Antonio Carlos Egypto
EU,
CAPITÃO (Io, Capitano). Itália, 2023.
Direção: Matteo Garrone. Elenco:
Seydou Sarr, Moustapha Fall, Issaka Sawadogo, Hichen Yacoubi. 121 min.
Migrar
é um direito humano, o de ir e vir em busca de melhores condições de vida. Nosso mundo de fronteiras, muros e
burocracias, torna a vida dos imigrantes um problema constante a desafiar
governos e instituições mundiais. Mesmo
em situações de guerra, extrema pobreza, fome, perseguições políticas e
religiosas, é tudo muito complicado para se encontrar a paz em algum
canto. A ilegalidade torna-se a regra da
imigração em nossos tempos conturbados.
“Eu,
Capitão” é um drama ficcional, obviamente inspirado nessa realidade flagrante da
atualidade, forte e denso, que nos leva a viver intensamente a saga da
imigração ilegal de dois adolescentes africanos, senegaleses, em busca do sonho
de viver melhor na Europa. Partindo de
Dakar, passando pelo deserto do Saara e pela Líbia, com vistas à Sicília, na
Itália.
O
filme é uma aventura, uma narrativa muito bem construída sobre um tema duro,
difícil. Matteo Garrone diz que essa
saga dos imigrantes, suas histórias, são provavelmente as únicas possíveis
narrativas épicas dos nossos tempos. Para
isso, se valeu do testemunho dos que estão mergulhados nessa situação, viveram
as agruras dessa imigração.
O
ponto de vista do filme é o dos imigrantes, no caso, os dois adolescentes,
Seydou (Seydou Sarr) e Moussa (Moustapha Fall) e tudo o que eles vão experimentando
nessa travessia. O dinheiro que eles
conseguiram guardar, que vai sendo todo consumido de forma exploradora, sem
direitos, sem respeito, com maus tratos.
Abandono no deserto, prisão, tortura, trabalho escravo, delírios e
fantasias necessários para enfrentar o que se vive (e isso é bem explorado
visualmente) e uma travessia de barco inusitada, que fica a cargo de um dos
jovens como condutor. É isso que dá o
nome de “Eu Capitão” ao filme.
Entender
o sentimento dos jovens imigrantes a cada experiência radical a que são
submetidos, sem que possam reagir à altura, revela-nos a face desumana dos
nossos dias. Ao mesmo tempo em que
mostra as enormes possibilidades de luta e resistência que os seres humanos
alcançam nas situações mais desesperadoras.
Durante
as duas horas de duração do filme, somos levados a uma jornada de empatia com
os protagonistas e a população mais ampla que os circunda, num filme realista
de aventura e suspense que, apesar de tudo, destila esperança e, sobretudo,
respeita seus retratados.
Para
quem, porventura, ainda não conheça a obra do diretor e roteirista Matteo
Garrone recomendo que veja também “Dogman”, de 2018, e “Gomorra”, de 2008. “Eu, Capitão” está na disputa pelo Oscar de
filme internacional como representante da Itália.
Nenhum comentário:
Postar um comentário