Antonio
Carlos Egypto
MÃO NA LUVA.
Brasil, 2013. Direção: José
Joffily e Roberto Bomtempo. Com Roberto
Bomtempo, Miriam Freeland, Chico Pelucio, Mário Cezar Camargo. 70 min.
Uma peça teatral de Oduvaldo Vianna Filho como ponto
de partida não poderia ser um melhor começo.
Vianinha, como era mais conhecido, é um dos grandes nomes da cultura
brasileira. Seus textos tratam da
realidade concreta das pessoas, nos seus ambientes mais próximos, e nas influências
de contextos maiores, como o país, o mundo, a época, numa visão crítica. Os diálogos são preciosos: coloquiais,
verdadeiros.
“Mão na Luva”, o filme de José Joffily e Roberto
Bomtempo, teve roteiro adaptado por Susana Schild e faz jus ao trabalho de
Vianinha. A teatralidade da situação
proposta flui bem no cinema, não só pela forte atuação dos protagonistas, mas
pela qualidade e sofisticação do ambiente retratado e do trabalho de câmera. O filme é bonito, intenso, e tem a duração
adequada e suficiente para não cansar o espectador.
Afinal, trata-se de um casal em crise, que está se
separando, mas sem o conseguir. Parece
impossível continuar junto, mas também é complicadíssima a separação. O amor é
grande, as traições e decepções também.
E o que vemos quase todo o tempo é o embate/atração entre Lúcio (Roberto
Bomtempo) e Sílvia (Miriam Freeland), hoje quando estão se separando e ao longo
da história amorosa de treze anos que construíram juntos.
O filme vai e volta todo o tempo.
Roberto Bomtempo aparece de barba no tempo presente e sem ela, nos
momentos passados.
O universo retratado não se esgota neles, ou apenas
nos envolvidos nas traições mútuas que existiram ao longo do processo, mas
também no contexto profissional, nas escolhas de vida e nas concessões que o
trabalho, o meio social e o mercado fizeram aflorar em suas vidas. É um texto denso e rico, valorizado por uma
simples mas boa produção. É um filme que
se vê com prazer e que nos deixa elementos de reflexão muito interessantes.
Roberto Bomtempo aparece aqui como o homem de sete
instrumentos: é produtor, diretor e ator principal do filme. Dá bem conta do recado. Miriam Freeland está muito bem como a
protagonista feminina da trama. Os
respectivos papéis de Lúcio e Sílvia exigem muito deles, pela variedade de
sentimentos e reações, mudanças rápidas de humor, pelo erotismo que está sempre
fortemente presente. Os diálogos são tão
convincentemente concebidos que talvez sejam o elemento facilitador do
desempenho. O fato é que eles sempre soam muito verdadeiros nas atuações dos personagens.
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