Antonio Carlos
Egypto
A GAROTA DE FOGO (Magical
Girl). Espanha, 2014. Direção e roteiro: Carlos Vermut. Com José Sacristán, Bárbara Lennie, Luís
Bermejo, Lucía Pollán. 127 min.
“A Garota de Fogo”, do cineasta espanhol Carlos
Vermut, é uma bela surpresa. Um filme
criativo e um tanto maluco, capaz de provocar e intrigar o espectador. Brinca com o fantástico de forma
dramática. Explora o suspense, na linha
dos filmes policiais e tem humor, inclusive non
sense. Tudo superposto, num
emaranhado que não segue o ritmo cronológico.
Enfim, um quebra-cabeças e tanto.
O que aparece como fragmento, muitas vezes estranho,
acaba fazendo sentido depois. O que não
se espera também não decepciona. Era por
aí mesmo, embora a gente não tivesse imaginado.
Ou então assusta, é uma doidice, mas que dá para entender, dentro do
contexto da trama.
Que uma menina de 12 anos, com leucemia e chance de
morrer antes de completar os 13 anos, esteja num mundo mágico de fantasia e
tenha desejos que, para serem realizados, vão implicar muito dinheiro e ela nem
tenha noção disso, é perfeitamente compreensível. Que um pai queira realizar esse desejo para
compensá-la, também. Ainda que isso seja custoso demais e totalmente
irracional, já que se situa no terreno da pura fantasia de consumo, que não
passou nem no mais elementar teste crítico.
Já roubar, chantagear, tentar manipular outras pessoas para obter isso, é
algo inconcebível.
Acontece que, em “A Garota de Fogo”, o inconcebível
cabe perfeitamente. Tudo pode ser
concebido e se encaixar na narrativa. Há
várias outras situações parecidas, em que o comportamento dos personagens
escapa à lógica ou eventos são envoltos em grande mistério. O espectador preenche a lacuna, com a sua
própria imaginação. O que pode tornar a
história mais excitante ou maluca ainda.
Tudo muito bem feito, cenas bem concebidas, elenco
rendendo muito bem, surpresas, suspense, estranhezas a toda hora. E a gente embarca no universo disfuncional de
Carlos Vermut.
Não surpreende que Pedro Almodóvar tenha dito que
Vermut é o maior talento espanhol deste século XXI. Claro, “Magical Girl” se inspira fortemente
no estilo almodovariano. Não conheço
outros trabalhos desse diretor e roteirista. A julgar pelo trailer de sua obra anterior, “Diamond Flash”, de 2011, o clima
parece ser também intenso, dramático e de suspense, mas sem a exuberância do
filme atual. De qualquer modo,
percebe-se que Vermut é capaz de transitar por diferentes climas e estilos, se
quiser. Tem amplo domínio da linguagem
cinematográfica para tal.
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