Antonio Carlos Egypto
MARTE UM. Brasil, 2021.
Direção e roteiro: Gabriel Martins.
Elenco: Carlos Francisco, Rejane Faria, Camila Damião, Cícero Lucas. 114 min.
Uma família negra periférica, de classe
média baixa, vivendo em Contagem, região metropolitana de Belo Horizonte, é a
protagonista do filme “Marte Um”, de Gabriel Martins.
A família é formada por Wellington
(Carlos Francisco), o pai, porteiro de prédio que adora futebol, seu time o
Cruzeiro, e que há quatro anos se afastou do alcoolismo. Tércia, a mãe (Rejane Faria), que, após um
incidente, crê estar presa a uma maldição e experimenta uma depressão por conta
disso. Eunice (Camila Damião), uma jovem
que encontra o amor e o sexo na relação com outra mulher e deseja se mudar,
sair de casa, embora se dê bem com o pai, a mãe e o irmão menor. Mas o centro das ações e da narrativa é o
menino Deivinho (Cícero Lucas), estimulado pelo pai para abraçar o futebol profissional,
mas que na verdade deseja ser astrofísico, para participar da missão Marte Um
que, em 2030, deve iniciar a colonização do planeta Marte.
Esses personagens, com seus conflitos e
problemas, formam uma família unida, com relações afetivas sólidas. O que permite que as questões que eventualmente
incomodem não se tornem motivos de rejeição para ninguém, nem de desagregação
familiar. Faz parte disso a ideia de que
o que move cada um é diferente. O que
entusiasma um não vai entusiasmar o outro.
Pelo menos, não da mesma forma.
Que os sofrimentos de um tenham que ser respeitados pelos outros, ainda
que seja difícil entender. Bem, e os
sonhos estão acima de tudo, por mais estranhos ou impossíveis que nos pareçam.
As ideias de aceitação e de
pertencimento é que funcionam como amálgama entre as pessoas dessa família e
aqueles que se aproximam dela. A força
do afeto que os une é o que conta e o que vale mais.
Toda a trama de “Marte Um” reflete esse
clima afetivo, positivo, otimista, apesar dos dramas que, inevitavelmente, se
colocam: o medo de se expor, de deixar claro suas opções e preferências, o
desencanto com a vida, uma injustiça, um desemprego, o dinheiro que falta no
fim do mês. Um golpe de sorte também
pode nos livrar de uma tragédia muito maior do que a que estávamos supostamente
vivendo. Tudo isso pode ser equacionado
e resolvido, pelo menos em parte, em função desse afeto. É uma crença no ser humano, no fim das
contas, o que está na base desse otimismo, que não é ingênuo.
Um elenco muito bom sustenta a história
com muita veracidade. Algumas sequências
embelezam o filme, ainda que existam também algumas cenas descartáveis, que não
acrescentam à trama central. O resultado
é um filme que se comunica bem com o público, como atesta a escolha do júri
popular do Festival de Gramado 2022 recém encerrado. Em Gramado também o filme foi agraciado com
um prêmio especial do júri, além do de roteiro, para Gabriel Martins, e da
trilha musical. Antes de Gramado, o
filme já passou por outros festivais pelo mundo, a partir de sua estreia mundial
no Festival de Sundance, e já chega aos nossos cinemas nesta quinta-feira, dia
25 de agosto de 2022.
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