Antonio Carlos Egypto
HISTERIA (Hysteria). Inglaterra, 2011. Direção: Tanya Wexler. Com Hugh Dancy , Maggie Gyllenhaal, Jonathan Pryce, Rupert Everett,
Felicity Jones. 99 min.
“Histeria” é um filme de época, que tem uma história
curiosa e cativante para contar: a da invenção dos vibradores elétricos. São objetos que hoje pertencem ao sex shops, ou congêneres, que não
escondem sua função de oferecer prazer às mulheres. Pois é bom saber, e é isso que o filme
mostra, que eles já foram encarados como objetivos científicos, capazes de
promover a cura, ou pelo menos o alívio, da histeria, doença que acometia
grande número de mulheres em fins do século XIX e que perdurou sendo vista como
doença até 1952.
Londres, anos 1880.
Dr. Robert Dalrymple (Jonathan Pryce) tem um consultório médico
especializado em tratar da histeria, e procura fazê-lo por meio de massagens no
interior da vagina. Como a histeria era
a doença do útero, esperava-se que, com esse tratamento, as mulheres
alcançassem o paroxismo. Sim, porque as
mulheres seriam incapazes de chegar ao orgasmo.
E não se tratava de prazer, de sexo ou de sexualidade. Era uma coisa meramente física, mecânica.
A clínica foi tendo sucesso e acabou por incorporar o
jovem médico, Dr. Mortimer Granville [1833-1900] (Hugh Dancy), que fará muito
sucesso com a massagem manual e acabará
entrando para a história por ter criado e patenteado o vibrador elétrico,
contando com a colaboração de um amigo rico, fascinado pela eletricidade, papel
de Rupert Everett.
Em meio a essa descoberta, Mortimer vive uma história
de amor, ou duas, para ser mais preciso.
Seus romances servem para mostrar o papel da mulher naquele período, os
limites impostos a elas e as mudanças que estavam a caminho. Além disso, confronta-se a medicina tosca,
que predominava, com a descoberta dos germes, que mudariam os hábitos de
higiene, incorporando a água e o sabão no lavar as mãos, por exemplo. Põem-se, lado a lado, a prática da medicina
da elite e a do atendimento ao povo, exigindo posicionamentos claros dos
personagens.
Enfim, é uma boa discussão, embora o filme a trate de
forma leve e ligeira, inclusive divertida. O que mais impressiona é mesmo a
negação da sexualidade, mesmo se fazendo massagem nas vaginas das mulheres,
manualmente, ou descobrindo o vibrador.
Parece incrível que se pudesse aplicar a masturbação feminina como
tratamento assexuado da histeria.
Foi preciso que virasse o século e os estudos de
Freud trouxessem à tona não só o desejo sexual feminino como a sexualidade
infantil e se criasse um tratamento terapêutico por meio da palavra, sem
massagens ou objetos estimuladores, e descartando, posteriormente, também a
hipnose. A ciência, os tratamentos
médicos e psicológicos avançaram enormemente, mas o famoso vibrador continua
tão charmoso e sedutor quanto foi no final do século XIX. Atravessou todo o século XX e continua firme
e forte no século XXI. Conhecer a sua
história é, portanto, algo muito interessante e atual.
“Histeria” faz uma bela reconstituição de época. Lugares, trajes, transportes mostram uma
direção de arte bem cuidadosa. O seu tom
leve, com um elenco que dá bem conta da proposta, serve bem ao intuito do
entretenimento. Mas também ensina
enquanto diverte.
A diretora americana Tanya Wexler fez um bom
trabalho, que foi bem recebido no Toronto International Film Festival, de 2011,
onde o filme foi lançado.
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