quarta-feira, 26 de março de 2014

INSTINTO MATERNO


Antonio Carlos Egypto



INSTINTO MATERNO (Pozitia Copilului).  Romênia, 2012.  Direção: Calin Peter Netzer.  Com Luminita Gheorghin, Bogdan Dumitrache, Florin Zamfirescu.  112 min.


“Instinto Materno” é mais uma manifestação da qualidade do cinema romeno atual.  Obteve o Urso de Ouro no Festival de Berlim 2013 e foi um dos mais destacados filmes da 37ª. Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.  É um trabalho que impacta.

Cornélia (Luminita Gheorghin), sexagenária, tem um único filho: Barbu (Bogdan Dumitrache), com 34 anos de idade, e um instinto maternal fora do comum.  Ela quer decidir tudo na vida do filho, interferir no modo como ele vive e com quem se relaciona.  Ele tenta levar sua vida com autonomia, mas é fraco, deixa-se dominar.



Tal situação se exacerba quando Barbu se envolve num acidente de carro e é acusado pela morte de um rapaz.  Aí Cornélia entra em cena com tudo o que tem, e mais um pouco, para salvar seu filho da condenação e da cadeia.  Vale tudo por essa causa.

Até aqui, estamos no terreno das relações familiares e da dependência mãe-filho.  Mas o filme vai além, já que um dos recursos dessa mãe é sua posição social e o jovem morto pertence a uma família de poucas posses.  “Instinto Materno” mostra o perfil socioeconômico de grande desigualdade que vigora na Romênia pós-comunista.



Por um lado, uma mãe que sufoca e não mede esforços por seu filho.  Mas o trata como se ele fosse incapaz de se virar sozinho.  De outro, o sofrimento dos familiares do morto põe em evidência o que não chega a ser uma novidade: a de que a corda arrebenta do lado mais fraco.  O filme mostra o clima tenso, tanto das relações familiares, como das relações sociais.  Uma câmera nervosa acentua o drama.

A atriz Luminita Gheorghin já traz no nome a luz de um desempenho que toma conta da tela.  Excepcional.  Ela vive uma mãe tão forte e intensa com uma sutileza interpretativa que é notável.  Só por ela já valeria a ida ao cinema.  Só que o filme tem também um belo roteiro, de Razvan Radulescu, um jovem e competente diretor, Calin Peter Netzer, e trata de questões que vão muito além da sociedade romena.  Tem a ver com todos nós.



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