Antonio Carlos Egypto
INSTINTO MATERNO (Pozitia
Copilului). Romênia, 2012. Direção: Calin Peter Netzer. Com Luminita Gheorghin, Bogdan Dumitrache,
Florin Zamfirescu. 112 min.
“Instinto Materno” é mais uma manifestação da
qualidade do cinema romeno atual. Obteve
o Urso de Ouro no Festival de Berlim 2013 e foi um dos mais destacados filmes
da 37ª. Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. É um trabalho que impacta.
Cornélia (Luminita Gheorghin), sexagenária, tem um
único filho: Barbu (Bogdan Dumitrache), com 34 anos de idade, e um instinto
maternal fora do comum. Ela quer decidir
tudo na vida do filho, interferir no modo como ele vive e com quem se
relaciona. Ele tenta levar sua vida com
autonomia, mas é fraco, deixa-se dominar.
Tal situação se exacerba quando Barbu se envolve num
acidente de carro e é acusado pela morte de um rapaz. Aí Cornélia entra em cena com tudo o que tem,
e mais um pouco, para salvar seu filho da condenação e da cadeia. Vale tudo por essa causa.
Até aqui, estamos no terreno das relações familiares
e da dependência mãe-filho. Mas o filme
vai além, já que um dos recursos dessa mãe é sua posição social e o jovem morto
pertence a uma família de poucas posses.
“Instinto Materno” mostra o perfil socioeconômico de grande desigualdade
que vigora na Romênia pós-comunista.
Por um lado, uma mãe que sufoca e não mede esforços
por seu filho. Mas o trata como se ele
fosse incapaz de se virar sozinho. De
outro, o sofrimento dos familiares do morto põe em evidência o que não chega a
ser uma novidade: a de que a corda arrebenta do lado mais fraco. O filme mostra o clima tenso, tanto das
relações familiares, como das relações sociais.
Uma câmera nervosa acentua o drama.
A atriz Luminita Gheorghin já traz no nome a luz de
um desempenho que toma conta da tela.
Excepcional. Ela vive uma mãe tão
forte e intensa com uma sutileza interpretativa que é notável. Só por ela já valeria a ida ao cinema. Só que o filme tem também um belo roteiro, de
Razvan Radulescu, um jovem e competente diretor, Calin Peter Netzer, e trata de
questões que vão muito além da sociedade romena. Tem a ver com todos nós.
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