quinta-feira, 28 de julho de 2011

CONTRA O TEMPO

Antonio Carlos Egypto

CONTRA O TEMPO (Source code). Estados Unidos, 2011. Direção: Duncan Jones. Com Jake Gyllenhall, Michelle Monaghan, Vera Farmiga. 93 min.


“Contra o Tempo” conta uma história fantástica, na forma de um filme que mescla aventura, suspense e ação. Imagine assumir uma vida que não é a sua, num corpo que não é o seu, e, ainda por cima, voltando no tempo. Mas cuidado, não se trata de um retorno nostálgico a um passado distante, nem de assumir uma identidade glamourosa de alguma celebridade. Nada disso. É algo bem mais concreto e prático, com limites muito estreitos, até.

Imagine que você possa viver uma outra vida num outro corpo, porém, o tempo que você tem para isso são apenas os últimos oito minutos de vida dessa outra pessoa, dessa outra identidade. Esse é o chamado código fonte. Qual a utilidade dele? Ao retornar por oito minutos antes que uma bomba venha a explodir num trem, será possível pesquisar sobre o terrorista e a bomba, de modo a evitar outros atos terroristas no futuro. Com a vantagem de que é possível voltar mais de uma vez e outra mais, se for preciso. Eu não disse que era uma coisa concreta e prática? Poderia acrescentar: e com objetivos louváveis.

Pois é a partir dessa premissa que decorre toda a trama de “Contra o Tempo”, que lida com questões que certamente preocupam as pessoas, cada vez mais, em todo o mundo. Afinal, as possibilidades de um ataque terrorista ocorrer a qualquer momento deixa o mundo inseguro para todos. Até nos lugares mais insuspeitados isso pode acontecer. Haja vista o recente massacre que ceifou quase 80 vidas na aparentemente tranquila e pacífica Noruega. Anticomunistas,islamofóbicos e neonazistas, como o atirador loiro nórdico, são figuras assustadoras em seu desequilíbrio pessoal e ideologia delirante. Mas não são os únicos a meter medo nos dias de hoje.

Um recurso como o imaginado pelo filme para impedir a livre circulação desses malucos que destróem vidas preciosas seria muito bem-vindo. A pretensão de controlar o incontrolável também é um delírio, mas imaginar a sua possibilidade alivia os medos, consola e pode funcionar como diversão, além da oportunidade de utilizar os efeitos especiais tão caros ao cinema hollywoodiano.


Quem vir o filme perceberá também que há uma outra questão ideológica embutida nessa trama. É que as mortes de soldados em países invadidos pelos norte-americanos, como o Afeganistão e o Iraque, podem não ter sido em vão e ainda servirem a um objetivo patriótico. Aí, sim, é que se consolam as culpas, que tudo fica bem.

Que o cinema norte-americano é muito eficiente ao propagar os valores e a ideologia que lhe interessam em cada momento histórico já está mais do que provado. Que o cinema de Hollywood é competente para produzir emoções fortes e filmes de ação sedutores também ninguém duvida. E que são fitas bem produzidas, facilmente assimiláveis pelo público, também é algo notório. Bons atores e atrizes não faltam e desempenhos convincentes fazem da fantasia algo verossímil.

“Contra o Tempo” tem todos esses ingredientes. Certamente não é um grande filme, mas funciona como diversão de boa qualidade.

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