quarta-feira, 8 de novembro de 2017

A TRAMA

  
Antonio Carlos Egypto




A TRAMA (L’Atelier).  França, 2017.  Direção e roteiro: Laurent Cantet (roteiro em parceria com Robin Campillo).  Com Marina Fois, Matthieu Lucci, Warda Rammach, Issam Talbi, Florian Beaujean.  114 min.


Laurent Cantet, o cineasta de “Entre os Muros da Escola”, de 2008, acredita na educação como caminho de promoção humana e de saída para alguns dos grandes problemas do mundo contemporâneo.  Em “A Trama”, isso é, mais uma vez, muito claro.  A narrativa mostra uma oficina literária coordenada por uma escritora já reconhecida, Olívia (Marina Fois), e dirigida a um grupo de jovens, interessados e com talento para a escrita, uns mais, outros menos, que revela a diversidade.  Ali estão jovens que representam diferentes etnias, imigrantes, extratos sociais e, consequentemente, posturas e visões de mundo.  Neste sentido, formam um microcosmos da realidade atual da França, ainda que se trate aqui de uma pequena cidade industrial, com sua história e características próprias.  Por sinal, essa história e essas características serão objeto da criação dos jovens candidatos a escritor, como referencial fundamental da história policial que eles estão a criar coletivamente.

Um desses jovens é Antoine (Matthieu Lucci), que vive o tédio e a falta de trabalho e de perspectivas, convivendo com uma gangue que cultiva atos de violência.  No que escreve, Antoine vai revelando seu fascínio por essa violência, o que vai provocar reações contrárias, assustadas ou indignadas, por parte do grupo.  E que leva Olívia a buscar entender e interferir no mundo dele, correndo os riscos correspondentes a uma aproximação que se fará para além da oficina literária.




O próprio contexto da história já é um importante trabalho educacional: a formação de novos escritores de ficção, com valorização da palavra, da expressão escrita, do debate de ideias e do estímulo à criação.  Envolve o questionamento de valores e atitudes, busca fazer pensar, refletir sobre o que se produz.  Educação pela arte, da melhor qualidade.

Os conflitos que daí vão derivar só tomam o rumo que tomam porque na base está um processo educacional de verdade.  E a resolução final é uma nova crença no processo educativo.

O diretor Cantet fez um belo trabalho, que, longe de ser otimista, consegue passar ao largo de uma tendência cada vez maior de descrença no ser humano e em qualquer possibilidade de enfrentar e superar as tragédias do mundo contemporâneo.  Ele mostra claramente o que nos aflige, sem dourar a pílula, mas não sucumbe à derrota.  Tal como se autodefinia Ariano Suassuna, o trabalho de Laurent Cantet também é de um realismo esperançoso.


Laurent Cantet na 41.a Mostra


“A Trama” mostra vida real: estranhamentos, rejeição, medo, atração por atitudes preconcebidas e violentas.  Mas não fica só nisso.  Entende que todos os afetos fazem parte da vida humana.  Também estão lá o acolhimento, a compreensão, a solidariedade e o perdão.  E um apelo à racionalidade, quando os ânimos estão quentes.

O trabalho com o elenco é muito bom.  Os protagonistas, muito convincentes e todo o grupo de jovens, também.  Ninguém distoa e o clima e o ritmo da filmagem nos convidam o tempo todo a analisar o que está acontecendo e a tirar as nossas próprias conclusões.


“A Trama” foi o filme de encerramento da 41ª. Mostra Internacional de Cinema em São Paulo e já está entrando em cartaz no circuito comercial.



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