domingo, 19 de outubro de 2025

FILMES QUE VI NA MOSTRA 49

Antonio Carlos Egypto

 

Fiume o Morte


Um dos melhores filmes que vi na Mostra 49 até agora foi, sem dúvida, FIUME O MORTE, que representa a Croácia na disputa pelo Oscar de filme internacional.  O diretor Igor Bezinovic nasceu em Rijeka, antiga Fiume, hoje Croácia.  Essa cidade portuária do Mar Adriático Norte já foi considerada parte de diferentes países, como a antiga Iugoslávia, Eslovênia, Itália e até como Cidade-Estado independente.  Complicado de entender.  Mas, em 1919, após a Primeira Guerra Mundial, a cidade foi tomada por cerca de 300 soldados liderados pelo poeta italiano Gabriele D’Annunzio, um fascista antes mesmo da ascensão de Benito Mussolini, interessado em anexá-la à Itália.  O filme começa conversando com os atuais habitantes sobre a figura de D’Annunzio e o que ele significa para a história da cidade, em que seu nome aparece com frequência.  Numa abordagem crítica, irônica e mesmo sarcástica, essa historiografia é revisitada, refazendo cenas e fotos do período abordado, criando situações curiosas, divertidas e inteligentes.  Ao perguntar a vários carecas, com aparência e idade similares à de Gabriele D’Annunzio na época, se gostariam de desempenhar o papel dele no filme, vários concordaram e todos fazem o papel, em rodízio, durante a narrativa.  A cada etapa mostrada a análise crítica aborda o absurdo e o ridículo das situações, num estilo leve, porém, sério.  O clima é perfeito, ainda que não possamos entender toda essa complexa história de Rijeka (Fiume).  Um cinema talentoso, com muito frescor e comunicação, esperta e engraçada.  112 min.

 

Também vi e gostei, na Mostra 49, do filme do Reino Unido, CÍRCULO RETO, da competição Novos Diretores, de Oscar Hudson.  Trata da relação que se estabelece entre dois soldados adversários, que dividem um espaço fronteiriço em pleno deserto, absolutamente vazio.  A situação é absurda e que sentido tem identidades nacionais, patriotismo, regras a serem cumpridas com fidelidade nesse isolamento?  O convívio forçado e o conflito inevitável acabam por borrar as diferenças e aproximar o que é aparentemente oposto.  A ponto de tudo se perder e se misturar.  O filme explora com talento essa narrativa simbólica, vale-se de dois quadros simultâneos em parte do tempo e investe num clima de non sense.  Com dois ótimos atores protagonistas: os irmãos gêmeos Luke Tittensor e Elliot Tittensor.  109 min.

 

Círculo Reto

Também vi FRANKENSTEIN, de Guillermo del Toro, produção estadunidense, com 149 minutos de duração.  Trata-se de um hiperespetáculo, extravagante, hiperbólico, sobre o tema clássico de Mary Shelley do cientista Victor Frankenstein, que cria um monstro.  Sua criatura, no filme atual, tem uma força descomunal, capaz de movimentar com as mãos um navio cheio de gente.  E mais: é absolutamente indestrutível, fadado a se recompor eternamente, resistindo a tudo, nem dinamite é capaz de destruí-lo.  Sendo assim, torna-se uma vítima da chamada vida eterna.  E se enraivece com isso.  Há sequências brilhantes, espetaculares, embaladas por uma música sempre intensa.  Muito sangue e violência.  Não fica nada a dever aos chamados filmes de super-heróis.  Del Toro transforma a criatura de Frankestein num super vilão, digamos sem culpa, sem maldade no coração.  Assustador, de arrasar quarteirões.  Não é assim que são chamados os blockbusters?  Em breve nos cinemas e na Netflix, para quem gosta do gênero.

 

Também vi SEIS DIAS NAQUELA PRIMAVERA, coprodução de Luxemburgo, Bélgica e França, dirigida por Joachim Lafosse.  Uma situação de drama familiar, envolvendo o direito dos netos a frequentar uma casa de praia do avô paterno, negada à mãe divorciada com quem eles vivem.  Essa família, ainda assim, vai ao local secretamente e levando o novo namorado dessa mãe.  Um detalhe, a família é negra e o namorado, branco.  O que supõe algum tipo de problema que, no entanto, é sugerido, mas não é explicitado.  Aliás, todo o clima do filme é soft.  Há uma tensão suave no ar e nada de mais intenso acontece.  Um bom filme, que não chega a empolgar.  92 min.

 

A Sombra de Meu Pai

Vi, ainda, na Mostra 49, A SOMBRA DE MEU PAI, de Akinola Davies Jr., da Nigéria e Reino Unido, competição Novos Diretores.  Em Lagos, na Nigéria, um pai que tem estado muito ausente tem a oportunidade de conviver com seus filhos, levando-os com ele à cidade grande, onde espera receber salários atrasados a que tem direito.  As eleições presidenciais tinham acabado de acontecer, mas os resultados esperados não tinham sido proclamados.  Com a esperança de melhoria de vida com o novo governo, eles conhecem a resposta quando ainda estão na metrópole e tentam voltar à sua vila em paz.  Só que a agitação política já se instalou.  Um filme que, com um elenco muito bom, explora bem o clima afetivo que aproxima pai e filhos, as agruras da vida que se dissolvem em pequenos bons momentos, a esperança que sempre existe e a sofrida democracia do nosso tempo.  94 min.

 

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quinta-feira, 16 de outubro de 2025

SIRÂT e QUEEN KELLY

Antonio Carlos Egypto

 

 


SIRÂT.  Espanha.  Direção: Oliver Lake.  Elenco: Sergi López, Bruno Nuñez, Stefania Gadda, Joshua Liam Henderson, Jade Oukid. 120 min.

 

“Sirât”, o filme de abertura a 49ª. Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, é o representante da Espanha na disputa do Oscar de melhor filme internacional.  É um road movie todo passado nos desertos do Marrocos e tem coprodução francesa.  O diretor Oliver Lake nasceu na França, de uma família de imigrantes espanhóis.

 

“Sirât “ é um filme que comporta muitos adjetivos para defini-lo.  É impressionante, impactante, doloroso emocionalmente, vibrante, desafiador, notável.

 

É um filme que mexe com todo mundo, dá até para detestar, mas não dá para esquecer, nem ficar indiferente.  Reflete o mundo em que vivemos, o clima de guerra que o define, o temor até de uma Terceira Guerra Mundial.  O ambiente explosivo em que estamos todos envolvidos e também o desencanto e o desamparo.  E, mais do que tudo isso, o filme nos mostra que, definitivamente, não estamos no controle das coisas, nem das nossas próprias vidas, nem de nós mesmos.  O século XXI seria uma espécie de “xeque-mate” do que já sabemos desde Darwin, Freud e Marx.  Claro, não dá para ser otimista diante das circunstâncias.  Mas pessimismo inerte é derrota. É preciso agir, da forma que for possível.

 

Um pai e um filho ainda pequeno que circulam por festas rave no deserto marroquino, em busca da filha e irmã que não veem há dois meses, seguem um grupo de jovens errantes, espécie de hippies da atualidade.  Eles tentam viver e dançar ao som das batidas da música, que é puro ritmo, ao lado de centenas, milhares de integrantes dessas festas, que já estão sendo coibidas pela polícia e podem ser as últimas explosões de vida ainda permitidas.  Dançar, interagir, buscar uma saída lisérgica para suportar os fatos pode ser um caminho para eles.

 

Um caminho a que vai se somar a família que busca sua integrante que está distante.  Curtindo o mesmo vigor de música e dança no deserto, pelo que  se sabe dela.  Até onde se pode ir nesse ambiente árido e inóspito, por caminhos quase intransitáveis, num mundo nada protetor, em guerra e opressões diversas?

 

Uma reflexão para lá de relevante, sem dúvida.  O filme também flerta com uma ideia mística.  Se não temos o controle, estamos à mercê dos desígnios de Deus.  Pode ser visto assim, mas simplifica muito as coisas.  E tende a levar à acomodação.  E aí, será que tem saída?  Vamos ficar no clichê: a esperança é a última que morre?  De onde ela virá? Dos povos, espero.

 

 


Um destaque importante da Mostra 49, que inclui clássicos do cinema restaurados, é QUEEN KELLY, dirigido por Erich von Stroheim, em 1929, com Gloria Swanson como atriz principal e também produtora.  A nova cópia e montagem do filme, que permaneceu inacabado e já teve várias versões fragmentadas exibidas, procura incorporar textos e imagens (fotos, por exemplo) do roteiro original do diretor, que tinham sido censurados quando ele foi demitido.  Vale a pena ver essa nova versão restaurada, que acaba revelando, com a segunda parte, as razões de tanta polêmica e desconforto com esse clássico do cinema norte-americano e seu celebrado e destacado diretor austríaco Stroheim.  

                  

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quarta-feira, 15 de outubro de 2025

RADU JUDE NA MOSTRA 49

Antonio Carlos Egypto

 


Kontinental'25

  

O cineasta da Romênia, Radu Jude, tem dois filmes na Mostra 49, ambos lançados em 2025: “Kontinental’ 25” e “Drácula”.

 

KONTINENTAL’ 25 se passa em Cluj, principal cidade da Transilvânia, belíssima, a julgar pelas imagens que dela oferecem o diretor Jude e o responsável pela fotografia, Marius Panduru.  Começa mostrando um homem em situação de rua, perambulando pela cidade, catando coisas, pedindo esmola e caminhando por um parque com dinossauros (a Disney de lá?).  A trama, no entanto, vai se direcionar para a personagem Orsolya, oficial de justiça de Cluj que, ao despejar o homem sem teto do porão do prédio onde ele se alojou, toma todas as providências legais corretas, mas acaba abalada pela morte dele nessa ação.  O filme, então, se concentra na vida dela, a partir daí, de como ela lida com uma culpa que sente, ninguém a acusa de nada, mas ela não consegue lidar com a situação.  Mesmo repetindo inúmeras vezes, para diversas pessoas, o fato ocorrido, com detalhes.  A vida dela se torna errática, ela cancela uma viagem com marido e filhos, enquanto tenta se encontrar, reencontrando casualmente um antigo aluno, buscando ajuda de um padre, depondo junto a colegas de trabalho e autoridades.  O filme é muito crítico em relação ao patriotismo romeno, à exploração imobiliária, à verticalização urbana, às origens húngaras da personagem, que a situam na contramão do regime opressivo (embora democrático pelo voto) de Victor Orbán, assim como o passado ainda recente do comunismo terrível de Nicolae Ceaucescu (1918-1989).  A culpa pode ser uma questão individual muito complicada de se lidar, mas está indelevelmente ligada às questões morais, religiosas, e valores que a sociedade professa no sexo, no casamento, na família, no trabalho.  Tudo isso é parte do drama, que não dispensa o humor e a irreverência num filme muito bem realizado em todos os sentidos: roteiro, fotografia, interpretações do elenco, música, ritmo, excentricidades que surgem, como as piadas budistas, entre outras curiosidades.  Um filme impecavelmente moderno.  109 min.

 


Drácula

Em DRÁCULA, Radu Jude tem outro tipo de abordagem, muito mais caricata, provocadora e demolidora, sem qualquer pudor ou limitação.  Inclusive, no exagerado tempo de duração do filme, desnecessários 170 minutos.  Acontece que, na prática, são vários filmes em um.  Um jovem cineasta se apresenta e nos apresenta uma novela, baseada em encenações e shows baratos de vampiros, que acabam sendo perseguidos pelos espectadores.  A novela vai sendo o tempo todo interrompida pelo tal cineasta, criando ilimitadas possibilidades de filmes, com a utilização da Inteligência Artificial, inspirados no mito original de Drácula, vampiros, zumbis, o retorno de Vlad, o empanador, a primeira novela romena sobre vampiros.  Ou seja, vai de Drácula de Murnau às mais variadas apelações e banalidades, incluindo até mesmo um vampiro capitalista explorador, inspirado em Karl Marx.  Cabe tudo nessa digressão permanente.  Da mais descarada pornografia ao uso mais absurdo de imagens de Inteligência Artificial.  É uma loucura divertida, embora muitíssimo exagerada.  O que é constantemente criticado pelo próprio personagem do cineasta, que tenta agradar o público o tempo todo, mas nada parece bom. Ou poderia ser muito diferente. Afinal, tudo é muito extravagante, fora do comum, distante da realidade.  Mas se o público quiser realismo também cabe, só que aí tudo perde a graça.  É um filme inteligente, inegavelmente, mas não é agradável de se ver.  Pelo menos, não por tanto tempo.  Uma hora a menos de filme já bastava para passar o clima e o teor da criação cinematográfica desse talentoso diretor romeno, tão produtivo e original, que é capaz de lançar mais de um filme num só ano.

 

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sábado, 11 de outubro de 2025

BUGONIA E OUTROS NA MOSTRA 49

  Antonio Carlos Egypto

 

Bugonia

BUGONIA.  Reino Unido.  Direção: Yorgos Lanthimos.   Com Emma Stone, Jesse Plemons, Aidan Delbis, Stavros Halkias, Alicia Silverstone.

 Quem conhece algum dos filmes do cineasta grego Yorgos Lanthimos, como “Pobres Criaturas” (2023) ou “Dente Canino” (2009), sabe que o cinema que ele cultiva é insólito.  Situações, conceitos, comportamentos improváveis, constituem as sequências que compõem o filme, não necessariamente encadeadas.  Mas cujo sentido revela-se no conjunto.  “Bugonia”, em especial, é um filme bem estruturado e organizado dentro desse caráter insólito.  Ao mesmo tempo em que nos provoca e nos deixa confusos e perdidos em relação ao que se passa, fica muito claro qual seja sua pauta.  A história da CEO de uma grande empresa que é sequestrada por dois personagens estranhos que acreditam, firmemente, que ela é uma alienígena, nos remete a teorias da conspiração, fake news, crenças fanáticas e mirabolantes, mas também à sensação de finitude da humanidade no planeta Terra.  De maluca esta questão não tem nada.  De fato, estamos cavando nosso fim e isso é assustador.  As abelhas, que estão sendo exterminadas, são um elemento central dessa história e ocupam um papel importante na trama de destruição a que estamos submetidos.  Será pura incompetência dos humanos ou envolveria ações decisivas vindas de fora do planeta?  Parece apenas delirante, mas tem tudo a ver com o que estamos vivenciando na contemporaneidade.  E dá muito o que pensar.  O roteiro é divertido, criativo e bem concebido, em que pese toda a estranheza.  O elenco é muito eficaz para criar o clima do filme.  Especialmente Emma Stone, que já trabalhou com o diretor e levou o Oscar de atriz, mostrando seu enorme talento em “Pobres Criaturas”.  Aqui ela está ótima também.  Para curtir e gostar de “Bugonia” é preciso entrar no clima, sem preconceito.  O resultado compensará o espectador.  120 min.

 

Cabelo, Papel, Água

CABELO, PAPEL, ÁGUA é um documentário poético vietnamita.  Dirigido por Nicolas Graux e Truong Minh Quy.  Coprodução belga e francesa.  Focaliza uma mulher septuagenária que nasceu numa caverna e vive num vilarejo envolta pela natureza, pelos elementos básicos da existência e da sobrevivência, mas sai para ir a Hanói ajudar sua filha no parto e com o bebê.  Descobre uma cidade imensa, que a confunde, onde as pessoas têm dificuldade para lidar com necessidades básicas, como a alimentação e o trabalho.  Isso a faz sonhar com suas origens e voltar a elas em busca de paz e felicidade, enquanto seu idioma natal, o ruc, está em vias de se extinguir.  Filme bonito, contemplativo, que explora não uma trama, mas uma realidade sensorial.  71 min.

 

Duas Vezes João Liberada

DUAS VEZES JOÃO LIBERADA, da diretora portuguesa Paula Tomás Marques, trata da realização de um filme sobre uma figura perseguida pela Inquisição no século XVIII, por sua inadequação de gênero.  Ou seja, um caso de transexualidade, quando esse conceito ainda não existia.  Nem o de gênero.  Mas o que se tem de registro oficial sobre a personagem real Liberada é aberto e incompleto, dando margem a que essa biografia possa ser contada de muitas formas, enfoques, representações.  É sobre a construção da personagem, as filmagens, as diferenças entre a concepção do diretor e da atriz lisboeta João que a representa, as escolhas que vão sendo feitas, os conflitos.  A própria mistura entre o que se filma e o que se vive, os impasses que paralisam o filme põem em evidência concepções de mundo, percepções distintas e a técnica cinematográfica intermediando a expressão de tudo isso.  O ato de fazer cinema é explicitado de forma bem interessante, como algo sempre in progress.  Inseguro, incerto, aberto sempre. Com perguntas sem respostas.  Um constante vir a ser.  70 min.   (Da Competição Novos Diretores, para aqueles que estão no primeiro ou segundo longa-metragens.)

 

Corpo Celeste

CORPO CELESTE, produção do Chile, dirigida por Nayra Ilic García, focaliza a figura da jovem Celeste, de 15 anos, em bela viagem a uma praia próxima do icônico deserto de Atacama, cuja experiência virá a tornar-se traumática para ela e para a família.  Quando retorna ao Atacama, atraída por um eclipse solar, tudo já está mudado nela, nas pessoas com quem ela conviveu e no lugar.  A ditadura de Pinochet já terminou, mas suas marcas afetam tanto esse lugar e o país como as vidas, entre elas, a de Celeste, em busca de se encontrar.  Belas locações, mas uma narrativa algo dispersa e fria, que não chega a envolver os espectadores. 97 min. (Também faz parte da Competição Novos Diretores).

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terça-feira, 7 de outubro de 2025

MOSTRA 49 CHEGANDO

Antonio Carlos Egypto

 

 

Coletiva de Imprensa 

O mais importante evento cinematográfico do país chega ao seu 49º. ano consecutivo como uma daquelas tradições que nos honram e que merecem ser apoiadas sempre: a Mostra Internacional de Cinema em São Paulo.  O seu patrocinador master é a Petrobrás, que só esteve ausente durante o governo anterior, que não apoiava, combatia a cultura.  Mas ela está de volta, ao lado de apoiadores habituais, como o Sesc, o Itaú Cultural, o Spcine e outros mais. 

 

Ocorrerá de 16 a 30 de outubro de 2025, no amplo circuito exibidor, composto pelos cinemas Espaço Petrobrás Augusta, Cinesesc, Cinemateca Brasileira, Instituto Moreira Salles Paulista, Reserva Cultural, Cine Segall, Cinesala, Sato Cinema, Cine Bijou, Marabá Multiplex e a sala do Cultura Artística.  Sessões a preços populares e gratuitas ocorrerão no Centro Cultural São Paulo, Spcine Olido e em 26 CEUs espalhados por toda a cidade.  Exibições especiais acontecem também na sala São Paulo e no Museu da Língua Portuguesa.

 

Serão exibidos 373 filmes de 80 países, incluindo 84 filmes brasileiros.  A venda de permanentes se dará a partir do dia 11 de outubro, sábado próximo, pelo aplicativo da Mostra e pelo site da Velox.  As opções são: pacote integral, que dá direito a todas as sessões da Mostra, pacotes de 40 ou 20 ingressos e 1 especial para as tardes de durante a semana, além da venda de ingressos avulsos, naturalmente.  Após o período normal da Mostra, o Cinesesc exibirá uma repescagem, com vencedores, de 31 de outubro a 05 de novembro.

 

Para além das sessões normais da Mostra, acontecerão também eventos importantes, como o 5º. Encontro de Ideias Audiovisuais, aberto ao público, que inclui representantes do British Film Institute, Hubert Bals Fund, Festival de Beijing, China.  Contará com conversas e masterclass do cineasta Charlie Kaufman e do escritor Valter Hugo Mãe, também artista plástico, que fez o belíssimo cartaz da Mostra 49.  Serão 75 eventos em 4 dias intensos de programação, com 120 convidados, 7 editoras e lançamento de livros, de 22 a 25 de outubro, na Cinemateca Brasileira.

 



Um dos eventos importantes que a Mostra promove todos os anos já aconteceu e eu pude presenciar.  Foi a exibição, na sala São Paulo, do filme mudo britânico de Alfred Hitchcock, “O Inquilino”, (The Lodger), de 1927, com uma trilha sonora executada ao vivo pela Orquestra Brasil Jazz Sinfônica.  A trilha, criada em 2012 especialmente para o filme, é de Neil Brand, compositor e pianista inglês para o British Film Institute.  Esse evento foi também a abertura do Ano Cultural Brasil – Reino Unido 2025 – 2026, realização do British Council, da Mostra, da Fundação Padre Anchieta e do Instituto Guimarães Rosa. 

 

O espetáculo foi maravilhoso, o filme permanece brilhante, quase 100 anos depois, a música enfatiza e valoriza o clima de tensão e suspense do filme e é muito bonita.  A performance da Brasil Jazz Sinfônica, sob a regência do maestro Gustavo Petri, foi espetacular e absolutamente precisa no tempo.  Uma dessas experiências que a gente guarda com carinho para sempre.

 

com Renata de Almeida

Parabéns à Renata de Almeida e a toda sua equipe, que nos oferecem, uma vez mais, esse banquete cultural que é a Mostra 49 (vamos continuar a nos referir a ela assim, para facilitar as coisas, nos próximos textos).

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sexta-feira, 3 de outubro de 2025

SONHAR COM LEÕES

Antonio Carlos Egypto

 


SONHAR COM LEÕES.  Portugal/Brasil/Espanha, 2024.  Direção: Paolo Marinou-Blanco.  Elenco: Denise Fraga, João Nunes Monteiro, Joana Ribeiro, Sandra Faleiro.  87 min.

 

“Sonhar com Leões” é uma coprodução Portugal, Brasil, Espanha, falada em português do Brasil sem legendas, em português de Portugal e em espanhol, com legendas.  Protagonizada pela brasileira Denise Fraga e pelo português João Nunes Monteiro.   As legendas que acompanham as falas do personagem Amadeu, de João Nunes, seriam dispensáveis, o ator tem ótima dicção.  Anoto isso como curiosidade.

 

A dupla formada pelos dois é um tanto insólita.  Glória (Denise Fraga) é bem mais velha do que Amadeu e eles vivenciam uma aproximação, uma amizade em situação-limite, que vai até a manifestação do desejo e do romance.  O que, de certo modo, surpreende, mas vai bem. 

 

O filme de Paolo Marinou-Blanco, também roteirista, é uma tragicomédia sobre um tema delicado, difícil de lidar nesse registro: o suicídio.  A questão do suicídio, para além dos julgamentos morais e religiosos, que “Sonhar com Leões” praticamente não explora, é uma coisa absolutamente prática e individual.  Prática, porque escolher uma forma de se suicidar não é fácil.  Frequentemente, as tentativas são frustradas por mau planejamento, por imperícia ou por falta de um desejo real de chegar à morte, em muitos casos.  Individual, porque as razões pessoais variam enormemente, desde aqueles que, vivendo desenganados e em grande sofrimento, aspiram genuinamente por abreviar esse final de vida, até aqueles que estão desencontrados, a quem falta estímulo, tesão de viver, o que é algo passível de ser resolvido

 

Até aqui, não se trata de nada cômico, embora, sim, apresente situações que comportam ironia e até sarcasmo.  Trapalhadas, sem dúvida, fazem parte das tais tentativas frustradas.  E equívocos de avaliação também.

 

O filme explora de forma cômica uma instituição chamada Toy Transition International que foi criada para obter lucro ensinando as pessoas a se suicidar sem dor, com alegria e um sorriso forçado nos lábios, brincando, fazendo exercícios por meio de aulas, palestras, workshops. Uma coisa ridícula que mercantiliza a morte de forma capitalista, maximizando os lucros e reforçando a hipocrisia. Essa é a parte da trama menos convincente enquanto execução. A ideia é boa, mas não chega a funcionar como humor elegante. É meio apelativo. A máscara do sorriso chega a ser constrangedora como solução.

 

O approach sobre a questão da morte por suicídio, que resvala na eutanásia e na chamada morte assistida, é muito adequadamente tratada. Sua abordagem é radical, direta e seca, também fantástica, mortos falam, inclusive um cachorro. Mas o non sense não se esgota no absurdo, produz desafios e reflexões. O final, que enfatiza a diversidade e a individualidade das experiências e decisões, é perfeito.

 




 

De 03 a 15 de outubro no Cinesesc será possível ver excelentes filmes, clássicos do cinema em cópias restauradas no ciclo COLEÇÃO RESTAURADOS. Destaco uma maravilha que andava sumida: A HORA E A VEZ DE AUGUSTO MATRAGA, de Roberto Santos,1965, filme baseado em Guimarães Rosa, com Leonardo Vilar em grande atuação. Música de Geraldo Vandré. Dias 10/10, 17:30h e 14/10, 20h.

Mas tem muito mais coisas a ver como “Crepusculo dos Deuses” ” O Discreto Charme da Burguesia”, ”O Encouraçado Potemkin”,” As Coisas Simples da Vida”, “Sonhos”, de Kurosawa, ”Psicose”, “Dona Flor e Seus Dois Maridos”, ”Através das Oliveiras”, “ Bye Bye Brasil” e outros mais. Na telona. Confira a programação no Cinesesc São Paulo.

 

Para quem está no Rio de Janeiro é  hora de acompanhar o FESTIVAL DO RIO 2025, com produções de todo o mundo, 300 filmes, sendo 120 brasileiros.



sexta-feira, 26 de setembro de 2025

MALÊS e MULHERES

 Antonio Carlos Egypto

 


MALÊS, dirigido por Antonio Pitanga, retrata a revolta dos escravizados em Salvador, em 1835, que é pouco conhecida e estudada.  A Revolta dos Malês foi a maior insurreição do gênero, na história do Brasil.  E parte de dois jovens muçulmanos, arrancados de sua terra natal na África, em pleno casamento, vendidos como escravos no Brasil.  A presença da crença muçulmana e a língua e a tradição árabes presentes na história são mais um dado relevante que precisa ser melhor conhecido.  O filme é ágil, emocionante e muito bem realizado. No elenco: Camila Pitanga, Rocco Pitanga, Antonio Pitanga, Samira Carvalho, Patrícia Pillar, Edvana Carvalho, Bukassa Kabenguele.  113 min.

 




MULHERES

Cinemateca Brasileira, Festival do Rio e Forum des Images de Paris promovem intercâmbio de filmes com foco em realizadoras mulheres. A programação faz parte da temporada França-Brasil 2025.

De 30 de setembro a 10 de outubro, a Cinemateca Brasileira em São Paulo exibirá 13 filmes de diretoras francesas, com a presença de algumas delas nas sessões, incluindo inéditos, como “Diga a Ela que a Amo”, de Romane Bohringer, que ainda nem foi lançado na França.  No Festival do Rio, as exibições ocorrerão de 02 a 06 de outubro, na Estação NET Rio, em Botafogo.  As sessões contarão com legendas em português, tanto lá como cá.

Em contrapartida, o Forum des Images realizará, em Paris, uma mostra de 12 documentários de diretoras brasileiras, como “Passaporte Húngaro” e “No Céu da Pátria Nesse Instante”, de Sandra Kogut, que estará presente, dialogando com o público local.

A mostra das diretoras que ocorrerá na Cinemateca é gratuita e é apenas mais uma entre constantes realizações que envolvem exibições de clássicos do cinema brasileiro, filmes irlandeses e de diretores japoneses, como Ayakashi: O Japão das Criaturas Místicas, que acontecem neste fim de semana por lá.



 

quarta-feira, 17 de setembro de 2025

SR.BLAKE e +

Antonio Carlos Egypto

 


 

SR. BLAKE AO SEU DISPOR (Complètement Cramé).  França, 2023.  Direção: Gilles Legardinier.  Elenco: John Malkovich, Fanny Ardant, Émilie Dequenne, Philippe Bas, Éugenie Anselin.  110 min.

 

John Malkovich, Fanny Ardant e um castelo francês imponente como locação já parecem ser um atrativo suficiente para levar público aos cinemas.  A trama de “Sr. Blake ao Seu Dispor”, uma comédia de erros leve, no entanto, pode frustrar quem buscar algo além de sorrisos e entretenimento despretensioso.

 

Mr. Blake (John Malkovich), um cavalheiro britânico, empresário, se sente perdido e desinteressado pela vida, desde a morte de sua esposa francesa, e por nostalgia resolve viajar para o local onde a conheceu no passado.  Mas, enganos fazem com que ele, para poder ficar lá, tenha de aceitar um emprego de mordomo, totalmente inusitado. Ele aceita um período de “experiência” nesse trabalho que, curiosamente, se alonga.  É o que permite que ele conviva com os personagens da história. 

 


A começar por Madame Beauvillier (Fanny Ardant), também viúva, a excêntrica dona da mansão arruinada financeiramente, que pensa em alugar quartos para hóspedes no castelo ou terá de vender a propriedade.  Conhece Odile (a ótima atriz Émilie Dequenne), a cozinheira durona, que o recebe com regras e exigências.  Conhecerá, ainda, o caseiro Magnier (Philippe Bas), sua companhia masculina, e a jovem empregada Manon (Éugenie Anselin).

 

O que se dá é que todos esses personagens estão tão desencontrados como ele, o que permite ao filme criar situações curiosas, às vezes dramáticas ou românticas, além dos desencontros entre hábitos e linguagens franceses e britânicos que se evidenciam.

 

O problema é que tudo fica na superfície.  Os personagens não têm densidade, não são aprofundados.  E também fica evidente, desde o início, que de um modo ou de outro se entenderão com a ajuda do sr. Blake.  E ele próprio, claro, ao interagir com eles, também fará suas descobertas e se renovará.

 

MOSTRA KORE-EDA




Um programa imperdível é a Mostra do Cinema de Hirokazu Kore-Eda, o mais importante diretor de cinema japonês da atualidade, que vai até 05 de outubro em São Paulo.  A Mostra acontece no CCBB – Centro Cultural Banco do Brasil, com ingressos gratuitos, e no Cinesesc, com ingressos pagos.  Estão sendo exibidos 28 filmes, além de um curso sobre o cineasta.

bb.com.br/cultura

 

BRASIL NO OSCAR

O cinema brasileiro definiu seu representante na disputa do Oscar de filme internacional.  Como se esperava, coube a O AGENTE SECRETO, de Kleber Mendonça Filho, estrelado por Wagner Moura, esse papel.  Tudo indica que tem boas chances de êxito.  E a safra de filmes nacionais anda entusiasmante.  Vamos torcer pelo filme, que já brilhou em Cannes, na busca de um novo Oscar para o Brasil.