quarta-feira, 24 de agosto de 2022

MARTE UM

Antonio Carlos Egypto

 

 



MARTE UM.  Brasil, 2021.  Direção e roteiro: Gabriel Martins.  Elenco: Carlos Francisco, Rejane Faria, Camila Damião, Cícero Lucas.  114 min.

 

Uma família negra periférica, de classe média baixa, vivendo em Contagem, região metropolitana de Belo Horizonte, é a protagonista do filme “Marte Um”, de Gabriel Martins.

 

A família é formada por Wellington (Carlos Francisco), o pai, porteiro de prédio que adora futebol, seu time o Cruzeiro, e que há quatro anos se afastou do alcoolismo.  Tércia, a mãe (Rejane Faria), que, após um incidente, crê estar presa a uma maldição e experimenta uma depressão por conta disso.  Eunice (Camila Damião), uma jovem que encontra o amor e o sexo na relação com outra mulher e deseja se mudar, sair de casa, embora se dê bem com o pai, a mãe e o irmão menor.  Mas o centro das ações e da narrativa é o menino Deivinho (Cícero Lucas), estimulado pelo pai para abraçar o futebol profissional, mas que na verdade deseja ser astrofísico, para participar da missão Marte Um que, em 2030, deve iniciar a colonização do planeta Marte.

 

Esses personagens, com seus conflitos e problemas, formam uma família unida, com relações afetivas sólidas.  O que permite que as questões que eventualmente incomodem não se tornem motivos de rejeição para ninguém, nem de desagregação familiar.  Faz parte disso a ideia de que o que move cada um é diferente.  O que entusiasma um não vai entusiasmar o outro.  Pelo menos, não da mesma forma.  Que os sofrimentos de um tenham que ser respeitados pelos outros, ainda que seja difícil entender.  Bem, e os sonhos estão acima de tudo, por mais estranhos ou impossíveis que nos pareçam.


 



As ideias de aceitação e de pertencimento é que funcionam como amálgama entre as pessoas dessa família e aqueles que se aproximam dela.  A força do afeto que os une é o que conta e o que vale mais.

 

Toda a trama de “Marte Um” reflete esse clima afetivo, positivo, otimista, apesar dos dramas que, inevitavelmente, se colocam: o medo de se expor, de deixar claro suas opções e preferências, o desencanto com a vida, uma injustiça, um desemprego, o dinheiro que falta no fim do mês.  Um golpe de sorte também pode nos livrar de uma tragédia muito maior do que a que estávamos supostamente vivendo.  Tudo isso pode ser equacionado e resolvido, pelo menos em parte, em função desse afeto.  É uma crença no ser humano, no fim das contas, o que está na base desse otimismo, que não é ingênuo.

 

Um elenco muito bom sustenta a história com muita veracidade.  Algumas sequências embelezam o filme, ainda que existam também algumas cenas descartáveis, que não acrescentam à trama central.  O resultado é um filme que se comunica bem com o público, como atesta a escolha do júri popular do Festival de Gramado 2022 recém encerrado.  Em Gramado também o filme foi agraciado com um prêmio especial do júri, além do de roteiro, para Gabriel Martins, e da trilha musical.  Antes de Gramado, o filme já passou por outros festivais pelo mundo, a partir de sua estreia mundial no Festival de Sundance, e já chega aos nossos cinemas nesta quinta-feira, dia 25 de agosto de 2022.

 

 

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