Antonio
Carlos Egypto
FILHO DE SAUL (Saul Fia). Hungria,
2015. Direção e roteiro: Lázló
Nemes. Com Géza Röhrig, Levente Molnar,
Urs Rechn, Todd Charmont. 107 min.
Você já imaginou o sofrimento de um judeu,
marcado para morrer, num campo de concentração?
E ele, fazendo parte de uma leva que assiste a tudo e é obrigado a
trabalhar com a entrada nas câmaras de gás, a retirada e queima dos corpos e
limpeza do local, entre outros horrores?
Certamente, já leu e ouviu relatos absolutamente terríveis, mas no filme
“Son of Saul” você vive a experiência de dentro. A câmera do diretor húngaro Lázló Nemes nunca
se distancia do que o protagonista vê e faz, a curta e média distâncias. Quando não está na perspectiva de quem está
atrás dele, focalizando sua nuca e costas.
Por sinal, o X vermelho que marca as costas do personagem, indicando que
ele vai morrer, é uma das imagens mais constantes ao longo de todo o filme.
Belíssima realização, essa trama sofrida que
consegue ser tão sensorial ao retratar esse espaço de violência inaudita, que
foram os campos de extermínio, concebidos e manejados pelos nazistas, na
Segunda Guerra Mundial.
A obstinação do personagem Saul por um filho,
pela necessidade religiosa de o sepultar com a participação de um rabino, em
meio aos horrores que ele vive a cada momento, é o grande achado da história. O
absurdo se coloca em cada cena, o personagem é levado daqui para lá sem ter
controle sobre as suas ações, mas persegue seu objetivo sem nunca
desistir. A obstinação de Saul, que nos
parece cada vez mais absurda e impossível, à medida em que a narrativa decorre,
é, no entanto, uma das mais elementares providências a que todos têm de ter
direito na hora da morte. O mais simples
se torna o mais inacessível e extremamente perigoso de se buscar. O ritmo do
filme se encarrega de ressaltar isso o tempo todo.
“Son of Saul” consegue revisitar um tema já
largamente abordado de todas as formas e por todos os ângulos, na literatura,
nos estudos históricos, no teatro, na dança, na música, nas artes plásticas e
no cinema, e consegue fazê-lo sem ser simplesmente repetitivo. Tratou do assunto de modo sensorial,
extremamente concreto. Não pegou nem
pela emoção. A maior tragédia está nos
momentos cotidianos, em cada ato, em cada movimento. A concretude é o que mais assusta.
O desempenho dos atores, em especial o do
personagem Saul (Géza Röhrig), secos, sem ênfases emocionais fortes, contribui
de modo decisivo para que o filme alcance o que se propôs a ser: intenso e
dolorido.
“Son of Saul”, ainda sem título estabelecido
para seu lançamento comercial, estará nas telas dos cinemas em breve. Está
sendo exibido na 39ª. Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, provocando
impacto. Difícil ficar indiferente a um
filme assim.
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