Antonio Carlos Egypto
RENOIR (Renoir). França, 2012. Direção: Gilles
Bourdos. Com Michel Bouquet, Christa
Theret, Vincent Rottiers. 111
min.
Pierre-Auguste Renoir (1851-1919), o grande pintor impressionista
francês que celebrava a vida, a alegria das pessoas, as festas, a beleza da
natureza e o corpo feminino na Paris luminosa de antes da eclosão da Primeira
Guerra Mundial, é o personagem principal do filme de Gilles Bourdos.
Só que a película “Renoir” remete ao final da vida do
pintor, quando ele só consegue andar de bengala e pinta numa cadeira de rodas,
com pincéis amarrados aos dedos, por conta do reumatismo que o afligia. Mas continuava demonstrando otimismo,
vitalidade e serenidade, em que pese o esvair da vida. Perdera
a mulher e seus dois filhos foram feridos na frente de batalha. Estamos em 1915.
É quando irrompe em sua residência, no sul da França,
em Cagnes, uma jovem linda e exuberante, que será sua musa e lhe dará um novo
alento e entusiasmo. Pierre-Auguste
(Michel Bouquet) se encantará com a nova modelo para seus quadros: Andrée
(Christa Theret). Ao mesmo tempo, Jean
Renoir (Vincent Rottiers), filho do pintor e que se tornaria um dos diretores
de cinema mais importantes da história, retorna à casa paterna com ferimentos
de guerra e se envolve com a musa do pai, a tal ponto que ela será sua primeira
esposa. A última grande musa do pintor
será o primeiro amor do cineasta.
É dessa história e desse momento final da vida do
pintor Renoir que se nutre o filme de Gilles Bourdos. A narrativa flui lenta e até um tanto
rotineira, procurando mostrar um clima e uma situação de vida de um homem idoso
no seu ocaso, mas de um talento e otimismo tão grandes que tudo isso pode ser
muito estimulante para ele, consubstanciando-se na figura de uma mulher jovem,
cheia de vida.
Para o espectador, acompanhar a história do modo como
ela é contada não é tão estimulante assim.
Chega a ser até aborrecida, em alguns momentos. Mas o filme tem um grande mérito: procura
reconstruir em imagens as cores que caracterizavam os quadros impressionistas
de Renoir. O ambiente da residência
remete à pintura, com suas luzes e tons tão característicos.
O vínculo do pai pintor famoso com o filho que irá
criar obras-primas da arte cinematográfica, como “A Regra do Jogo”, de 1939, e
“A Grande Ilusão”, de 1937, também interessa.
A pintura e o cinema, convivendo numa época, primeiro, dourada, depois
conturbada da Europa, e sendo retratados no trabalho de um e de outro, merecem
atenção. Embora o filme não explore
isso, como poderia.
A figura do pintor é convincentemente vivida por
Michel Bouquet. Já o futuro cineasta tem
pouca força no filme. Aparece como jovem
amante e filho, mas sem maiores referências ao grande artista que ele
será. O ator Vincent Rottiers também não
dá a dimensão devida ao personagem. A
musa desejada por ambos, vivida por Christa Theret, tem vigor, energia e beleza
para iluminar um filme, que é bonito, sem chegar a empolgar.
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