Antonio Carlos Egypto
ERA UMA VEZ EM ANATÓLIA (Bir ZamanlarAnadalu’da). Turquia, 2011. Direção: Nuri Bilge Ceylan. Com Muhammet Uzuner, Ylmaz Endogan, Taner Birsel. 150 min.
Um homem foi assassinado e
enterrado em algum ponto das estepes da região de Anatólia, na Turquia. Autoridades percorrem esse amplo espaço ao
lado de dois suspeitos do crime, com vistas a resgatar o corpo. Um deles, Kenan, parece ser o criminoso confesso,
pelo que revelam suas atitudes e as exigências das autoridades em relação a
ele. Policiais, coveiros, um promotor
público e o médico legista, ao lado dos criminosos, em três carros, circulam
pela região, chegando a varar a noite e a madrugada com o objetivo desse
resgate.
O problema é que o sítio
geográfico percorrido é monotonamente repetitivo e as referências do local em
que o corpo foi enterrado são apenas a proximidade de uma fonte e de uma árvore
redonda. Fontes e árvores há muitas por
lá e a paisagem bege amarelada dá o tom de um vasto e quase interminável
caminho, cortado por longas estradas de terra. Além disso, o suspeito estava
alcoolizado e não se lembra bem do ocorrido.
Esse é o fio condutor da
história, que deverá revelar um enigma e, como descobriremos depois, um outro
enigma tão importante quanto esse. As
revelações mostram realidades incômodas de serem encaradas e, para chegarmos
até elas, muito tempo passará.
Ceylan mostra, por meio de belos planos gerais, a
geografia da Anatólia e faz das luzes dos carros andando à noite um espetáculo
visual muito caprichado. E, sem pressa,
vai nos mostrando os comportamentos dos personagens na sua humanidade cotidiana
e nas suas necessidades mais básicas, como ter de parar para urinar ou comer em
plena madrugada, por exemplo.
Mas não fique esperando pelo desfecho da
história. Ele virá a seu tempo. Enquanto isso, vale a pena desfrutar, tanto
da beleza plástica do filme, quanto dos diálogos e atitudes aparentemente
banais, que vão revelando as figuras envolvidas no desvelar do crime.
É um belo filme, que dividiu com o excelente “O
Garoto da Bicicleta”, dos irmãos Dardenne, os louros do Festival de Cannes de
2011. E que só agora é lançado nos
cinemas. Em São Paulo, apenas no
Cinesesc. Claro que é um filme para
poucos, já que ele subverte a narrativa clássica e as expectativas. Mas é justamente esse um dos maiores méritos
da película. Quando o público tem a
oportunidade de conferir produções como essa, com o tempo necessário para
descobri-la, alguns filmes se consagram ou se tornam cults. Mas o mercado
exibidor tende a ignorá-los ou lançá-los de modo tímido ou inadequado. E assim muitos acabam simplesmente
desconhecidos do público que poderia apreciá-los.
O diretor turco Nuri Bilge Ceylan já é conhecido
pelos frequentadores de cinemas por filmes como “Três Macacos”, de 2008, e
“Climas”, de 2006. “Distante”, de 2002,
só foi exibido em mostras especiais. É
um filme com muito apuro visual. Gosto
muito de “Climas”, um filme que remete ao cinema de Antonioni, mas creio que
“Era Uma Vez na Anatólia” seja um trabalho superior, tanto pela consistência,
quanto pela elaboração visual.
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