sexta-feira, 9 de novembro de 2012

HISTERIA


            
Antonio Carlos Egypto



HISTERIA (Hysteria).  Inglaterra, 2011.  Direção: Tanya Wexler.  Com Hugh Dancy , Maggie Gyllenhaal, Jonathan Pryce, Rupert Everett, Felicity Jones.  99 min.



 “Histeria” é um filme de época, que tem uma história curiosa e cativante para contar: a da invenção dos vibradores elétricos.  São objetos que hoje pertencem ao sex shops, ou congêneres, que não escondem sua função de oferecer prazer às mulheres.  Pois é bom saber, e é isso que o filme mostra, que eles já foram encarados como objetivos científicos, capazes de promover a cura, ou pelo menos o alívio, da histeria, doença que acometia grande número de mulheres em fins do século XIX e que perdurou sendo vista como doença até 1952.




 Londres, anos 1880.  Dr. Robert Dalrymple (Jonathan Pryce) tem um consultório médico especializado em tratar da histeria, e procura fazê-lo por meio de massagens no interior da vagina.  Como a histeria era a doença do útero, esperava-se que, com esse tratamento, as mulheres alcançassem o paroxismo.  Sim, porque as mulheres seriam incapazes de chegar ao orgasmo.  E não se tratava de prazer, de sexo ou de sexualidade.  Era uma coisa meramente física, mecânica.


 A clínica foi tendo sucesso e acabou por incorporar o jovem médico, Dr. Mortimer Granville [1833-1900] (Hugh Dancy), que fará muito sucesso  com a massagem manual e acabará entrando para a história por ter criado e patenteado o vibrador elétrico, contando com a colaboração de um amigo rico, fascinado pela eletricidade, papel de Rupert Everett.





 Em meio a essa descoberta, Mortimer vive uma história de amor, ou duas, para ser mais preciso.  Seus romances servem para mostrar o papel da mulher naquele período, os limites impostos a elas e as mudanças que estavam a caminho.  Além disso, confronta-se a medicina tosca, que predominava, com a descoberta dos germes, que mudariam os hábitos de higiene, incorporando a água e o sabão no lavar as mãos, por exemplo.  Põem-se, lado a lado, a prática da medicina da elite e a do atendimento ao povo, exigindo posicionamentos claros dos personagens.





 Enfim, é uma boa discussão, embora o filme a trate de forma leve e ligeira, inclusive divertida. O que mais impressiona é mesmo a negação da sexualidade, mesmo se fazendo massagem nas vaginas das mulheres, manualmente, ou descobrindo o vibrador.  Parece incrível que se pudesse aplicar a masturbação feminina como tratamento assexuado da histeria.


 Foi preciso que virasse o século e os estudos de Freud trouxessem à tona não só o desejo sexual feminino como a sexualidade infantil e se criasse um tratamento terapêutico por meio da palavra, sem massagens ou objetos estimuladores, e descartando, posteriormente, também a hipnose.  A ciência, os tratamentos médicos e psicológicos avançaram enormemente, mas o famoso vibrador continua tão charmoso e sedutor quanto foi no final do século XIX.  Atravessou todo o século XX e continua firme e forte no século XXI.  Conhecer a sua história é, portanto, algo muito interessante e atual.





 “Histeria” faz uma bela reconstituição de época.  Lugares, trajes, transportes mostram uma direção de arte bem cuidadosa.  O seu tom leve, com um elenco que dá bem conta da proposta, serve bem ao intuito do entretenimento.  Mas também ensina enquanto diverte.
 A diretora americana Tanya Wexler fez um bom trabalho, que foi bem recebido no Toronto International Film Festival, de 2011, onde o filme foi lançado.




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