Antonio
Carlos Egypto
GRAVIDADE (Gravity). Estados Unidos, 2013. Direção: Alfonso Cuarón. Sandra Bullock, George Clooney, Ed
Harris. 91 min.
Lançamento muito badalado, e apontado como o grande
filme da temporada, é “Gravidade”, superprodução norte-americana, dirigida pelo
mexicano Alfonso Cuarón. Se o enfoque for a tecnologia empregada no filme e a
capacidade de gerar sensações nos espectadores, podemos concordar. Muito esforço, muito dinheiro empregado e
muito tempo, soluções criativas e até inovadoras em efeitos especiais, são
alguns trunfos que podem ser creditados a essa produção.
Belas imagens remetem à imensidão do espaço e à
relação do ser humano com um ambiente, onde é impossível sobreviver na ausência
dos recursos gerados pela humanidade para a exploração espacial. Na tela IMAX e em 3D, a dimensão do espaço
sideral tem grande impacto. Penetra-se
no cosmos e vive-se a aventura e o risco da missão espacial que envolve dois
astronautas, interpretados por Sandra Bullock e George Clooney. Se eles ficam à deriva no espaço, nós ficamos
também. Esse é o maior interesse que o
filme pode despertar, o espectador participa da aventura. Isso pode ser ainda mais impactante numa sala
4D, como a do Shopping JK Iguatemi, em São Paulo, em que a poltrona balança,
ventos atingem o espectador e o ambiente fica nublado, acompanhando o que o
filme mostra.
Fantástico, porém, fica com cara de parque de diversões,
como os de Orlando. Entretenimento,
aventura, medo e calafrios, dentro e fora da tela. Pode ser um motivo para que algumas pessoas
possam finalmente decidir sair de frente da TV para ir ao cinema. O que é muito bom! Mas não significa que estejamos diante de um
grande filme, muito menos do melhor da temporada.
O roteiro é frágil, as situações tão inusitadas, que
é difícil avaliar as próprias interpretações dos atores, exceto pela sua
entrega ao papel. A Dra. Ryan (Sandra
Bullock) é a protagonista, a cientista tão perdida no espaço quanto na própria
vida terrena. Isso pode se relacionar à
pequenez do ser humano diante do cosmos, mas também, diante de suas perdas
pessoais e, no fim das contas, diante de si mesmo.
O papel de George Clooney, o astronauta experiente
Matt, é pequeno e passa ao largo dessas questões. Ele dá o toque de humor e trivialidade que se
pretende possível até mesmo nas situações mais dramáticas e que se relacionam à
morte iminente.
O gênero de
“Gravidade” é muito mais o disaster movie
do que o filme filosófico. Mas tem
sacadas interessantes, quando move a cientista americana rumo às estações
espaciais russa e chinesa. Mesmo com
treinamento na operação dos equipamentos russos, fica difícil apertar botões
quando eles aparecem grafados em chinês.
Mesmo compartilhando o universo, a humanidade não chega a se
entender. Uma chuva de detritos,
decorrente da destruição de um satélite por um míssil russo, atinge o ônibus
espacial dos Estados Unidos. Algo
puramente casual, improvável e sem intenções bélicas. Mas remete à Guerra Fria, que estimulou e
potencializou a corrida espacial.
O maior número de espectadores desse filme, no
entanto, não vai se preocupar com questões como essas. Vai mergulhar nas sensações e pronto. Se não fosse assim, iria rever “2001 – Uma
Odisseia no Espaço”, na retrospectiva dedicada a Stanley Kubrick, na 37ª. Mostra
Internacional de Cinema de São Paulo, ao invés de se entusiasmar por uma
aventura espacial com Sandra Bullock.
Acabei de assistir o filme. Não foi 3 D, nem IMAX e muito menos 4D - exibição normal mas com som e projeção de alta qualidade, como são os cinemas do Jardim Sul-UCI. Assim, ví um filme com ação dramática sem toques de parque de diversões e nem lembranças de guerra fria - um homem e. uma mulher fazendo o possível e o impossível para se manterem vivos no espaço sideral. Está longe de ser um filme filosófico, mas aos poucos vai retratando a protagonista, como ressalta o Egypto, tão perdida no espaço como na vida terrena. Apenas dois atores competentes em cena, mais uma parte técnica sensacional, e temos um filme com boa dose de suspense a que se assiste com prazer. Evidentemente, não é um "2.001-Uma Odisseia no Espaço"; mas um filme como este só se milagrosamente surgir outro Kubrick.
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