Antonio
Carlos Egypto
Manoel de Oliveira, grande mestre do cinema, é o mais
velho dos cineastas em atividade. Nasceu
na cidade do Porto, em Portugal, em
1908, quando o próprio cinema tinha pouco mais de dez anos de vida. Sua obra praticamente se confunde com a
própria história do cinema.
Uma bela homenagem ao trabalho desse grande cineasta
está na exposição “Manoel de Oliveira: Uma História do Cinema”, em cartaz no
Instituto Tomie Ohtake, até 10 de novembro, em São Paulo, já como parte das
atividades da 37ª. Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, que se inicia
oficialmente em 18 de outubro próximo.
Lá, numa série de pequenas salas, há projeções
simultâneas de excertos de filmes de Manoel de Oliveira, desde os seus
primeiros trabalhos, ainda no cinema mudo, como o belo documentário “Douro,
Faina Fluvial”, de 1931, que já impressiona pela qualidade das imagens e sua
intensa expressividade. Lá está também a
primeira ficção do diretor, “Aniki – Bóbó”, de 1942, antecipando o neorrealismo, ao mostrar a
realidade da pobreza dos meninos de rua do Porto, com imagens não só bonitas como impactantes. Isso é só o começo. Trechos de seus grandes filmes, relacionados
aos diversos temas presentes na obra do diretor, podem ser assistidos nas
diferentes salinhas e nas projeções maiores.
De “Amor de Perdição”, de 1976, a “O Gebo e a Sombra”, de 2012, tudo
está lá representado, oferecendo um aperitivo convidativo para que a gente
queira conhecer mais dessa trajetória cinematográfica ímpar e original. Para quem não conhece o trabalho do cineasta,
fica um pouco difícil de se situar. Quem
já o conhece, fica querendo ver tudo, o que não é possível.
Eu fui à procura de conhecer os filmes mais antigos
dele, tentar saber da censura salazarista, que podou sua criatividade por
longos anos, como se vê em “A Caça”, de 1963, e descobrir novidades. “O Pintor e a Cidade”, de 1956, foi uma dessas
descobertas. O enquadramento da pintura,
sua confecção e mudanças passando aos nossos olhos constituem uma linda
criação. O universo do cineasta é
extremamente rico, abarca e se relaciona com todas as artes: é literário,
teatral, musical, pictórico, puro cinema.
Destaque-se ainda a relação entre documentário e ficção, já bem
inovadora, nos anos 1930 e 1940. Nada
melhor para revelar tudo isso do que o material da exposição se constituir nos
próprios filmes do realizador português.
Também há fotos, documentos e uma entrevista em que ele responde por que
faz filmes. O melhor é o produto do seu
labor que, afinal, são os filmes que ele nunca para de fazer, desafiando a
finitude da vida.
O acervo exibido é da Fundação de Serralves, Museu de
Arte Contemporânea, Porto, Portugal, e a exposição homenageia seu grande amigo
e divulgador no Brasil, o saudoso Leon Cakoff, criador da Mostra Internacional
de Cinema de São Paulo.
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