de melhor.
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