quarta-feira, 5 de novembro de 2014

MÃO NA LUVA


Antonio Carlos Egypto



MÃO NA LUVA.  Brasil, 2013.  Direção: José Joffily e Roberto Bomtempo.  Com Roberto Bomtempo, Miriam Freeland, Chico Pelucio, Mário Cezar Camargo.  70 min.


Uma peça teatral de Oduvaldo Vianna Filho como ponto de partida não poderia ser um melhor começo.  Vianinha, como era mais conhecido, é um dos grandes nomes da cultura brasileira.  Seus textos tratam da realidade concreta das pessoas, nos seus ambientes mais próximos, e nas influências de contextos maiores, como o país, o mundo, a época, numa visão crítica.  Os diálogos são preciosos: coloquiais, verdadeiros.




“Mão na Luva”, o filme de José Joffily e Roberto Bomtempo, teve roteiro adaptado por Susana Schild e faz jus ao trabalho de Vianinha.  A teatralidade da situação proposta flui bem no cinema, não só pela forte atuação dos protagonistas, mas pela qualidade e sofisticação do ambiente retratado e do trabalho de câmera.  O filme é bonito, intenso, e tem a duração adequada e suficiente para não cansar o espectador.



Afinal, trata-se de um casal em crise, que está se separando, mas sem o conseguir.  Parece impossível continuar junto, mas também é complicadíssima a separação. O amor é grande, as traições e decepções também.  E o que vemos quase todo o tempo é o embate/atração entre Lúcio (Roberto Bomtempo) e Sílvia (Miriam Freeland), hoje quando estão se separando e ao longo da história amorosa de treze anos que construíram juntos.  O filme vai e volta todo o tempo.  Roberto Bomtempo aparece de barba no tempo presente e sem ela, nos momentos passados.




O universo retratado não se esgota neles, ou apenas nos envolvidos nas traições mútuas que existiram ao longo do processo, mas também no contexto profissional, nas escolhas de vida e nas concessões que o trabalho, o meio social e o mercado fizeram aflorar em suas vidas.  É um texto denso e rico, valorizado por uma simples mas boa produção.  É um filme que se vê com prazer e que nos deixa elementos de reflexão muito interessantes.



Roberto Bomtempo aparece aqui como o homem de sete instrumentos: é produtor, diretor e ator principal do filme.  Dá bem conta do recado.  Miriam Freeland está muito bem como a protagonista feminina da trama.  Os respectivos papéis de Lúcio e Sílvia exigem muito deles, pela variedade de sentimentos e reações, mudanças rápidas de humor, pelo erotismo que está sempre fortemente presente.  Os diálogos são tão convincentemente concebidos que talvez sejam o elemento facilitador do desempenho. O fato é que eles sempre soam muito verdadeiros nas atuações dos personagens.




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