Antonio
Carlos Egypto
EU, MAMÃE E OS MENINOS (Les Garçons et Guillaume, à Table!). França, 2013.
Direção e roteiro: Guillaume Gallienne.
Com Guillaume Gallienne, André Marcus, Françoise Fabian. 85 min.
A identidade de gênero, ou seja, ser e se
sentir homem ou mulher, depende não apenas de um corpo biológico masculino ou
feminino, mas também de determinantes socioculturais. Se as pessoas ao seu redor o veem de um
modo diferente do que você se vê, o que prevalecerá? O que é ser masculino, quando seus modelos de
referência são femininos?
É possível questionar os padrões, condutas e
vestimentas atribuidos ao seu gênero, sem por isso negá-lo? Ou seja, inovar no
gênero? Não é fácil, mas é
possível. Vejamos o exemplo do
cartunista Laerte, que atualmente se utiliza de um vestuário caracterizadamente
feminino, mas não deixou de ser visto como homem, com identidade e nome
masculinos, apesar das roupas, digamos, dissonantes. Acontece que ele já tinha uma larga história
de vida, vivida e reconhecida no seu meio e pelo público. Sua mudança surpreendeu, foi debatida e
assimilada. Se se tratasse de uma
criança ou jovem desconhecidos teria sido igual?
Guillaume é um menino, ou poderia ser. Mas não é tratado como tal. A mãe individualiza sua pessoa,
distinguindo-a dos outros meninos. Essa
é a razão do título “Les Garçons et Guillaume, à Table” ou, na versão
brasileira, “Eu, Mamãe e os Meninos”.
Quem seria eu?
Há mães, como parece ser o caso da de
Guillaume, que, após ter dois meninos, desejava uma menina para se espelhar, se
identificar com ela. Se a biologia não
colaborar, que tal ignorá-la? Guillaume
segue o desejo materno e mimetiza de tal modo a mãe que até se confunde com
ela, ocupa o seu lugar sem que outros percebam, quando fala sem ser visto.
Improvisa com suas roupas de garoto, criando sempre um modelito mais
feminino. Inspira-se não só na mãe, mas
em outras mulheres que observa e admira, da família ou fora dela.
Isso significa que Guillaume será gay? Não, porque nada disso tem a ver com o desejo
sexual pelo mesmo sexo. A identificação
com o gênero feminino não significa, necessariamente, a orientação homossexual
ou bissexual da atração, do desejo.
O filme “Eu, Mamãe e os Meninos” lida com isso
inteligentemente e cria situações divertidas e inesperadas. O ator, roteirista e diretor Guillaume
Gallienne dá um show de interpretação na caracterização desse personagem
especial e, também, no de sua mãe. O
público francês adorou, mais de 3 milhões de ingressos foram vendidos por lá. A crítica também: o filme foi indicado a dez
prêmios César 2014, o Oscar francês.
Venceu cinco, inclusive o de melhor filme e melhor ator.
Divertido e inteligente o filme é. Engraçado, nem tanto. Há poucas cenas que provocam o riso, que
podem ser capazes de levar o público às gargalhadas. De qualquer modo, é uma boa comédia e tem um
enfoque muito interessante e adequado ao tema de que trata. Em tempos em que é raro encontrar uma comédia
de qualidade, sem maiores apelações, é bem-vinda. Se todos os prêmios e o sucesso de público se
repetirão fora da França, só o tempo dirá.
Aparentemente, não é para tanto.
Mas vale a ida ao cinema. Há
originalidade nesse trabalho.
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