sexta-feira, 12 de agosto de 2011

A ÁRVORE DA VIDA

Antonio Carlos Egypto


A ÁRVORE DA VIDA (The tree of life). Estados Unidos, 2011. Direção: Terrence Malick. Com Brad Pitt, Sean Penn, Jessica Chastain, Joanna Going. 138 min.



Cinema é, essencialmente, imagem. Partindo dessa ideia, “A Árvore da Vida” é um filmão, que merece ser visto com toda a atenção. Os enquadramentos de imagem são perfeitos, os espaços, bem trabalhados, os ângulos de filmagem, muitas vezes inovadores, há uma profusão de formas e cores.

Formas abstratas de cores intensas e contrastantes em movimento se alternam com modos pouco convencionais de mostrar a água do mar, das cachoeiras, da chuva. Movimentos dourados sugerem explosões solares. A natureza se transforma, até dinossauros aparecem e, numa cena, uma personagem levita.

Não é um mero exercício formal. Terrence Malick pretende tratar da origem do universo, da terra, da vida, e suas transformações até o momento presente. É do Cosmos e de Deus que se trata. Esse é o contexto maior.

Há o contexto doméstico, o de uma família norte-americana bastante comum, seus relacionamentos, o modo como vive e os conflitos que se estabelecem. Em especial, o conflito entre o pai (Brad Pitt) e um de seus filhos, aquele que no presente é vivido por Sean Penn, que rememora sua infância, sua mãe e irmãos e os problemas com o pai.

Não há nada de tão especial nesse pai exigente, rigoroso e inflexível, que gera um ódio ressentido, principalmente no filho maior. Ele tem uma relação fortemente afetiva com os filhos, o que inclui acolhimento e agressividade. Pelo poder paterno, ele oprime. A mãe (Jessica Chastain) é, como se poderia esperar, muito mais acolhedora e procura compensar os exageros do pai. Mas uma morte veio desestabilizar a vida e os sentimentos deles.

Isso tudo também é muito bem mostrado em cenas rápidas, que vão revelando, pouco a pouco, o clima em que se vive. A história da família O’Brien, no entanto, não se distingue muito da história de muitas outras famílias de classe média, em pequenas cidades dos Estados Unidos, algumas décadas atrás. Ou, mesmo, no momento presente. E mesmo que não fossem norte-americanas.

O que tem a ver isso com as pretensões cósmicas que contextualizam a história dessa família? Fica a pergunta. A relação que aparece no filme é a dos personagens com Deus, quando, como qualquer mortal, eles buscam entender os desígnios divinos. Ou desejam que Deus interfira no sofrimento que estão vivendo naquele momento. Ou, ainda, quando se apartam de Deus. Aí entram também o amor e o perdão. Busca-se, como sempre, o sentido da vida, sua dimensão cósmica. É claro que isso implica reflexão sobre valores religiosos, misticismo e coisas relacionadas. Para alguns, isso pode representar uma viagem ao interior da alma, enquanto, para outros, não passará de um belo produto artístico a serviço de uma causa ou de uma preocupação que não lhes interessa especialmente.

Quanto mais ampla é a conexão que se estabelece entre o cotidiano e o cosmos, menos ela dá conta dos elementos históricos, socioculturais, econômicos e políticos, que estão inevitavelmente integrados à existência de todos. Falta a contextualização concreta, que é onde todo mundo está. Entre Deus, o Big Bang e o cotidiano familiar de uma pequena cidade norte-americana, há muitas instâncias e mediações para que se possam integrar essas coisas.




E não vale a pena cair na discussão de se saber se Deus existe ou não, ou questionar as opções religiosas ou a falta delas, em cada pessoa. Melhor é usufruir da beleza plástica que o filme tem e cada um interpretará essas conexões como melhor lhe aprouver.

“A Árvore da Vida” venceu a Palma de Ouro do Festival de Cannes de 2011.



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