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terça-feira, 10 de setembro de 2024

BLACK TEA

Antonio Carlos Egypto

 



BLACK TEA: O AROMA DO AMOR (Black Tea).  Mauritânia, 2024.  Direção: Abderrahmane Sissako.  Elenco: Nina Mélo, Chang Han, Michael Chang, Wu Ke-Xi.  110 min.

 

Abderrahmane Sissako é o nome, quase impronunciável para nós, de um grande cineasta da Mauritânia.  Quem viu “Timbuktu”, um belíssimo filme que ele realizou em 2015, sabe do que eu estou falando.

 

Desta vez, ele nos traz uma narrativa amorosa, de encontros e desencontros, presente e passado em conflito, mas tudo com muita sutileza e suavidade, envolvendo africanos em diáspora e chineses.

 

A jovem Aya, da Costa do Marfim, decide mudar de vida após rejeitar no altar um casamento que não a faria feliz e vai viver na China, cuidando de uma loja de exportação de chá.  É lá que ela conhece e passa a admirar Cai, um chinês mais velho, que a conduz pelos meandros das famosas cerimônias do chá.  Aprendemos com ele que o chá se degusta em três goles, após sentir o aroma, no primeiro, sorvendo a atmosfera, depois, a fragrância e, por último, os sentimentos.

 

O envolvimento amoroso entre Aya e Cai vai encontrar barreiras nos preconceitos, são duas culturas distintas que precisam se conhecer bem para conviver em paz.  Isso acontece no cotidiano do trabalho no bairro africano da cidade chinesa Guangzhou, nas lojas de comércio, nos espaços públicos, nos cantos e danças mostrados com fartura no filme.  Destaque para as belas mornas de Cabo Verde.

 

Quando se está perto, convivendo lado a lado, as distâncias tendem a se dissolver e o conhecimento do outro, a alteridade, nos enriquece.  Os diferentes personagens que circulam nesse ambiente comum nos mostram que tudo pode fluir muito bem nessa diversidade, em que o respeito e o afeto se sobressaem.  Ainda assim, cada qual tem sua história, seus desejos, expectativas, frustrações e um passado que reverbera no presente.

 

É o caso de Aya, mas também de Cai, que tem uma história passada que o liga à África e a uma filha abandonada por lá.  As influências se misturam dos dois lados.  Acima das diferenças, paira a humanidade, comum a todos.  E os problemas, dos quais ninguém escapa.

 


Ao longo dessa trama, “Black Tea” nos faz conviver com os elementos constitutivos das culturas africanas e chinesas e das distinções dentro delas, também.  E, claro, das limitações que elas apresentam.  Em especial, exigindo a coragem do enfrentamento para as mulheres que quiserem conquistar seus espaços de felicidade.  A sororidade pode aparecer diante de conflitos amorosos ou familiares.

 

Tudo isso se dá num clima em que, mesmo as grandes tensões, não gerarão gritos, pancadaria, violência ou histeria.  O que os personagens vivem está mais dentro deles, expresso por poucas palavras e gestos.  Silêncios, inclusive.  O ambiente permanece, pelo menos aparentemente, calmo.

 

Destaques no elenco são os dois principais protagonistas.  Nina Mélo , que faz Aya, é uma jovem negra belíssima e de grande talento.  O seu partner chinês, Chang Han, é igualmente muito bom, no seu ritmo.  E todos os demais atores e atrizes os acompanham muito bem.

 

Há sequências muito atraentes e bem montadas, com belos enquadramentos.  A direção de arte compôs muito bem os cenários, e os figurinos, com destaque para os vestidos vermelhos, também merecem menção.  Os ambientes ajudam a criar o clima da história.  A música e a dança dão o toque necessário para essa trama que celebra a diversidade sem alarde, com discrição e sutileza.  Tal como o ritual do chá.

 


“Black Tea” é o filme inaugural da Mostra de Cinemas Africanos 2024, que ocorre no Cinesesc, em São Paulo, de 11 a 18 de setembro, apresentando 16 longa-metragens e 4 curtas da produção atual de 14 países africanos.  Em seguida, a Mostra acontecerá de 18 a 25 de setembro, em Salvador, na Bahia.



terça-feira, 24 de outubro de 2023

CINEMATOGRAFIAS PERIFÉRICAS NA # 47 MOSTRA


Antonio Carlos Egypto

  


A situação proposta pelo filme do Quirguistão PRESENTE DE DEUS (Teniberdi) é bastante interessante e muito bem realizada.  Ele conta com um andamento previsível até um certo ponto, mas consegue ir além do esperado.  O que se passa no filme da diretora Asel Zhuraeva é que um casal de idosos, na faixa dos 80 anos, com a saúde já debilitada, vivendo num pequeno lugarejo, encontra um bebê de 6 meses deixado à porta da casa e tem de resolver o que fazer com isso.  Assumir e cuidar?  Entregar para a polícia?  Para o governo, por meio do Serviço Social?  Subornar autoridades para conseguir a adoção do bebê, legalmente inviável?  A trama vai por aí, num filme afetivo, terno até, com excelentes atores, que se comunica muito bem com o público.  Na sessão em que eu assisti, o filme recebeu aplausos ao final.  Isso tudo num filme sintético, de apenas 75 minutos.

 


UMA ESTRADA PARA UM VILAREJO (Gau ayeko bato), filme do diretor Nabin Subba, do Nepal, é uma pequena joia fílmica, que tem um fascinante ator mirim num bom elenco.  Tudo começa com a chegada do primeiro ônibus à localidade isolada até então.  A modernidade, a partir do ônibus, é saudada como grande avanço por parte das autoridades locais.  Agora será possível ir à cidade regularmente e conhecer as novidades do mundo moderno, como a coca-cola (com descarada propaganda do refrigerante no filme), os modernos celulares e as grandes e sofisticadas TVs atuais.  Se isso vai mexer nas necessidades dos adultos e da comunidade, imagine numa criança esperta e interessada em tudo.  Essa criação de necessidades, típica do capitalismo de consumo, vai criar uma nova dinâmica na família do tecelão Maila, pai do menino.  Mas vai mexer também nos costumes e tradições da aldeia e tudo começa a mudar.  Como o vínculo à aldeia versus ir ao estrangeiro.  Como o modo de trabalhar e sobreviver, com a necessidade de ganhar muito mais dinheiro para ter acesso aos bens tecnológicos da atualidade.  Um mundo que desmorona, se desorganiza, mas que, de algum modo, tenta equilibrar os novos apelos com a sua história.  Um filme que tem beleza, ritmo, e que estimula a reflexão do público.  105 minutos.

 


O filme de Camarões, MAMBAR PIERRETTE, de Rosine Mbakan, centra-se na figura que dá nome ao filme.  Mambar, costureira de prestígio na sua comunidade, a cidade de Douala, tenta viver com dignidade do seu ofício, numa realidade de pobreza, da qual ela faz parte.  É uma liderança junto a seus clientes, a quem ajuda de outras formas, como confidente e conselheira.  No entanto, tem de enfrentar enormes dificuldades quando é assaltada, um temporal inunda sua casa e oficina, entre outros infortúnios que fazem parte da rotina do lugar.  Quem tem um bom personagem como Mambar pode dispensar uma história, como é o caso aqui.  E o filme mantém o interesse.  93 minutos.

 


EXCURSÃO (Ekskurzija), da Bósnia-Herzegovina, indicado ao Oscar de filme internacional, da diretora Una Gunzak, nos remete à importância do trabalho de educação sexual nas escolas.  Num colégio de Sarajevo, uma adolescente do ensino fundamental conta, num jogo, que fez sexo com um garoto maior, do ensino médio.  Leva adiante a mentira, simulando ter ficado grávida.  Isso acaba criando um ruído e uma série de problemas, afetando o dia-a-dia da escola e uma excursão que está sendo planejada.  Aponta para o fato de que, no gênero feminino, a fama de ser experiente tem o efeito contrário à do masculino.  Se dá prestígio ao menino, tende a abalar a moral da menina.  No caso, agravado por uma mentira reiterada.  O filme não vai muito longe na discussão do tema, mas trata corretamente da questão, numa abordagem fílmica convencional. 93 minutos.

 


BEIJANDO O CHÃO ONDE VOCÊ PISOU (Hai Ou Lai Guo De Fong Jian), de Macau, dirigido por Hong Heng Fai, decepciona por excesso de pretensão, ao tratar de dois personagens do âmbito artístico.  Um escritor em crise e um ator que não alça o voo desejado convivem num apartamento, atraídos um pelo outro de formas distintas. Enquanto isso, a tela faz citações literárias, com música sofisticada, mas não chega a lugar nenhum.  94 minutos.

 


GAUGUIN E O CANAL (Gauguin y el Canal), filme do Panamá, dirigido pelo cineasta português Frank Spano, trata da estada do pintor francês Paul Gauguin (1848-1903) no Panamá, na época da construção do famoso Canal.  O momento é turbulento, ele enfrenta um julgamento, uma doença e uma dívida que o obriga a pintar uma grande tela.  Viveu os seus últimos dias entre a loucura e a sanidade.  O filme recorre às visões do inconsciente de Gauguin com as pessoas com quem ele convivia, de forma alegórica, trazendo uma grande intensidade às cenas. Essa parte da história de Gauguin, retratada no filme, é menos conhecida.  O que cria um interesse a mais para o espectador.  95 minutos.

 

@mostrasp



segunda-feira, 2 de janeiro de 2023

NOSSA SENHORA DO NILO

Antonio Carlos Egypto

 

 


 

NOSSA SENHORA DO NILO (Notre-Dame du Nil).  Ruanda/França, 2021.  Direção: Atiq Rahimi.  Elenco: Santa Amanda Mugabekazi, Albina Sydney Kirenga, Angel Uwamahoro, Clariella Bizimana.  93 min.

 

O liceu Notre-Dame du Nil é um colégio interno católico isolado no alto de uma colina, dirigido à formação de meninas da elite ruandense (hutu ou tutsi).  Esse liceu, em 1973, testemunhou fatos que demonstram como os antagonismos da sociedade ecoam, ainda que distantes do centro urbano e numa atmosfera aparentemente de ensino e harmonia, coordenada por freiras.  Na realidade, esses fatos prenunciaram o genocídio vivido em Ruanda em 1994.  Questões de poder político se desdobram em questões étnicas, de raça e de religião.  Regimes totalitários perseguem e atingem as elites e os intelectuais.

 

É isso que o filme “Nossa Senhora do Nilo” nos mostra sem sair do ambiente do liceu, no alto da colina.  Que acaba funcionando como o microcosmo da luta fratricida de Ruanda, atingindo moças adolescentes, inocentes de tudo e ingênuas da vida.  Questões simbólicas, no entanto, podem ser vividas ali, na etnia hutu ou na etnia tutsi, quando entram em cena um desenhista/pintor que cultiva tradições ou uma bruxa com poderes relevantes.

 

Filmado numa bela locação, justamente no alto das montanhas, em Ruanda, numa escola católica que ainda mantém edifícios antigos assim situados, cria o clima ideal para o desenvolvimento da história.  O filme se baseia em um romance autobiográfico de Scholastique Mukasonga, lançado em 2012.  A autora criou uma ficção para se distanciar um pouco das vivências que teve, mas reconhece que acabou espelhando sua própria história, mais do que desejaria.

 



A direção do filme coube ao cineasta afegão, que vive na França, Atiq Rahimi (de “A Pedra da Paciência”, 2012), que não conhecia muito a situação de Ruanda, mas viu bastante similaridade das questões tratadas no livro com a realidade do Afeganistão, no mesmo período abordado.  Ele é um diretor sensível às questões sociais, aos sofrimentos das pessoas em situação de guerra e opressão, e fez um filme que reflete tudo isso num momento de vida de juventude, em que cabem também as brincadeiras, os jogos, a alegria das meninas.  Pelo menos até que a polarização étnica invada esse mundo, inapelavelmente.

 

Com uma fotografia que exalta as cores da natureza e a beleza das jovens negras do liceu e com um elenco muito vibrante, o diretor Rahimi faz um belo filme.

 

Apesar da violência e do sofrimento que retrata, “Nossa Senhora do Nilo” também nos conquista nos momentos de vitalidade e alegria que estão lá, enquanto a tristeza não vem.  E a tristeza que se impõe acentua o disparate das disputas étnicas destrutivas que se valem da morte ao diferente, visto como inimigo pela simples existência, na luta pelo poder.  Como dizia o jornalista e escritor Carlos Heitor Cony, parece que, afinal, o ser humano não deu muito certo...



sábado, 3 de setembro de 2022

AMIRA

                                             Antonio Carlos Egypto

 

 




AMIRA (Amira).  Egito/Jordânia, 2021.  Direção: Mohamed Diab.   Elenco:  Saba Mubarak, Ali Suliman, Tara Aboud.  98 min.

 

Amira (Tara Aboud) é uma adolescente de 17 anos, que vive com sua mãe Warda (Saba Mubarak) e o pai Nuwar (Ali Suliman), que ela só conhece de encontrá–lo na prisão.  Ele é um prisioneiro político palestino, considerado terrorista por Israel.  Ela o visita regularmente com a mãe e conversam por telefone, separados por um vidro grosso.  Há, entretanto, afetividade nesse relacionamento familiar.

 

Segundo consta, Amira foi concebida por inseminação artificial, com o esperma do pai.  E, desta mesma maneira, Nuwar espera conceber agora um outro filho com Warda.  Apesar das resistências iniciais por parte da mãe, repete-se o processo, sendo que agora fica evidente que Nuwar é estéril.  Isso vai provocar uma derrocada na vida de Amira.  Ela terá de conviver com as suspeitas em relação à mãe e fará um périplo em busca de quem seria seu pai.

 

Todo o foco do filme se centra na figura da jovem Amira, mas o contexto moral, religioso e político que envolve o caso, numa Jordânia que participa do eterno conflito no Oriente Médio, está bem caracterizado.  O Egito aparecerá como possível rota de fuga nesse contexto conflitivo.

 



O diretor egípcio Mohamed Diab já é nosso conhecido, pelo ótimo filme “Cairo 678”, de 2011, que tem crítica postada aqui no Cinema com Recheio.  O cineasta demonstra uma capacidade de trabalhar num clima de suspense em cima de situações bem concretas da vida, como essa.  Um suspense envolvente que nos mantém interessados em como a situação poderá evoluir e o que mais poderá estar encoberto pela trama.

 

Os fatores culturais aí presentes, os valores aí abarcados, têm efetivamente uma cor local e questões políticas específicas, embora tenha também um significado mais amplo e universal.  Ressalvadas todas as peculiaridades, o dilema moral, a busca pela paternidade e a revelação da identidade, são questões que dialogam com todos os contextos e culturas.

 

O principal mérito desse filme é justamente a aplicação do clima de suspense que fisga o espectador num assunto importante e realista.  Não precisa de nenhum artificialismo, nem de situações ou personagens excepcionais para impor seu ritmo.  Para isso, conta com uma atriz jovem muito talentosa, um grande ator no papel do pai e um bom elenco que dá sustentação ao trabalho.

 

A situação abordada é concreta, muitos casos de inseminação artificial e de contrabando de esperma têm acontecido e têm caráter político marcante.  Tanto que o filme que, por seus méritos, seria o indicado da Jordânia para o Oscar de filme internacional, deixou de acontecer, após fortes críticas de um suposto enfoque pró Israel e de desrespeito ao sofrimento dos presos políticos palestinos e de suas famílias.

 

“Amira” está participando da Mostra de Cinema Árabe em andamento e chega aos cinemas regulares logo em seguida.

 

MOSTRA ÁRABE

No Cinesesc, São Paulo, está acontecendo a 17ª. Mostra Mundo Árabe de Cinema, que vai até 07 de setembro de 2022, apresentando filmes inéditos e recentes do Líbano, da Jordânia, do Egito, de Marrocos, da Palestina, da Tunísia. 

 

Em paralelo, no Sesc Digital, estão disponibilizados três títulos para serem assistidos gratuitamente on line, neste link: https://sesc.digital/colecao/cinema-em-casa-com-sesc

  

sexta-feira, 6 de novembro de 2020

ÚLTIMAS DICAS DA #44 MOSTRA

Antonio Carlos Egypto

 

A 44ª. Mostra já acabou, oficialmente, mas a plataforma Mostra Play no www.mostra.org, ainda mantém um bom número de filmes que podem ser alugados até domingo.  Há coisas muito boas por lá.

 

CRIANÇAS DO SOL, do Irã, do talentoso diretor Majid Majidi (o mesmo de “Filhos do Paraíso”, lembram-se?) mostra um trabalho com forte sentido humanitário, ao abordar uma escola que atende meninos em situação de rua, com apoio financeiro da comunidade.  A partir da questão do abandono familiar e do indesejável trabalho infantil, o diretor constrói uma narrativa, para lá de envolvente, em torno de um tesouro que está enterrado sob a escola.  O ator mirim Rouhollah Zamani, que faz o personagem Ali, de 12 anos, tem um desempenho que vale o filme e não por acaso foi premiado em Veneza.  99 minutos.

 


ISSO NÃO É UM ENTERRO...

ISSO NÃO É UM ENTERRO, É UMA RESSUREIÇÃO é um filme que já chama a atenção pela origem.  É do Lesoto e África do Sul.  Direção: Lemohang Jeremiah Mosese.  Tem uma personagem fantástica chamada Mantoa, de 80 anos, que vive em função do retorno do filho que trabalha nas minas e depois vai se dedicar a pensar na sua morte e no seu enterro.  A construção de uma barragem, porém, que vai inundar toda a vila e deixar os cemitérios e os mortos queridos enterrados sob as águas, mobiliza Mantoa a lutar para preservar o patrimônio espiritual da comunidade.  O filme é visualmente bem bonito, com efeitos sofisticados e um jogo de luzes e cores fortes muito atraente.  Vale a pena ver.  120 minutos.

 

Além desses belos filmes, eu gostei também de um da Mongólia, AS VEIAS DO MUNDO, da diretora Byambasurem Davaa, focalizado num menino de 11 anos, cuidador de ovelhas nas estepes, com um talento artístico inesperado e uma capacidade de luta herdada do pai, enfrentando mineradoras que exploram a região.  Imagens bonitas, locações atraentes e uma boa história convidam a ver o filme.  96 minutos.

 

Para quem curte o cinema como assunto, dois filmes brasileiros ótimos.  GLAUBER, CLARO, um documentário de César Meneghetti sobre Glauber Rocha (1939-1981), entre 1970 e 1976, em Roma, produzindo o filme “Claro”.  Muito interessante e revelador sobre aquele nosso grande talento cinematográfico.  80 minutos.

 

GLAUBER, CLARO


NAS ASAS DA PANAM nos traz um trabalho autobiográfico de Sílvio Tendler, documentarista de mão cheia, que conta por meio de depoimentos, conversas e, sobretudo, fotos e filmes, sua rica história engajada nas ideias socialistas, o colapso do socialismo real, o amor à fotografia e ao cinema como recurso de expressão.  Também trata de sua família, de seus muitos amores e amigos e chega até a pandemia (depois dos créditos finais).  Muito bom.  112 minutos.

@mostrasp




sábado, 30 de novembro de 2019

BOAS OPÇÕES CINEMATOGRÀFICAS

Antonio Carlos Egypto


Alguns filmes passam tão meteoricamente pelo circuito comercial que mal dá tempo de se comentar algo antes de que saiam de cartaz.  Há os que até, surpreendentemente, seguem em exibição, mas num só cinema ou num só horário.  E são bons filmes, que mereceriam ser conhecidos.  Por isso, me arrisco a comentar alguma coisa aqui, contando com que a indicação de seus países ao Oscar lhes dê maior sobrevida.


RETABLO

RETABLO, filme peruano de 2017, está indicado ao Oscar de filme internacional e foi exibido na 42ª. Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, a do ano de 2018.  Dirigido pelo cineasta e psicólogo Álvaro Delgado-Aparício, seu primeiro longa, é um filme que lida com tradições, folclore, e um ambiente conservador, que torna tudo mais complicado e dramático.  Aborda, por meio do personagem Noé, a tradição artística dos retablos, que são caixas artesanais, portáteis, de madeira, com porta, que contém figuras de massa pintadas, que representam cenas religiosas ou cotidianas de famílias abastadas da elite local, como, por exemplo, dos políticos.  É um belo trabalho que o reconhecido artesão Noé desenvolve e capacita seu filho adolescente de 14 anos, Segundo, para sucedê-lo.  A narrativa se baseia na visão do adolescente. E foca na relação pai e filho. Essa bela arte tradicional será posta em xeque quando uma cena homoerótica é flagrada e não consegue ser assimilada pela sociedade conservadora e religiosa da localidade.  Mais do que isso: é fortemente rejeitada e perseguida, sem abrir nenhuma possibilidade de assimilação.  Como Segundo vai lidar com isso?  Que caminho vai tomar?  É por aí que o filme se coloca, questionando a visão conservadora, e explorando as manifestações artísticas e folclóricas que merecem ser preservadas.  101 min.



A CAMAREIRA

A CAMAREIRA (La Camarista), de Lila Avilés, de 2018, é a indicação mexicana para concorrer ao Oscar de filme internacional.  Sua narrativa concentra-se na vida penosa e frustrante de Eve, a jovem mãe solteira que trabalha como camareira num hotel de luxo, na cidade do México, sem tempo para nada, nem mesmo para ver com regularidade seu bebê, cuidado por outra pessoa.  Acompanhamos sua rotina e, como espectadores, vamos percebendo pouco a pouco o que a move, que expectativas tem, por onde passa seu desejo, que planos alimenta para o futuro e que ações faz, com base nisso.  Vemos que o trabalho pesado e cansativo até promete, mas não cumpre.  O que resulta disso é angustiante, especialmente quando uma esperança que parecia tão concreta não se realiza.  Aí é que o filme ensaia caminhos e possibilidades, mas acaba não encontrando propriamente um rumo para a personagem.  Ou preferindo deixar em aberto, só sugerindo, esse rumo.  As soluções individuais são mesmo muito complicadas, ou virtualmente inexistentes, quando um sistema explorador não oferece saídas reais, apenas doura a pílula, sendo até acolhedor ou afetivo sob alguns aspectos, mas sem resolver o cerne da questão.  É como aquela história do gerente do banco que não resolve o que você precisa, mas o trata bem, oferece cafezinho e tal.  De que adianta?  “A Camareira” é um filme de clima, que nos põe no centro da vida de uma trabalhadora modesta, sem preparo, mas dedicada à função que ocupa, que ousa ter esperança.  Em certos contextos, no entanto, até sonhar é difícil.  102 min.



ADAM

ADAM, produção do Marrocos de 2018, indicada para concorrer pelo país ao Oscar de filme internacional, dirigida por Maryam Touzani, é um filme sobre mulheres desamparadas, cada qual à sua maneira.  Põe em contato duas mulheres, uma, viúva com uma filha ainda pequena, que tenta sobreviver de forma estóica e a muito custo.  Que se enrijece, endurece, mas não verga.  É sua defesa, indispensável.  Pelo menos até que encontre e acolha uma jovem grávida, fora do casamento, o que é um problema moral no Marrocos, vagando pelas ruas sem casa ou trabalho.  Do encontro das duas novas perspectivas virão.  Uma modificará a outra, abrindo espaços para novas possibilidades e esperanças, num contexto muito difícil para ambas.  Na verdade, para o trio, já que a menina que vive na casa, onde elas acabarão convivendo, servirá de elemento catalizador da relação, com a indispensável perspectiva do futuro que as crianças trazem.  A maternidade está no centro dessa trama, em que as relações ocupam o lugar principal.  A sempre possível perspectiva de mudança e o encontro consigo mesmas servindo de elementos de base para uma melhor relação com a vida.  Uma história contada com sensibilidade e respeito pelos sentimentos, desejos e idiossincrasias de cada uma.  96 min.

Para encerrar
1º. de dezembro, dia mundial de luta contra a Aids.  O cinema tem participado dessa batalha já há muitos anos.  Alguns dos filmes produzidos sobre o tema estão em cartaz na Mostra Prevenção, no Cinesesc, até o dia 04 de dezembro.



domingo, 3 de novembro de 2019

MAIS FILMES DA MOSTRA 43

Antonio Carlos Egypto

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Na maratona cinematográfica em que a gente se mete durante a Mostra, muitos filmes interessantes passam despercebidos, não têm o apelo dos grandes projetos ou dos grandes diretores. Até mesmo a grife de um grande cineasta pode ser ignorada.  É o caso, por exemplo, do filme VIZINHOS (Neighbors), um projeto de reunião de curtas-metragens dos países dos Brics, organizado por Jia Zhang-ke, reconhecido e aplaudido diretor chinês, bem conhecido no Brasil.  Já é o terceiro filme dessa série. Aqui, questões de vizinhança, sob ângulos bem diversos, são abordados por 5 cineastas, 3 mulheres e 2 homens: Beatriz Seigner, do Brasil, Alexander Zolotukhin, da Rússia, Rima Das, da Índia, Han Yan, da China, e Jenna Bass, da África do Sul.  É um filme bem humorado e inteligente, que tem a capacidade de nos ligar a diferentes culturas, em pouco espaço de tempo.  Possivelmente inspirado no clássico canadense “Vizinhos”, de Norman McLaren, de 1952, em que uma rosa que nasce na divisa de duas casas provoca uma briga sem tamanho entre dois moradores, que até então compartilhavam pacificamente sua vizinhança.  Em tempos de intolerância , uma boa referência.  E em tempos de perda de força dos Brics, em função de atitudes do novo governo brasileiro, também.  Em VIZINHOS, diferenças e proximidades dão origem a conflitos, maiores ou menores, passando por problemas de moradia, negócios, ambiente de trabalho, restrições às mulheres e desabrigados.  Uma iniciativa que merece atenção e que, espero, chegue aos cinemas. Só não sei quando.


VIZINHOS



Também passou despercebido o filme ECOS (Bergmál), da Islândia, dirigido por Rúnar Rúnarsson.  Pense em Reykjavik e na Islândia toda, no período de festas natalinas e de Ano Novo.  Um período normalmente inexpressivo, parado, em que pouca coisa acontece.   Ainda mais num local em que a neblina e o frio tomam conta, com chuva e neve.  Aí é que nada vai acontecer, mesmo!  Pois bem, ECOS desmente categoricamente isso, ao mostrar, por meio de 56 cenas independentes, um mundo de coisas que se passam nesse período, considerado morto.  A vida segue, o mundo não para, mesmo em circunstâncias que teriam tudo para brecá-lo, ao menos temporariamente.

Filmes sobre cineastas foram exibidos na Mostra, entre eles, ANDREI TARKOVSKY: UMA ORAÇÃO DE CINEMA, dirigido pelo filho do cineasta  Andrei A. Tarkovsky revisita a obra do grande diretor, por meio de um documentário que explora a vida, as memórias e o trabalho de Tarkovsky (1932-1986), com belas imagens e um bom material de arquivo, em áudio e vídeo.  O cineasta homenageado é reconhecido como ligado à espiritualidade, tendo nela fonte importante de sua reflexão e criação.  Mesmo assim, acho que o documentário exagera na ênfase desse tema e da oração.  Até porque a espiritualidade em Tarkovsky era uma coisa misteriosa e difusa, nada óbvia.


A FERA E A FESTA


Um filme que passou quase em branco pela Mostra foi A FERA E A FESTA (La Fiera y la Fiesta), produção latino-americana capitaneada pela República Dominicana, dirigida por Laura Amelia Guzmán, dominicana, e Israel Cárdenas, mexicano.  O filme homenageia o cineasta dominicano Jean-Louis Jorge (1947-2000), ao filmar um roteiro inacabado de um musical deixado por ele.  Membros de sua equipe se reúnem, descobrem que muitos já morreram, mas seguem buscando a realização cinematográfica, que flerta com a morte, mas brinca com o espírito excêntrico do diretor homenageado. Tem no elenco Geraldine Chaplin, já bem cheia de rugas, mas com uma versatilidade corporal espantosa. O filme trata de um assunto que é um pouco distante para nós, mas é muito bonito visualmente,

BABENCO – ALGUÉM TEM QUE OUVIR O CORAÇÃO DIZER: PAROU, documentário de Bárbara Paz, em seu primeiro longa, é uma bela homenagem daquela que foi sua mulher a Héctor Babenco (1945-2016).  Em que pese o título quilométrico, extraído de uma fala do cineasta, tudo é conciso e direto no filme, que dá conta muito bem da figura e da obra de Babenco em apenas 75 minutos.  Claro que o próprio Babenco teve a ideia de filmar seu fim de vida e concebeu muita coisa do que está na tela, mas Bárbara Paz surpreende pela competência e pela equipe que montou para a realização. Como disse Babenco a ela e ao filme “Eu já vivi minha morte, agora só falta fazer um filme sobre ela”.  Não falta mais.



quinta-feira, 15 de agosto de 2019

RAFIKI

Antonio Carlos Egypto






RAFIKI (Rafiki).  Quênia, 2018.  Direção: Wanuri Kahiu.  Com Samantha Mugatsia, Sheila Munyiva, Jimmi Gathu, Nini Wacera.  82 min.


Kena (Samantha Mugatsia) e Ziki (Sheila Munyiva) se sentem atraídas uma pela outra e se tornam as “amigas” do título original.  São filhas de dois políticos locais, de uma região de Nairobi, no Quênia, que estão em disputa na eleição municipal, com posicionamentos políticos diferentes.  Só por isso, já não seria muito adequada essa aproximação.

Fica mais complicada a situação, considerando-se que, apesar de o casamento gay entrar nas cogitações políticas, no Quênia a homossexualidade é ilegal e pode ser penalizada com prisão.  Além disso, é fortemente rejeitada e hostilizada pela religião.  Não há garantia dos direitos dos LGBTs.

Tudo isso faz com que o amor entre Kena e Ziki, que se dá de forma quase instantânea – amor à primeira vista? – se torne um drama, impedindo que elas possam experimentar um envolvimento amoroso que escapa dos padrões e expectativas dessa sociedade muito conservadora.




“Rafiki” trabalha essas questões com sutileza, numa produção bem cuidada, e escorando-se no admirável talento da jovem atriz Samantha Mugatsia, que nos conquista desde os primeiros planos do filme.  Sua parceira explora mais a aparência e a feminilidade, mas não tem o mesmo carisma.  O resultado geral é muito bom.  O filme da diretora Wanuri Kahiu merece ser conhecido e apreciado. 


Não precisa nem dizer que a exibição de “Rafiki”, que tem coprodução da África do Sul e França e foi bem recebida nos festivais internacionais de cinema, teve sua exibição proibida no Quênia, por supostamente promover o lesbianismo.  Em pleno século XXI, há países e governos que querem impedir que a diversidade humana exista.  Mostrá-la se confunde com propagá-la.  Temos muito ainda para evoluir, até que o mundo como um todo possa ser um lugar habitável para todos os humanos.


domingo, 13 de janeiro de 2019

MEU QUERIDO FILHO

Antonio Carlos Egypto





MEU QUERIDO FILHO (Weldi).  Tunísia, 2018.  Direção e roteiro: Mohamed Ben Attia.  Com Mohamed Dhrif, Mouna Mejri, Zaharia Ben Ayyed.  104 min.
 

O que o filme tunisiano “Meu Querido Filho’, dirigido por Mohamed Ben Attia, nos mostra é uma relação simbiótica entre pai e filho.  Conta também com a participação da mãe, Nazli (Mouna Mejri), mas de modo mais distanciado e crítico.  Já o pai, Riadh (Mohamed Dhrif), que acaba de se aposentar, vive agora em tempo integral a vida de seu filho único, em vias de prestar o vestibular.  O menino Sami (Zaharia Ben Ayyed), sufocado nessa relação, se comporta como um boi que vai ao matadouro.  Depressivo e sem reação aparente, a não ser as constantes enxaquecas, que denunciam seu mal-estar permanente.  O que só reforça a atitude familiar de viver em função das necessidades do filho.  Como sair dessa enrascada?

O filme dá uma pista: Sami sai correndo de algum lugar para chegar a tempo de ser buscado pelo pai no colégio.  E de lá sai como se tivesse se dedicado às aulas durante aquele período.  Às vésperas do vestibular, desaparece, deixando os pais sem rumo.

Até aí, o processo é compreensível e bem descrito.  A maionese desanda quando a gente fica sabendo que Sami foi para a Síria, em plena guerra, e o pai resolve ir atrás dele.  Estranho esse caminho.  Para se diferenciar e encontrar sua identidade, foi preciso ir em busca de uma forma de terrorismo islâmico?  Por que a Síria?  Para se casar e ter filhos lá?  Mais estranho ainda.  Teria sido convencido a ir lutar, por meio da Internet?  Ou teria sido sequestrado?

A questão assume contornos políticos que complicam a narrativa e flertam com preconceitos e com o uso da velha fórmula: o lado do bem e o lado do mal.




“Meu Querido Filho” conclui bem, depois disso, pois volta ao contexto pessoal e familiar de onde partiu, mas deixa um cheiro de manipulação no ar, que soa incômodo.  E não permite que a trama flua dentro da temática psicológica que nos apresentou.  Elementos exógenos a ela ficam mal explicados, inconvincentes.

O desempenho do elenco é bom, mas a figura do filho demandaria mais nuances interpretativas.  Já o pai é muito convincente na sua atuação, evocando sua dedicação, sua luta interna e seu sofrimento.  Talvez por isso seja mais fácil identificar-se com ele, em que pese a opressão inconsciente que o personagem pratica, do que com o filho, sufocado e inerte.  Bem, isso também dependerá da idade do espectador, por certo.

“Meu Querido Filho” foi exibido na 42ª. Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.  Participam dessa produção bem cuidada os irmãos Dardenne, conceituados cineastas belgas.




sexta-feira, 13 de julho de 2018

PRIMAVERA EM CASABLANCA



Antonio Carlos Egypto




PRIMAVERA EM CASABLANCA (Razzia).  Marrocos/França, 2017.  Direção: Nabil Ayouch.  Com Mariam Touzani, Arieh Worthalter, Abdelialah Rachid, Dounia Binebine, Younes Bouab.  119 min.


Casablanca, Marrocos, uma cidade de contrastes, oposição, diversidade.  E também de opressão e violência.  Além disso, uma cidade de fantasia.  Afinal, é o título de um dos maiores clássicos do cinema, aquele que reuniu Humphrey Bogart e Ingrid Bergman, ao som de “As Time Goes By”.

Nabil Ayouch, o diretor e também roteirista, ao lado de Mariam Touzani, de “Primavera em Casablanca”, vive lá, sente de dentro o que acontece na cidade.  Tem um olhar especial para os que são criticados, enquadrados, oprimidos, excluídos.  E para a imposição de valores, em nome da tradição ou da religião. Por meio de diversos personagens, o filme fala desse conflito, ora, explicitado, ora, surdo, que compõe um caldo de cultura que não tem outro caminho que não seja desandar em violência.




Um professor de província, dedicadíssimo às suas crianças e por elas amado em seu vilarejo, onde o que se fala é o idioma berbere, recebe um ultimato e a presença de um inspetor, porque a nova lei educacional obriga que o ensino no país seja só em árabe.  Ocorre que as crianças não entendem outra língua e só poderão decorar coisas sem significado, sem saber o que estão repetindo.  A frustração leva o mestre a escolher se perder no anonimato de Casablanca.

No ambiente urbano, há uma personagem feminina que se produz, se veste com sensualidade, explora sua beleza e tenta construir sua identidade, dispensando os modelos que lhe são impostos, e sofre com isso.

Quem busca se expressar pela modernidade, se identifica com o rock  que contesta, em vez da música tradicional, que tem papel conservador, encontra resistência.  Viver de música, mesmo bem remunerado, é inaceitável na ótica dos pais.  Não há espaço para a homossexualidade e as formas diversas de viver a masculinidade.  Mas elas estão lá.  Para a mulher, a questão da virgindade até o casamento e a condenação do aborto se escoram na noção de pecado, produzindo sofrimento e desespero.  Falta emprego para a juventude e os ares da liberdade buscam expressão.

2011, a primavera árabe movimenta a região, aparentemente trazendo novos ares e possibilidades.  Revoluções, queda de regimes, a imperiosa necessidade de encontrar novos caminhos e também a produção de respostas individuais, revoluções pessoais.  A tradição autoritária e o controle em nome de valores religiosos sufocam essas revoluções e as saídas políticas revelam-se outra face da mesma moeda.




O protesto e a violência tomam conta das ruas e as festas acabam em pancadaria e agressões desmedidas.  “Primavera em Casablanca” mostra o que está acontecendo, com preocupação.  Preocupação que também deveria ser a de uma direita brasileira, que insiste em pregar liberalismo na economia e conservadorismo nos costumes.  Uma fórmula para oprimir, abalar direitos e produzir mais violência, onde já há tanta desigualdade e tanta divisão.

Bem, e como fica a Casablanca da fantasia, do cinema de Hollywood, de Bogart e Bergman?  Serve para alienar, folclorizar, distorcer a realidade.  Fake news , para usar um termo da moda.  Acho que todo mundo sabe que em “Casablanca”, de Michael Curtiz, (1942), não há nenhuma cena filmada na cidade, ou no Marrocos.  O “Rick’s Bar” nunca existiu por lá.  Não antes de aquele filme ser feito, pelo menos.