quarta-feira, 26 de junho de 2013

AUGUSTINE

Antonio Carlos Egypto






AUGUSTINE (Augustine).  França, 2012.  Direção: Alice Winocour.  Com Vincent Lindon, Soko, Chiara Mastroianni.  102 min.



Jean Martin Charcot (1825-1893), médico francês que pode ser considerado um dos fundadores da neurologia moderna, estudava as doenças nervosas, especialmente a histeria, no seu trabalho em Paris, em 1885, no hospital Salpêtrière, quando apareceu o caso da jovem Augustine, de 19 anos, retratado no filme da diretora estreante Alice Winocour.

No final do século XIX, a histeria ainda era uma doença cujos sintomas desafiavam a medicina, sem recursos suficientes para entendê-la ou explicá-la.  O trabalho de Charcot é, por isso, muito importante.  A compreensão mais profunda do fenômeno psíquico que dá origem à histeria só aconteceu com o trabalho desenvolvido por Sigmund Freud (1856-1939), que foi discípulo de Charcot.



O médico francês aplicou a hipnose na abordagem clínica da histeria, com resultados notáveis.  Por meio dela, conseguia produzir a crise histérica e seus estranhos sintomas em pacientes, diante de uma plateia médica.  Freud acompanhou as famosas conferências e estudos clínicos de Charcot, em que a ideia de um ou mais eventos traumáticos estaria na origem dos sintomas.  Estava preparado o terreno para a emergência do conceito de inconsciente, que revolucionou o conhecimento médico e deu origem à psicologia moderna.

Tudo isso me parece importante saber para apreciar a história do caso de Augustine e situá-la em seu contexto apropriado.  Mas o filme não se preocupa em passar essas informações.  Só o que fica claro é a época, pelo que mostram as imagens.  “Augustine” se centra no caso tratado e na relação do médico com a paciente, além de suas repercussões na vida de um e de outra.




Uma característica desagradável que o filme tem é a de ser escuro todo o tempo.  Podemos interpretar que isso corresponde à situação vivida por Charcot, na época.  Todos andavam tateando no escuro, em busca de entender o fenômeno da histeria, entre outros.  Tudo ainda estava indefinido, obscuro, nesse assunto.  Isso justificaria um filme tão escuro?  Não acho.  O espectador comum que for ao cinema sem se informar previamente também vai caminhar no escuro, sem entender direito o que está acontecendo.  Vai faltar claridade, duplamente.

Verá um grande ator em cena: Vincent Lindon, no papel de Charcot.  Ele já havia desempenhado um papel de médico, no filme “A Criança da Meia-Noite”, de 2011, em outro desempenho convincente como esse.  A cantora francesa Soko é Augustine e dá conta da personagem.  E ainda há a presença de Chiara Mastroianni, no papel da mulher de Charcot, uma coadjuvante de peso para o filme.

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