Antonio
Carlos Egypto
ENQUANTO SOMOS JOVENS (While We’re Young). Estados Unidos, 2014. Direção e roteiro: Noah Baumbach. Com Ben Stiller, Naomi Watts, Amanda Seyfried, Adam Driver. 97 min.
“Enquanto Somos Jovens” é uma simpática, inteligente
comédia do mesmo diretor de “Frances Ha”, êxito dos cinemas em 2013. E que conta com um bom elenco.
Josh (Ben Stiller) e Cornélia (Naomi Watts) formam um
casal quarentão de Nova York, que vive bem e feliz. Eles não tiveram filhos, mas isso não é visto
como problema, mas como opção. Apelos
evidentes vêm por meio de outros casais amigos, que estão engravidando ou
cuidando de crianças pequenas, aí incluídos os programas e festinhas a que eles
também costumam ser convidados.
A aproximação com um casal mais jovem, na faixa dos
25 anos, põe em xeque a aparente acomodação que tomou conta da vida de Josh e
Cornélia.
Jamie (Adam Driver) e Darby (Amanda Seyfried) são
espontâneos, têm espírito livre e aventureiro.
A juventude de que desfrutam exerce um forte atrativo para o casal
quarentão, que começa a querer se renovar, sintonizar com os novos tempos.
Desse confronto entre acomodação versus liberdade,
próprio de diferentes faixas etárias, se alimenta o espírito da comédia. Mas há dados muito interessantes, que irão
mostrar a relatividade dessa história. A
constatação de que os mais jovens se sentem atraídos por uma tecnologia antiga,
revalorizando as máquinas de escrever, as vitrolas, os LPs e os videocassetes,
por exemplo, enquanto os mais velhos não dispensam seus smartphones, Ipads,
netflix.
As diferenças geracionais, no entanto, estão mais
relacionadas a questões éticas, jeito de viver a vida, ambições e caminhos para
solucionar problemas profissionais e a forma de lidar com o dinheiro do que às
questões tecnológicas. E é por aí que o
filme vai enveredar. Não só para
produzir o riso, mas para questionar o valor dessas diferenças. O grande mérito dessa comédia é não ficar na
mera superfície e nos fazer ver que, muitas vezes, o que nos parece errado,
inadmissível, pode não significar maldade, falta de caráter ou bandidagem, mas
obedecer a outro padrão ético.
Questionável como todos os outros, mas não certo ou errado por
princípio. Afinal, a ética e a moral são
frutos do tempo e da estrutura social vigente ou em gestação. Não há como
escapar disso. Nem há valores ahistóricos.
Mas também é difícil estabelecer valores amplos que
valham para os diferentes extratos geracionais, as diversas classes sociais e
os diferentes referenciais da cultura a que as pessoas e os grupos se vinculam.
Como se entender em meio a todas essas distinções e
perceber que o seu modo de pensar e agir pode não servir de baliza aos outros e
até soar estranho a eles? E o que fazer
com isso? Desesperar-se, tentar mudar o
mundo, relaxar e gozar? Façam suas
apostas, enquanto se divertem com “Enquanto Somos Jovens”.
Aproveitem para conferir a programação do PANORAMA DO CINEMA SUIÇO CONTEMPORÂNEO, já em andamento. Há muita coisa boa para ver. No CINESESC e Centro Cultural do Banco do Brasil. E a programação do cinema sueco atual na Cinemateca Brasileira.
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