Mostrando postagens com marcador Internacional. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Internacional. Mostrar todas as postagens

terça-feira, 15 de abril de 2025

DOCUMENTÁRIOS EM DESTAQUE

Antonio Carlos Egypto

 

AMIR LABAKI, diretor/fundador do festival

Terminou a 30ª. edição do Festival Internacional de Documentários É TUDO VERDADE (It’s All True).  Já comentei aqui alguns dos filmes apresentados em duas postagens recentes, abordando os brasileiros “Ritas”, “Lan, o Caricaturista”, “Minha Terra Estrangeira” e “Os Ruminantes”.  O vencedor brasileiro do Festival, segundo o júri, foi “Copan”, uma radiografia desse prédio icônico do centro de São Paulo, que é um microcosmo da realidade urbana e da diversidade da sociedade brasileira.  A diretora, Carine Wallauer, costura a vida do prédio a partir da atuação dos servidores e mantenedores da grande estrutura que abriga 5000 pessoas, uma autêntica cidade, de cenas casuais ou encenadas, que refletem momentos, circunstâncias, flashes.  Mas o único personagem é mesmo o prédio, com suas lojas, serviços, bares e restaurantes, gente por todo lado, na calçada, no alto do prédio e até fazendo campanha eleitoral por Bolsonaro ou Lula, em 2022, ou festejando a vitória do candidato petista.  E na bela perspectiva vista do alto, em meio à profusão de luzes da grande megalópolis.

 

Gostei também de ver “Viva, Marília”, filme que abriu o Festival no Rio, dirigido por Zelito Viana, de longa contribuição ao cinema desde os anos 1970.  É a vida da grande atriz Marília Pêra que, com uma vasta obra, que ela mesma comenta ao longo das décadas de 1960, 1970 e 1980, reflete o próprio país e a força das mulheres na cultura brasileira.

 

Eu também já havia comentado o excelente documentário holandês “O Propagandista” e o norte-americano, que aborda a vida e a obra de Liza Minnelli.  Apreciei ainda “Meus Fantasmas Armênios”, de Tamara Stepanyan, que nos mostra o esquecido cinema armênio, que parece refletir o esquecido genocídio vivido por esse povo, que do domínio turco se integrou à União Soviética stalinista, sem poder cultivar a riqueza cultural de que dispõe.

 


O vencedor internacional escolhido pelo júri foi o filme do Afeganistão, “Escrevendo Hawa”, de Najiba Noori.  Uma história tocante de uma mulher que tenta aprender a ler e a escrever e a inserir-se num mundo novo que se abria às mulheres.  Isso se o Talibã não tivesse voltado ao poder, assim que as tropas estadunidenses de ocupação deixaram o território afegão.  Hawa, a mulher, ficou lá com sua neta, enquanto a filha vive como refugiada na França, tentando ajudá-las a lutar por seus sonhos e liberdade.  O filme capta a queda de Cabul e o colapso dos sonhos de três gerações no único país do mundo em que não é permitido às mulheres frequentar escola, estudar e entender minimamente a realidade em que vivem.

 

O saldo do Festival, uma vez mais, foi amplamente recompensador para todos que apreciam a força do documentário no mundo do cinema.  Essa força é hoje bastante evidente.




terça-feira, 8 de abril de 2025

O PROPAGANDISTA + LIZA

Antonio Carlos Egypto

 



O PROPAGANDISTA (De Propagandist), dirigido por Luuk Bouwman, focaliza a figura de Jan Teunissen (1898-1975), um pioneiro do cinema holandês desde os tempos da cena muda.  Obcecado por filmar, fazia de tudo para ter acesso às condições de rodar filmes, destacando-se, inicialmente, como montador.  Seu talento para a sétima arte facilitou o seu trabalho de conquistar o máximo de espaço no mundo do cinema, a ponto de chegar a ser chamado de Rei do Cinema Holandês.  Por meio de entrevistas ao historiador Rolf Schuursma, nos anos 1960, ele fala de sua trajetória até chegar ao posto de chefe do Departamento de Cinema do Partido Nazista Holandês e das SS, no período de ocupação do país pelos alemães.  Nega, ou minimiza, sua responsabilidade política, aderindo e colaborando decididamente com a ocupação nazista e descartando ser antissemita.  Nos primeiros tempos, ele trabalhou na Holanda como montador de filmes de judeus que saíram da Alemanha.  Cineastas judeus que, posteriormente, foram afastados, impedidos de exercer o seu ofício.  Além do depoimento, há um sem-número de imagens e documentos levantados por pesquisas de historiadores, em que pese a tentativa deliberada de apagar a história do cinema holandês desse período.  Teunissen alcançou plenos poderes e tornou-se um homem temido, compartilhava de relação com a cúpula do partido nazista alemão, como Goebbels, Göering e Himmler.  Ao mesmo tempo, enquanto Czar do Cinema, procurou desenvolver o cinema holandês e abrir caminho para que novos cineastas pudessem aparecer.  Segundo seu depoimento, foi sempre o cinema, o desejo de fazer filmes e de promover a criação cinematográfica na Holanda, o seu objetivo.  No entanto, sem a adesão à causa nazista e o colaboracionismo, isso não seria possível.  Uma figura que se incorporou à barbárie, manifestando bons propósitos e com inegável talento na área cinematográfica, faz lembrar Leni Riefenstahl (1902-2003), que criou imagens poderosas de Hitler e do nazismo, mas sempre afirmou desconhecer os horrores do Holocausto.  O PROPAGANDISTA discute a questão que envolve tanto Leni quanto Teunissen, os limites entre o documentário e a propaganda, que produz desinformação, adesão ideológica, formação de mitos, ativismo totalitário.  Em tempo de fake news e disputa de narrativas, nada mais atual. Destaque entre os documentários internacionais no 30º. Festival É TUDO VERDADE 2025.  108 min.


 


LIZA: UMA HISTÓRIA VERDADEIRAMENTE INCRÍVEL E ABSOLUTAMENTE VERDADEIRA (Liza: A Truly Terrific Absolutely True Story), dirigida por Bruce David Klein, adota este título longo e bombástico sem razão de ser.  Afinal, não entrega nada de tão extraordinário assim, ao relatar a vida de Liza Minnelli.  Ninguém espera que a vida de uma estrela consagrada como a dela tenha sido fácil.  Para começar, porque ela é filha do diretor Vincent Minnelli, de reconhecido sucesso no cinema.  E mais: filha da grande estrela Judy Garland, cujo brilho tenderia a ofuscar qualquer uma, mas também teve uma vida conturbada , envolvendo álcool e outras drogas, que deixou marcas evidentes na vida de Liza e de toda a Hollywood da época.  A morte da mãe teria deixado Liza desamparada, se não fosse uma grande amiga que a adotou como mentora da vida pessoal e profissional e a ajuda e participação de muita gente que cruzou no seu caminho.  Como Charles Aznavour, por exemplo.  Tudo foi muito difícil, os casamentos, três abortos espontâneos e até a sina de trilhar caminhos semelhantes aos da mãe aconteceu.  A vida humana é complicada, a vida artística, tão exposta e constantemente avaliada por todos, mais ainda.  No entanto, a boa índole da atriz, cantora e dançarina de fácil contato com as pessoas, ajudou muito.  E ela está aí, desfrutando de uma linda e destacada trajetória artística, que inclui prêmios como 1 Oscar, 1 Emmy, 4 Tonys, 1 Grammy e 2 Globos de Ouro.  Vale a pena ver o documentário que, por meio dos comentários dela mesma, vai desenrolando a história toda da estrela de “Cabaret”, “New York, New York” e tantas coisas mais.  Mesmo limitada por uma doença que a incapacita para a carreira artística, ela permanece vaidosa, orientando a câmera e mostrando sua vitalidade e bom humor.  Uma pessoa luminosa, com certeza.  Filme exibido no Festival É TUDO VERDADE 2025.  103 min.




sábado, 15 de fevereiro de 2025

PRÊMIO ABRACCINE - MELHORES FILMES 2024

 

Antonio Carlos Egypto

 

 

Associadas e associados da Abraccine, Associação Brasileira de Críticos de Cinema, elegeram seus filmes favoritos do ano nas categorias Melhor Longa Brasileiro, Melhor Curta ou Média Brasileiro e Melhor Longa Estrangeiro. Os vencedores foram definidos em votação realizada entre mais de 180 críticas e críticos de todas as regiões do país.

AINDA ESTOU AQUI, de Walter Salles, venceu na categoria Melhor Longa Brasileiro. Em um empate, os curtas EU FUI ASSISTENTE DO EDUARDO COUTINHO, de Allan Ribeiro, e QUANDO AQUI, de André Novais Oliveira, foram premiados na categoria Melhor Curta ou Média Brasileiro. E a produção francesa ANATOMIA DE UMA QUEDA, de Justine Triet, venceu como Melhor Longa Estrangeiro.

 

A Abraccine também divulgou a lista dos 10 mais votados de cada categoria: os TOP 10.

 

 


TOP 10 -- Longa-metragem brasileiro (em ordem alfabética):

 

“Ainda Estou Aqui”, de Walter Salles
“Cidade; Campo”, de Juliana Rojas
“O Dia que te Conheci”, de André Novais Oliveira
“Estranho Caminho”, de Guto Parente
“A Filha do Palhaço”, de Pedro Diógenes
“Greice”, de Leonardo Mouramateus
“Malu”, de Pedro Freire
“Motel Destino”, de Karim Aïnouz
“Saudade Fez Morada Aqui Dentro”, de Haroldo Borges
“Sem Coração”, de Nara Normande e Tião

 

TOP 10 -- Curta ou média-metragem brasileiro (em ordem alfabética):

 

“Cavaram uma Cova no meu Coração”, de Ulisses Arthur
“Dona Beatriz Ňzîmba Vita”, de Catapreta
“Eu Fui Assistente do Eduardo Coutinho”, de Allan Ribeiro
“Fenda”, de Lis Paim
“Kabuki”, de Tiago Minamisawa
“A Menina e o Pote”, de Valentina Homem
“Quando Aqui”, de André Novais Oliveira
“Samuel Foi Trabalhar”, de Janderson Felipe e Lucas Litrento
“A Sua Imagem na Minha Caixa de Correio”, de Silvino Mendonça

 “Vollúpya”, de Éri Sarmet e Jocimar Dias Jr.

 



TOP 10 -- Longa-metragem estrangeiro (em ordem alfabética):

 

“Anatomia de uma Queda”, de Justine Triet
“Dias Perfeitos”, de Wim Wenders
“Jurado Nº 2”, de Clint Eastwood
“Pobres Criaturas”, de Yorgos Lanthimos
“O Quarto ao Lado”, de Pedro Almodóvar
“Rivais”, de Luca Guadagnino
“A Substância”, de Coralie Fargeat
“Tudo que Imaginamos como Luz”, de Payal Kapadia
“Vidas Passadas”, de Celine Song
“Zona de Interesse”, de Jonathan Glazer

 

 



 


segunda-feira, 20 de janeiro de 2025

OS 10 MAIS

 Antonio Carlos Egypto

 

Os melhores filmes de 2024 lançados nos cinemas.  Talvez seja melhor dizer, aqueles filmes que eu mais gostei de ver, que me satisfizeram, já que é inevitável que as listas sejam marcadas pela subjetividade, pelo gosto pessoal.  Por exemplo, ao completar minha lista de 10 nacionais, constatei que incluí 5 documentários, o que provavelmente será incomum se comparada à lista de outros críticos.  Documentários muito bem feitos como esses que eu listei me conquistaram, especialmente por resgatarem figuras culturais importantes.  Bem, aí está minha opinião, baseada em muitas e muitas horas de frequência aos cinemas, em cabines e em sessões normais.  As de festival não entram nas indicações do ano, porém, sessões de festival de anos anteriores frequentemente chegam ao cinema um ano depois, ou mais tempo ainda.  Aí vale recuperar o que foi visto e também escrito naquele momento.  Se revisto, o filme pode crescer ou perder força, na avaliação de cada um, não é?  Confiram as listas e, se quiserem comentar, concordar, discordar, fiquem à vontade.

 


Ainda Estou Aqui


TOP 10

Brasileiros

 

AINDA ESTOU AQUI – Walter Salles

O DIABO NA RUA, NO MEIO DO REDEMUNHO – Bia Lessa

RETRATO DE UM CERTO ORIENTE – Marcelo Gomes

OTHELO, O GRANDE – Lucas H. Rossi

FERNANDA YOUNG – FOGE-ME AO CONTROLE – Susanna Lira

GRANDE SERTÃO – Guel Arraes

LUPICÍNIO RODRIGUES, CONFISSÕES DE UM SOFREDOR – Alfredo Manevy

DORIVAL CAYMMI, UM HOMEM DE AFETOS – Daniela Broitman

NADA SERÁ COMO ANTES – A MÚSICA DO CLUBE DA ESQUINA – Ana Rieper

MOTEL DESTINO – Karim Aïnouz

 




Internacionais

 

O QUARTO AO LADO -- Pedro Almodóvar

ERVAS SECAS – Nuge Bilge Ceylan

O MELHOR ESTÁ POR VIR – Nanni Moretti

AINDA TEMOS O AMANHÃ – Paola Cortellesi

CONTO DE FADAS – Alexandr Sokurov

O ÚLTIMO PUB – Ken Loach

O SEQUESTRO DO PAPA – Marco  Bellochio

EU, CAPITÃO – Matteo Garrone

A GRANDE FUGA – Oliver Parker

RIVAIS – Luca Guadagnino