Antonio Carlos Egypto
POBRES
CRIATURAS (Poor Things). Estados
Unidos, 2023. Direção: Yorgos
Lanthimos. Elenco: Emma Stone, Willem
Dafoe, Mark Ruffalo, Ramy Youssef. 141
min.
Ficção
científica desvairada em tom de comédia um tanto amalucada, mas nem sempre
engraçada. “Pobres Criaturas”, produção
norte-americana dirigida pelo cineasta grego Yorgos Lanthimos, é um filme
bastante estranho para merecer 11 indicações ao Oscar (perde somente para “Oppenheimer”
com 13).
Nele
se veem cabeças de porco em ave, animal metade pássaro-metade cachorro e
carruagem dirigida apenas pela cabeça do cavalo. Isso só para entrar no clima.
A
personagem principal é Bella Baxter, num desempenho espetacular de Emma Stone,
também produtora do filme e indicada ao Oscar de atriz. Bella foi salva da morte por um experimento
“científico” no começo do século XX, que lhe implantou o cérebro do bebê que
ela estava gerando, quando resolveu se suicidar. E ela se tornou uma mulher adulta e bonita
num cérebro que nada conhecia do mundo e que precisava crescer e se
desenvolver. Mulher com cabeça e
comportamento de criança, ou seja, uma espécie de Frankenstein de saias.
Seu
“pai”, o estranho cientista Godwin Baxter (Willem Dafoe) também é uma espécie
de Frankenstein e mais claramente marcado, com cortes intensos por todo o
rosto, consequências dos experimentos de seu pai, também cientista. Lembrem-se de que, no Frankenstein original,
criador e criatura sempre foram confundidos.
Pois é! Vale a brincadeira.
Isso é
só o começo de uma história delirante que, no entanto, pretende abordar o
desenvolvimento, conhecimento e a libertação de Bella, no seu processo de
amadurecimento rápido e avançado. Uma
espécie de ode ao feminismo. Será? Mas como assim? Que liberdade e decisões autênticas e bem
pensadas podem vir de uma pessoa despreparada e ingênua?
Aí vai
um exemplo do filme. Quando Bella
descobre a pobreza e a morte de crianças por fome, ela toma todo o dinheiro
espalhado que o amante ganhou no jogo, guarda numa caixa e o entrega a dois
tripulantes do navio onde estavam vivendo, para que seja entregue aos pobres
que precisam, ficando o casal sem dinheiro para nada, a partir daí. Socialismo ou pura ingenuidade?
Na
mesma linha, suas descobertas dos prazeres do corpo, na masturbação, experimentando
relações sexuais variadas e na prostituição que ela não chega a conceituar
propriamente, não podem ser entendidas como libertação ou autonomia feminina.
Falta consciência nessas ações infantilizadas de Bella.
Reconheço
que o filme é bem feito e até divertido, embora cometa muitos excessos. Quando, por exemplo, o personagem Duncan
Wedderburn (Mark Ruffalo, também indicado ao Oscar de ator coadjuvante) bate
voluntariamente a cabeça contra o balcão ou contra a parede, por causa do ciúme
de Bella, absolutamente inexplicável, dadas as circunstâncias, sabendo-se quem
ela é.
Enfim,
é um filme para quem gosta de curtir o non
sense, o fantástico, o amalucado.
Não cabem muitas reflexões nesse terreno, apesar das intenções dos
realizadores. Fica tudo bem artificial e
esquisito. Pelo menos para mim.
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