Vamos falar um pouco do filme “Lady Vingança”, que poderia se chamar “A Senhora Vingança” ou “A Dama Vingança”, se as propostas de combate ao estrangeirismo do deputado federal Aldo Rebelo já tivessem conquistado corações e mentes. Mas não é o caso. Se até Roberto Carlos compôs uma canção chamando sua mãe de “Lady Laura”, por que o filme não pode se chamar “Lady Vingança”?
Trata-se de uma produção da Coréia do Sul, dirigida por Park Chan-Wook, em 2005, que completa a trilogia iniciada em 2002 por “Mr. Vingança” e continuada em 2003, por “Oldboy” (olha aí o estrangeirismo outra vez!).
O filme é esteticamente bonito, o diretor busca posições de câmera e ângulos que criam um clima que tende a prender o espectador diante da história. Vistas isoladamente, todas as cenas são atraentes, mesmo as mais violentas e as que enchem a tela de sangue. O filme é bastante violento, embora não cheguem a ser cenas de violência explícita, o que é um mérito, se comparado a muitos produtos hollywoodianos da atualidade. Já a gratuidade da violência aparece de forma muito evidente. O trabalho com a luz, as cores e a bela fotografia tornam o filme sedutor.
A história, porém, é banal, apesar do esforço que se faz para complicá-la e parecer mais profunda ou importante do que de fato é. É aquela manjada trama na qual uma mulher confessa um crime que não cometeu e, ao se perceber traída, arquiteta, durante os treze anos da prisão, uma vingança exemplar e definitiva para o verdadeiro criminoso. Tem também uma filha que teve de ser entregue para adoção, por causa da pena de prisão a ser cumprida pela mãe. E o anjo vira bruxa na prisão, ao encarar a maldade em estado bruto, enfrentando-a com mais maldade ainda. E por aí vai. Sempre na base do “olho por olho, dente por dente”.
Dá para ver o filme como entretenimento requintado? Até dá, se você achar que a violência das telas é mero espetáculo inócuo e que todos sabem que aquilo não existe: equivale a um videogame. O problema é a ideologia desse tal entretenimento, que não só justifica como valoriza a vingança pelas próprias mãos, recusa a lei e pretende ser tão cruel quanto o assassino, glamourizando até mesmo a tortura. É válido matar e torturar criminosos – maldosos assassinos de criancinhas – se seus pais forem os executores das ações? Pense nisso. Será que estaremos construindo algo quando a violência aparece como resposta para a própria violência, ou estaremos aprofundando a barbárie, cada vez mais?
E por que uma trilogia de filmes para esquadrinhar os diversos aspectos da vingança? Com que objetivo? Este “Lady Vingança” pretende discutir a redenção e a expiação da culpa, mas não contextualiza nada, como se a maldade fosse algo natural, sem nenhuma relação com a história da humanidade ou com a evolução do ser humano em sociedade. Pode?
O DVD de “Lady Vingança” informa, nos extras, que o diretor resolveu seguir a carreira de cineasta depois de ver “Um Corpo Que Cai”, de Hitchcock, mas sua inspiração está mais para Quentin Tarantino, que, por sinal, elogia muito Park-Chan Wook. Tem quem goste.
(Crítica Radiofônica do filme Lady Vingança)
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