DEUS É MULHER E SEU NOME É PETÚNIA. Macedônia do Norte, 2019. Direção: Teona Strugar Mitevska. Com Zorica Nusheva, Labina Mitevska, Suad Begovski,
Stefan Vujisic. 100 min.
Este filme é uma produção que envolve a
participação de oito países, capitaneados pela Macedônia do Norte, terra natal
da diretora e onde se desenvolve toda a história. A narrativa mostra uma mulher – Petúnia –
recolhendo uma cruz jogada no rio, num ritual religioso, exclusivo para
homens. Ao se discutir se essa mulher
teria ou não esse direito, pela tradição, pela religião e, quem sabe, até por
alguma lei, o que se explicita é o patriarcado.
Às mulheres é reservado um papel necessariamente de coadjuvante, seja
qual for a importância do assunto, nesse caso, uma tradição que, evidentemente,
poderia ser mudada ou reinterpretada.
Reforça-se, a partir daí, a necessidade imperiosa do feminismo e sua
luta de resistência para questionar tantas coisas naturalizadas, que chancelam
e subjugam a mulher no contexto social.
O que vale para lá, vale certamente para cá. O filme é eficiente nesse propósito, fazendo
um fato que poderia ser encarado como banal render uma bela discussão. Incluindo o papel da imprensa, pela ação das
mulheres jornalistas, evidenciando algo que estava encoberto e que gostaria de
permanecer assim.
DEUS É MULHER, SEU NOME É PETÚNIA |
LA LLORONA.
Guatemala, 2019. Direção: Jayro
Bustamante. Com María Mercedes Coroy,
Sabrina de La Hoz, Julio Díaz, Margarita Kénefic. 93 min.
Um genocídio na Guatemala fica no limbo até
que, 30 anos depois, um processo criminal é aberto. Contra um general aposentado, que teria sido
o principal responsável pelo poder de que dispunha na época. Acompanha-se o processo, a tentativa, mais uma
vez, de negar o genocídio e, apesar do julgamento, a ocorrência de uma
anulação. A inconformidade do povo
indígena atingido então se faz notar ruidosamente, nas ruas, na frente da casa
do general Enrique. Ele, já sem o
domínio completo de si mesmo, delira, vive uma paranoia marcada pelo espírito
da chorona do título. Filme político
bastante competente, forte nas denúncias, mas que busca inspiração também no
fantasmagórico, digamos assim. O diretor
Jayro Bustamante tem mais um filme de 2019 sendo exibido na Mostra: TREMORES,
em que o foco é o tratamento evangélico conhecido como cura gay. Expõe a
discriminação familiar e social da homossexualidade, confundida até com
pedofilia, e os tremores de terra que costumam abalar com regularidade a
Guatemala. O resultado é menos brilhante
do que LA LLORONA, mas é bom. Mostra um
cineasta muito produtivo do país, com o aporte de recursos franceses e de
Luxemburgo.
FILHOS DA DINAMARCA. Dinamarca, 2019. Direção e roteiro: Ulaa Salim. Com Zaki Youssef, Mohammed Ismail, Rasmus
Bjerg. 117 min.
Filhos
da Dinamarca é o nome de uma organização política de
extrema-direita, de inspiração neonazista, que pratica atos terroristas, tendo
como plataforma, praticamente única, o combate e a expulsão de todos os
imigrantes do país. Mesmo os que estejam
lá há mais de 20 anos, por exemplo. O
líder político nacionalista e extremista Martin Nordahl que expressa essas
ideias chega ao poder com uma vitória brilhante nas urnas, que o faz alcançar o
posto de Primeiro Ministro. E o
terrorismo se multiplica, tanto de um lado, quanto do outro, o da
resistência. A trama que envolve
traições, espionagem e ação política extremada, ainda é ficção, mas, segundo a
concepção do diretor Ulaa Salim, dinamarquês de origem iraquiana, isso está
batendo à porta. Ele imagina essa trama
em 2025. Claro que os indícios já estão
por lá, com atiradores e tudo o mais, como sabemos. Outro filme político muito bem feito e
oportuno, que faz a gente pensar e se preocupar de verdade com o que pode vir
por aí, já que as sementes estão plantadas em muitos lugares.
FILHOS DA DINAMARCA |
A GAROTA COM A PULSEIRA. França, 2019.
Direção e roteiro: Stéphane Demoustier.
Com Mélissa Guers, Chiara Mastroianni, Roschdy Zem, Anais Demoustier. 95 min.
Um filme de tribunal, basicamente, é o que é A
GAROTA COM A PULSEIRA. Pulseira? Bracelete?
Não é bem isso. Trata-se de um
julgamento de Lise, uma garota de 16 anos, acusada de assassinar a facadas a
melhor amiga. À medida em que os fatos
vão sendo destrinchados, aparecem evidências da vida sexual dos adolescentes,
que surpreendem e assustam os adultos.
As réguas que servem para medir, por exemplo, ciúmes, atração, traição,
desejos, nas gerações passadas, hoje não valem mais. E então o que fazer? O risco é confundir as coisas e julgar, não
os fatos, mas os comportamentos morais dos jovens. Mostra, portanto, a falibilidade a que está
sujeita a justiça, que tem muita dificuldade de olhar e ver qual é o real
panorama que a sociedade expressa. E,
evidentemente, o despreparo dos pais e das famílias para lidar com essa nova
moral dos jovens, em que as experiências não estão marcadas por compromissos,
desde que o ficar se popularizou na década de 1980. Boa realização, ótimo elenco.
Parece ser muito bons, pelos comentários detalhados que nos deixa quase assistindo esses filmes. Não assisti a eles pois não passaram no Cine SALA... Pretendo vê-los quando ou se passarem novamente em outras ocasiões!!!MARIA. NAVARRO de MESQUITA.
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