Antonio Carlos Egypto
LOBO (Loup). França, 2009. Direção: Nicolas Vanier. Com Nicolas Brioudes, Pom Klementieff, Min Man Ma e Vania Talisman. 102 min.
“Lobo” é uma aventura inteiramente filmada nas montanhas do norte da Sibéria, uma região de frio intensíssimo e grossas camadas de neve no inverno. Lá vive um povo nômade – os évène – que tem nos grandes rebanhos de rena seu transporte, sustento e razão de ser. Em relação às renas, é preciso criá-las, acompanhá-las, vigiá-las, cuidar delas. Afinal, elas são o tesouro desse povo.
Só que nessa mesma vasta região também vivem os lobos e, sobretudo no inverno, eles atacam as renas. É a lei da sobrevivência que torna isso inevitável. A tradição da comunidade manda matar os lobos para poder manter as renas. Mas sempre tem alguém jovem disposto a questionar as tradições.
Essa é a história, que não chega a ser original, criada pelo diretor Nicolas Vanier, que conviveu um ano com o povo évène e conseguiu apoio deles para realizar o filme, em função de um outro perigo, maior do que o dos lobos: a chegada do homem “civilizado” sobre a região, abrindo estradas e avançando sobre o território gelado que habitam.
A região é uma locação espetacular para um filme. E o diretor sabe explorar bem a beleza do lugar. Panorâmicas exibem a exuberância da natureza e grandes rebanhos de renas se deslocando tanto no verde quanto no branco das paisagens. Convivemos de perto com as imagens dos animais, especialmente os lobos (verdadeiros), mas também surgem aves de rapina, lebres, urso.
É um festival de belas imagens que encantam o olhar na tela grande. Há também esse belo povo siberiano e os atores franceses, escolhidos a dedo, em função do físico, para se coadunarem com o dessa comunidade nômade.
Impossível negar que “Lobo” seja um filme belo, realista. Realista, no sentido de nos transportar para essa realidade distante e desconhecida, tão poderosamente atraente. É isso que vale o filme, muito mais do que a trama ficcional que ele desenvolve.
Há uma sequência em particular que merece destaque. A um dado momento, um lobo caminha, quando o gelo sob suas patas cede e ele se debate na água gelada, tentando vir à tona novamente. É aí que o protagonista do filme, o ator Nicolas Brioudes, no papel de Sergei, entra na água gelada para salvar o lobo. Suas mãos gelam e ele tenta, em vão, acender uma pequena fogueira para se esquentar. O lobo, então, se aproxima e o rapaz pode se aquecer colocando as mãos embaixo do animal, para usufruir do calor dos seus pelos. É uma cena real, sem truques, ainda que a queda do lobo tenha sido planejada, por meio de uma armadilha. O que se segue, no entanto, mostra a possibilidade de encontro entre seres humanos e animais de natureza selvagem, em busca de uma harmonia que o filme preconiza.
Essa aventura ecológica integra o Festival Varilux do cinema francês 2011, que está acontecendo em 22 cidades brasileiras.
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