Antonio
Carlos Egypto
SEGUNDA CHANCE (En
Chance Til). Dinamarca, 2014. Direção: Susanne Bier. Com Nikolaj Coster Waldau, Ulrich Thomsen,
Maria Bonnevies, Nikolaj Lie Kaas. 102
min.
“Segunda Chance”, da cineasta dinamarquesa Susanne
Bier, é um filme que lida com decisões tomadas no limite do desespero. Conflitos morais se estabelecem por meio de
tentativas, até bem intencionadas, de resolver ou acomodar problemas, passando
por cima de questões legais. E o filme
explora a dúvida: até onde o ser humano pode chegar, numa situação-limite? Nessas horas, como distinguir entre o que é
certo e errado? É o imponderável.
Para tratar de dilemas relevantes como esses,
realiza-se uma boa produção, com cenas muito bem filmadas, porém, de mão muito
pesada. O filme é um soco no estômago!
O que mais incomoda é que bebês estarão no fulcro da
narrativa, de modo doloroso. Um bebê
chora constantemente, exigindo dos pais uma disponibilidade que chega ao limite
de sair à rua de madrugada com o carrinho ou então levá-lo de carro para
passear, para que sossegue. Há bebê
abandonado num canto da casa, inteiramente descuidado, todo sujo. Há morte e troca de bebês.
Um policial aproveita de sua condição para cometer um
crime, envolvendo bebês, uma mulher se desespera, na falta de um bebê para
chamar de seu e ameaça se suicidar. Um
casal é acusado de matar seu filho bebê, e por aí vai. O desespero não atinge só os personagens, o
espectador não sai incólume. Difícil de
aguentar.
O filme tem, porém, além da mão pesada, um outro
problema: para que a trama possa se estabelecer e se desenvolver, Susanne Bier
se vale de muitas cenas e situações inverossímeis. Não uma ou duas, muitas. Isso acaba minando a credibilidade de um filme
montado numa perspectiva totalmente realista.
Um roteiro melhor elaborado poderia ter costurado a história de um modo
mais crível e convincente.
Excessos sempre acabam comprometendo produções
artísticas, ainda que suas propostas e intenções sejam muito boas. “Segunda Chance” padece disso, tem a ver com
o estilo que a diretora já mostrou em suas produções anteriores.
O elenco é muito bom, apresenta desempenhos que até
compensam os exageros da narrativa, dando ao filme o equilíbrio necessário em
meio a tanta dor e desespero. Não é nas
atuações que o filme pesa. O que talvez
mostre o estilo nórdico de agir acaba por evitar que um emocionalismo
insuportável prevalecesse. Assim sobra
espaço para a reflexão poder acontecer.
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