Antonio Carlos
Egypto
O Oscar de melhor filme estrangeiro (ou de língua não
inglesa) se dá a partir de uma pré-seleção, em que cada país, que assim o
desejar, pode indicar o seu representante a cada ano. São muitos os países que fazem essas
indicações. Alguns desses filmes
indicados estão em cartaz nos cinemas do Brasil e podem ser conferidos.
THELMA (Thelma)
é o indicado pela Noruega. Dirigido
por Joachim Trier, tem no elenco Eili Harboe, Kaya Wilkens, Henrik
Rafaelsen. Uma bela e caprichada
produção, voltada para o terreno do mistério e dos fenômenos
sobrenaturais. Na linha do pensamento
que cria a realidade. Thelma (Eili
Harboe) é uma garota estranha, desencontrada, solitária. Ela pode até encontrar o amor em outra
mulher, mas seus superpoderes podem acabar levando-a ao crime. Quantas vezes não desejamos coisas
perigosas? E se fosse possível criá-las,
até mesmo contra a própria vontade? Por
razões inconscientes, ou por impulso? O
tema é bem trabalhado, o que torna o filme instigante, além de plasticamente
belo. 116 min.
BARREIRAS (Barrage)
é o indicado de Luxemburgo. Dirigido por
Laura Schroeder, tem uma equipe composta praticamente só por mulheres,
protagonizado por atrizes, e trata de um drama sobre a questão da
maternidade. Nele, a personagem
Catherine (Isabelle Huppert) parte da Suíça para Luxemburgo, em busca de
retomar a maternidade. Vai lutar para
ser a mãe de sua filha Alba (Lolita Chammah, filha de isabelle Huppert também
na vida real), de quem não soube cuidar no passado e, talvez, não saiba ainda. Alba ficou sob os cuidados da avó materna,
Elisabeth (Themis Pauwels). Mãe e filha
se confrontam em duas gerações, oscilando entre o carinho e o
distanciamento. A temática é boa, as
atrizes, ótimas, mas ao filme falta ritmo, intensidade dramática e
entusiasmo. Permanece numa zona
cinzenta, que induz à platitude. 112
min.
VERÃO 1993 (Estiu
1993) é o indicado para concorrer pela Espanha. O filme é dirigido pela cineasta catalã Carla
Simón, em seu primeiro longa. É também
um filme sobre mulheres, mas numa outra faixa de vida: a infância. O foco é Frida (Laia Artigas), de apenas 6
anos de idade, que sofre a perda dos pais e vai de Barcelona para o interior da
Catalunha, enfrentar essas perdas na propriedade rural dos tios, convivendo
também com a pequena Anna (Paula Robles).
No elenco, David Verdaguer, como Esteve, e Bruna Cusí, como Marga, fazem
o casal de tios. O filme é muito
competente, ao nos colocar no mundo de Frida.
Sabemos o que ela sabe, vemos o que ela vê, vivemos o que ela vive e
sentimos o que ela sente. É um belo
exercício de empatia, que faz bem para qualquer pessoa. Em que pese a dor inevitável da situação
retratada. O trabalho com as atrizes
mirins, especialmente Laia Artigas, a protagonista, é maravilhoso. Ela sustenta o filme de modo admirável. Carla Simón mostrou grande talento para lidar
com crianças em cena. O resultado merece
ser conhecido pelo público. 97 min.
MULHERES DIVINAS (Die
Göttliche Ordnung) é o indicado pela Suíça.
Uma vez mais, é dirigido por uma mulher, Petra Volpe, em seu segundo
longa, e trata do direito ao voto feminino no país, só legalmente efetivado
pelos homens na incrível data de 07 de fevereiro de 1971. Um absurdo para um país desenvolvido como a
Suíça. O filme mostra que, numa pequena
cidade, as coisas eram ainda mais ridículas, em pleno período de movimentos
sociais que sacudiram a Europa, especialmente a França, em 1968. O filme é quadradinho na concepção, mas
envolve e atinge o público. No elenco, Marie Leuenberger, Max
Simonischek, Rachel Braunschweig, Sibylle Brunner. 96 min.
Outros indicados, que também estão sendo exibidos, já
foram comentados por aqui, a grande maioria, em matérias referentes à 41ª.
Mostra Internacional de Cinema em São Paulo.
O representante argentino é ZAMA, de Lucrécia Martel, que está chegando
aos cinemas agora. O impactante THE SQUARE, de Ruben Östlund, representa a Suécia.
GLORY, de Kristina Groseva e Peter Valchanov, é o ótimo representante da
Bulgária. Tem ainda FÉLICITÉ, de Alain
Gomis, indicado pelo Senegal, e O MOTORISTA DE TÁXI, de Jang Hoon, um belo
trabalho que representa a Coreia do Sul.
Todos esses concorrentes do nosso BINGO, O REI DAS MANHÃS, de Daniel
Rezende, (e o próprio BINGO) podem ser acessados, por quem não os leu, no campo
de pesquisa do blog, digitando o nome do filme ou o do diretor, por
exemplo. E há muitos outros concorrentes
que ainda não vi ou não foram exibidos.
A disputa é grande. Afinal, há
bom cinema em todo o mundo e aparecer no Oscar é sempre muito vantajoso, em
termos de visibilidade e distribuição mundo afora.
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