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domingo, 27 de abril de 2025

HOMEM COM H

Antonio Carlos Egypto

 

Esmir Filho, Ney Matogrosso e Jesuita Barbosa

HOMEM COM H. Brasil, 2025.  Direção e roteiro: Esmir Filho.  Elenco: Jesuíta Barbosa, Bruno Montaleone, Júlio Reis, Caroline Abras, Rômulo Braga.  129 min.

 

Ney Matogrosso é um dos artistas mais criativos, versáteis e ousados que a cultura brasileira já produziu.  Excelente cantor, com um registro de voz único e surpreendente, acentuada capacidade interpretativa, talento de ator, grande dançarino e performer. Motivos não faltam para realizar um filme homenagem a ele, quando chega e supera os 80 anos de idade, ainda empolgando multidões nos palcos e contando com registros de gravações fonográficas esplêndidas, que sempre serão ouvidas.

 

Esmir

O diretor Esmir Filho em “Homem com H” tomou como rumo da narrativa o combate permanente de Ney contra o autoritarismo, começando pelo enfrentamento do pai, militar e opressor homofóbico.  E passando a enfrentar também as autoridades, os poderosos de plantão, os normatizadores de condutas.  Ney trilhou o caminho da liberdade, de quem ele era e de quem ele queria ser.  Isso ao longo de sua trajetória, desde a infância e a juventude.  E continua sendo assim.

 

O filme, enquanto trabalha essas questões, como não podia deixar de ser, nos enche de música.  São 17 músicas, ao longo dos 129 minutos de projeção.  Representativas, mas insuficientes para dar conta de uma carreira artística tão rica e recheada de êxitos e sucessos.  Os fracassos também aparecem. Em consequência do rompimento com os Secos e Molhados, por exemplo.

 

Grande trunfo de “Homem com H” é, sem dúvida, o seu protagonista.  Jesuíta Barbosa compõe um Ney Matogrosso com uma riqueza interpretativa, cheia de detalhes e sutilezas, tão bem integradas ao personagem que a gente vê um Ney jovem na tela, como se ele estivesse mesmo ali, rejuvenescido.  Ele aprendeu a ser Ney, nas atitudes, nos amores, na dança, no domínio do palco, explorando os trajes luminosos e extravagantes, e até mesmo no canto.  Calma lá, é claro que quem canta o tempo todo no filme é o verdadeiro Ney Matogrosso, mas Jesuíta vai cantando junto, não é uma simples dublagem.  Uma curiosidade: em duas músicas, pelo menos, não existem gravações.  Jesuíta cantou e sua voz foi coberta por Ney, após as filmagens.  Ou seja, Ney, nesse caso, dublou Jesuíta.  Como na cena do coral cantando Casinha Pequenina, em que a voz dele se acomoda à das mulheres e não à dos homens, pelo seu timbre e extensão.

 

Ney

Ney Matogrosso participou ativamente do filme, sem estrelá–lo.  No final, aparece num show realizado em 2024, que documentalmente se incorporou à ficção.  Ele conviveu com a equipe do filme, assistiu a algumas filmagens, deu informações, dicas, e deu plena liberdade para que contassem sua história sem qualquer restrição.  Mas quis saber os fatos que seriam contados, apenas para garantir que aquilo que está sendo mostrado teria mesmo acontecido.  Sua preocupação era com um bocado de mentiras que sempre falaram sobre ele e que podem ser encontradas na Internet até hoje.  Ney garante que o que está no filme de fato existiu.  A forma como foi mostrado e interpretado é outra coisa, porém, os fatos são reais.

 

 A questão da Aids como atestado de morte, chamada no início de “peste gay” e a tragédia que se abateu sobre o Brasil e o mundo, nos anos 1980 e 1990, aparece no filme, porque foi muito importante na vida de Ney.  Ele conviveu com Cazuza, que expôs a doença publicamente e morreu logo.  Ele também viu de perto a morte de seu outro companheiro sexual, Marco de Maria, de quem cuidou até o fim.  E sobreviveu imune a tudo isso, surpreendentemente, sem nunca entender porque foi “poupado”.

 

Fiel ao espírito libertário e subversivo do artista, o filme é bastante ousado nas cenas de sexo, nudez, na linguagem oral, nos comportamentos em geral.  Nos figurinos, nem se fale.  Impossível abordar a história e a carreira de Ney Matogrosso sem explorar seus trajes cênicos inovadores, maquiagem, roupas estranhas e provocadoras.  A fotografia é quente, bem colorida, reflete a exuberância do trabalho de Ney, até nos desenhos e ilustrações que ele fez desde pequeno.

 

A produção como um todo é grande, para os recursos do cinema brasileiro, principalmente considerando o diretor e roteirista paulistano Esmir Filho, que veio do cinema independente e autoral.  Entre seus trabalhos podemos citar “Os Famosos e os Duendes da Morte”, de 2009, “Verlust”, de 2020, e o badalado “Tapa na Pantera”, de 2006.

 

Com Jesuíta

“Homem com H” chega às salas de cinema num momento de crescimento de público para o cinema brasileiro, especialmente após a conquista do Oscar por “Ainda Estou Aqui”, que chegou a alcançar 6 milhões de espectadores.  E não parece ser um caso único.  “O Auto da Compadecida 2” também levou milhões de espectadores aos cinemas do Brasil.  Esse novo filme de Esmir Filho, estrelado por Jesuíta Barbosa, tem chance de alcançar sucesso também.  Tem o apelo da arte de Ney, é comunicativo e tem ritmo ágil.  Vamos ver o que acontece a partir de 1º. de maio, quando ele estreia.




terça-feira, 18 de março de 2025

BITUCA e GIRASSOL

Antonio Carlos Egypto

 



MILTON BITUCA NASCIMENTO.  Brasil, 2024.  Direção: Flávia Moraes.  Narração: Fernanda Montenegro.  Documentário.  110 min.

 

O documentário “Milton Bituca Nascimento” partiu da turnê internacional e nacional de despedida dele dos palcos, acompanhada pela diretora Flávia Moraes, durante dois anos.  Muita coisa importantíssima resultou desses encontros musicais, gerando, para a cineasta, uma questão: como explicar o fascínio que o músico causa no Brasil e no mundo com sua obra?  Uma obra que motiva estudo, pesquisas, aulas, debates universitários, em todos os lugares a que ela chega.  Não sei se precisa, nem sei se dá para explicar.  Há coisas que são autoexplicáveis.  A música de Milton fala por si: músico, compositor, cantor, de qualidades excepcionais, facilmente constatáveis.  Enfim, o documentário vai por aí, mostrando essa obra fantástica do Bituca e engrenando 40 entrevistas, que vão de Quincy Jones, Spike Lee e Paul Simon a Gilberto Gil, Chico Buarque, Mano Brown, Djamila Ribeiro e toda a turma do Clube da Esquina.  A música de Milton nesse derradeiro palco soa magnífica, com a colaboração de outros intérpretes e músicos, como a cantora portuguesa Carminho, por exemplo.  Claro que a voz maviosa de Bituca já não pode tanto, não é mais a mesma.  Mas o encanto está lá e a emoção é tanta que contagia.  O filme é, evidentemente, uma celebração dessa grande obra.  E é mesmo importantíssimo celebrar esse artista gigante que, segundo a diretora, é o Brasil profundo.  Mas é incrível como uma obra mineira, brasileira, popular, se insere de forma tão impressionante e reverenciada no mundo do jazz.  Milton Nascimento é festejado pelos músicos mundo afora, das mais variadas tendências, idades e gêneros musicais.  O adjetivo está para lá de banalizado, mas como evitá-lo?  Realmente, Milton Nascimento, o Bituca, é um gênio da música e um orgulho do Brasil.  Ouvi-lo, relembrar sua história e sua trajetória, sob a narração da grande Fernanda Montenegro, incluindo as perguntas que nem precisariam ser feitas, é uma experiência bem gratificante.



 

GIRASSOL VERMELHO.  Brasil, 2024.  Direção: Éder Santos.  Elenco: Chico Diaz, Daniel de Oliveira, Luah Guimarães, Luiza Lemmertz, Mariano Matos, Bárbara Paz.  110 min.

 

“Girassol Vermelho”, filme de abertura e destaque da 28ª. Mostra de Cinema de Tiradentes, é inspirado em contos de realismo fantástico do escritor mineiro Murilo Rubião (1916-1991).  Dirigido por Éder Santos, também mineiro, com uma carreira marcada pela fusão entre artes plásticas, teatro, cinema e TV.  Codirigido por Thiago Villas Boas e com roteiro do diretor e de Mônica Cerqueira, relata uma aventura do senhor Romeu (Chico Diaz), em busca da liberdade, ainda que sacrificando o seu passado.  A trama remete a uma situação kafkiana, em que o cidadão em questão, após uma parada forçada do trem, caminha por uma estranha cidade enfumaçada, fazendo perguntas para entender o que está acontecendo.  Vai preso, sendo seguidamente interrogado e torturado, e só então descobre que ali há a impossibilidade de questionar, não se podem fazer perguntas. Um sistema que oprime, em nome da máquina, que se materializa em engradados e grandes blocos de vidro fechados, por onde vertem-se a fumaça, a areia, o pó, a água, como elementos destruidores, no mínimo, do moral da pessoa.  Se até aí já há estranheza suficiente, a inclusão do conto Os Comensais na aventura de Romeu, para mim destoou da narrativa, acrescentando ainda mais estranheza ao conjunto.  Sem necessidade.  Tudo isso, no entanto, é uma oportunidade para uma experimentação visual muito instigante.  Além disso, o elenco, brilhantemente liderado por Chico Diaz, retrata personagens que se comportam na base do non sense, rejeitando qualquer resposta ou pergunta racional, lógica.  Ou seja, estamos diante de uma mistura do absurdo com o onírico.  Em que o que se perde é justamente o que se procurava: a liberdade.





quarta-feira, 11 de outubro de 2023

MEU NOME É GAL

Antonio Carlos Egypto 

 



MEU NOME É GAL.  Brasil, 2023.  Direção: Dandara Ferreira e Lô Politi.  Elenco: Sophie Charlotte, Luís Lobianco, Camila Márdila, Rodrigo Lelis, Dan  Ferreira, George Sauma.  87 min.

 

Creio que ninguém discorda que Gal Costa tenha sido uma das maiores cantoras da música popular brasileira.  Sua partida prematura, em 2022, significou uma grande perda para nossa cultura, ao mesmo tempo em que é hora de celebrar o legado importantíssimo que ela nos deixou. 

 

O filme “Meu Nome é Gal”, muito oportuno, dirigido por Dandara Ferreira e Lô Politi, que chega agora aos cinemas, no entanto, não surgiu em função de sua morte, mas para comemorar uma longa carreira musical de 57 anos, 30 álbuns e muitos prêmios.  Pensado pela própria Gal, que gostou da série documental “O Nome Dela é Gal”, realizada por Dandara Ferreira, a convidou para fazer uma ficção sobre sua vida e seu trabalho, com total liberdade, sem condições.  Ainda assim, não haveria como escapar de uma cinebiografia para incensar, homenagear, a artista.  Nada contra.  Gal merece todos os elogios pelo seu trabalho de qualidade impecável ao longo de décadas.

 

A questão estaria mais nos aspectos pessoais: Gal sempre foi muito discreta a respeito de sua vida familiar, sua timidez, sua sexualidade, entre outras coisas.  O filme tratou dessa dimensão com cuidado e elegância, mas não deixou de abordá-las.

 

O centro do filme, porém, é a carreira, a vida artística de Gal Costa.  E, num corte específico, o período dos anos 1960 e 1970, quando surge a identidade artística Gal Costa, deixando para trás a Maria da Graça ou Gracinha e a Bahia de origem.  No Rio de Janeiro, ao lado dos amigos baianos e outros, como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Dedé Gadelha, Wally Salomão, Torquato Neto, Tom Zé, se tornará a voz feminina do Tropicalismo.  Maria Bethânia não quis exercer esse papel.  Nara Leão estava lá também.  Gal foi uma das vozes mais expressivas e corajosas da contracultura brasileira do período de chumbo da ditadura militar.

 



A ditadura tem tanta importância na história do movimento tropicalista, pela opressão que exerceu junto à sociedade brasileira, que ela é um personagem muito relevante do filme “Meu Nome é Gal”.  E isso é correto. Basta dizer que Caetano e Gil tiveram de amargar prisão e exílio por conta do papel cultural desafiador que exerceram.  Os que aqui ficaram, Gal entre eles, precisaram, como dizia a música de Gil e Caetano que Gal lindamente cantava, estar atentos e fortes, sem medo de temer a morte.  Tudo podia ser “Divino e maravilhoso”, como costumava pregar o empresário Guilherme Araújo, mas tudo era perigoso e o risco, constante.  E um medo permanente.

 

A propósito, o desempenho de Luís Lobianco, como Guilherme Araújo, é um dos destaques do filme, que fez jus à importância que o empresário teve em toda essa história.  Do mesmo modo, a figura de Dedé teve um enorme papel na união e força artística do grupo e do movimento.  A atuação de Camila Márdila, fazendo Dedé, é outro grande destaque do filme.  Rodrigo Lelis, Dan Ferreira, como Caetano e Gil, respectivamente, assim como os demais do elenco, estão bem, porque seguiram uma linha correta de atuação: tentar viver os personagens sem imitá-los, já que são tão conhecidos nos gestos, modo de falar, de se expressar.  Seria caricato, mesmo.

 

O destaque maior, porém, é para a atriz Sophie Charlotte, que faz Gal Costa magnificamente.  E canta muito bem, até com um timbre que lembra o da Gal, sem os mesmos recursos, claro.  Daí ser correta também a opção de usar a voz de Sophie e a voz original de Gal, fundindo-as, de modo que nem sempre fica claro quando é uma ou quando é outra.

 

Essa cinebiografia, que celebra Gal, merece ser vista e o canto dela merece ser ouvido sempre.  É entusiasmante, vigoroso.  Depois do período retratado no filme, Gal continuou fazendo tantas coisas até o final da vida que outros filmes podem se debruçar sobre isso.  Tem muito material, é só querer.  Acho que virá muita coisa mais por aí.



quarta-feira, 20 de setembro de 2023

ELIS & TOM

                

Antonio Carlos Egypto

 

 



ELIS & TOM, SÓ TINHA DE SER COM VOCÊ, documentário brasileiro de 2022, dirigido por Roberto de Oliveira e Jom Tob Azulay, com roteiro de Nelson Motta,    encanta qualquer um que tenha sensibilidade musical.  Vai em busca de resgatar uma experiência de 1974, já tem quase 50 anos, quando Elis Regina, ao completar 10 anos de carreira artística, muitíssimo bem-sucedida, ganha de presente de sua gravadora o projeto de realizar um disco histórico ao lado de Antônio Carlos Jobim, reconhecidamente compositor maior da nossa música.  Além de maestro, arranjador e instrumentista exímio. 

 

Figuras emblemáticas que tinham de se entender para produzir juntas o que, hoje sabemos, seria um dos mais importantes discos de toda a história da música popular brasileira.  Como o filme conta, não foi fácil.  César Camargo Mariano, pianista e arranjador no disco, relata sua epopeia naquele estúdio MGM de Los Angeles, Califórnia, onde o disco foi realizado.

 

Inicialmente, César foi rejeitado por Tom, que esperava dar o rumo ao trabalho e se surpreendeu com a vinda dele e dos músicos que atuariam no disco.  Afinal, era a obra de Tom que estava em jogo e ele não se via como mero convidado no LP de Elis.  O clima ficou difícil, César tratou de lidar com essa rejeição, Elis chegou a pensar em desistir e fez as malas para voltar, Roberto de Oliveira conseguiu evitar que isso acontecesse. O talento de todos e a paixão musical acabaram por uni-los, o clima foi mudando e o trabalho andou.  Com entusiasmo, paixão, muito empenho e até relaxamento e brincadeiras.  A faixa “Águas de Março”, com Tom e Elis se divertindo, é a maior comprovação disso.

 

O clima de liberdade muito diferente daquele que existia no Brasil, com a ditadura militar, também ajudou.  Músicos brilhantes, que participaram do disco, também contam bastidores da produção, enquanto o filme nos lembra quem eram e o que faziam Elis e Tom, separados e reunidos nesse trabalho.  Tarefa difícil essa de sintetizar as carreiras de Elis Regina e de Tom Jobim em poucos minutos, para quem não os conheça direito, talvez porque muito jovem.  A opção por destacar a carreira internacional de cada um resolveu, em parte, a questão.

 


O destaque para a relação, os encontros entre os dois, cantando juntos outras músicas, como “Na batucada da vida”, de Ary Barroso, e “Céu e Mar”, de Johnny Alf, nos mostram uma afinidade musical que vai muito além das simpatias ou antipatias pessoais, ou dos ciúmes e da competição entre eles e com César Camargo Mariano, brilhante arranjador como o Tom, que era grande amor de Elis na época.

 

A proposta de um trabalho conjunto desses dois monstros sagrados da música brasileira, que parecia impossível de se viabilizar, aconteceu.  E o filme “Elis & Tom” é o registro dessa maravilha musical em vídeo.  Por que levou tanto tempo para ser apresentado nos cinemas?  Difícil saber, mas a espera valeu, porque o trabalho de restauração da imagem e do som está perfeito.

 

Música da melhor qualidade possível e imaginável toma conta da tela e dos nossos ouvidos de forma arrebatadora.  Sei que estou me valendo de adjetivos até pomposos para falar desse documentário.  Mas, podem crer, o filme vale tudo isso.  Ganhou o prêmio da Crítica na 46ª. Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, não foi à toa.  É um trabalho realmente espetacular.   100 min.

 


terça-feira, 18 de julho de 2023

FOGO FÁTUO + FANTASMA NEON

Antonio Carlos Egypto

 

Chega aos cinemas a partir de 20 de julho de 2023 uma sessão com programa duplo, bastante curiosa por suas caraterísticas.  Reúne dois filmes distintos que têm muita coisa em comum: um longa-metragem português e um curta brasileiro, que somam juntos 87 minutos.  Ambos atuam na chave musical e fantasia. São filmes de entretenimento que tocam em assuntos importantes, com leveza, e um jeito um tanto inusitado de contar uma história.

 


FOGO FÁTUO.  Portugal, 2022.  Direção de João Pedro Rodrigues.  Elenco: Mauro Costa, André Cabral, Joel Branco, Margarida Vila-Nova, Ana Bustorff.  67 min.

 

O novo filme de João Pedro Rodrigues (Diretor de “O Fantasma”, de 2000, e “O Ornitólogo”, de 2016) é uma comédia musical gay, que focaliza um rei à beira da morte, relembrando sua juventude, quando, na condição de príncipe, decidiu ser bombeiro para combater as queimadas que prejudicam o clima do planeta.  Loiro, como costuma se associar aos príncipes de contos de fada, encontra no corpo de bombeiros um instrutor negro, com quem desenvolve uma relação erótica intensa, mas passageira, um fogo fátuo.  E isso se dá com muita música, danças coreografadas, corpos em intenso movimento, vivendo uma fantasia, um devaneio, em meio a uma realidade complicada.  O tema musical central, que se repete cantando, é mesmo muito bonito e todo o score musical dançado, também.  O fato de a trama se passar em 2069, quando o rei relembra sua história, que supõe uma visão de futuro, simplesmente acrescenta a ideia da passagem do tempo, mas esse futuro parece igual a hoje.  Um menino que brinca sem cerimônia num leito de morte com seus objetos indica o quê?  Que a morte estará banalizada no futuro?  As sequências que compõem o longa estão cheias de elementos e comportamentos bruscos ou inesperados.  O diretor não adota o realismo nem a evolução dramática.  Tudo acontece de repente, sem causa aparente e nos leva à diversão musical.  Afinal, o mundo é estranho, não é mesmo?

 



FANTASMA NEON.  Brasil, 2022.  Direção de Leonardo Martinelli.  Elenco: Dennis Pinheiro, Silvero Pereira.  20 min.

 

O curta brasileiro “Fantasma Neon” trata de um entregador de aplicativo que sonha em ter uma moto. Esse desejo se transforma em um musical com muita dança, intensa e vibrante.  Enquanto se mostra a precariedade dos direitos trabalhistas que envolvem o ofício dos entregadores, a música dá o tom, a fantasia ocupa o lugar da penosa realidade e produz o entretenimento, mas não se trata de escapismo.  Até para dançar, a turma não larga da caixa de entrega.  E as conversas não deixam dúvidas quanto à necessidade de batalhar por mudanças.  O filme ganhou o Leopardo de Ouro de curtas no Festival de Locarno.  Foi escolhido como o melhor curta do ano pela Abraccine e venceu o Festival de Gramado.



sexta-feira, 3 de fevereiro de 2023

ANDANÇA...OS ENCONTROS E AS MEMÓRIAS DE BETH CARVALHO

  Antonio Carlos Egypto

 

 



ANDANÇA... OS ENCONTROS E AS MEMÓRIAS DE BETH CARVALHO.

Brasil, 2022.  Direção de Pedro Bronz.  Documentário.  110 min.

 

Quem gosta de samba e da música popular brasileira certamente conhece a obra da “Madrinha do Samba”, Beth Carvalho (1946-2019).  Grande cantora, além de instrumentista e compositora, Beth sempre esteve muito ligada às escolas de samba e aos compositores populares que atuam nelas.  Ou os descobrira nas rodas de samba, pagode, batucadas pela vida.  Mesmo tendo começado, assim como tantos outros, pela bossa-nova, influenciada pelo som de João Gilberto.  Só que o sambão falava mais alto ao seu coração.  E lá ela dominava o espaço e encantava a todos.

 

Beth tinha uma outra coisa muito boa, que acompanhava a sua vida.  Ela gostava de registrar o seu trabalho, seus encontros, seus espetáculos, em vídeo e fotos.  Fosse em Super 8, VHS, mini-dv ou outra mídia disponível na época, ela guardava as gravações.  Chegou a ter um volume enorme de registros que exigiram um espaço especial para serem guardados.  Isso começou nos anos 1970.  Um material absolutamente precioso.

 

Foi esse acervo que deu origem ao documentário que rememora sua incrível trajetória artística, de onde são pinçados encontros com Nelson Cavaquinho, Cartola, Eliseth Cardoso, Clementina de Jesus, dona Ivone Lara, Zeca Pagodinho, Luiz Carlos da Vila, Jorge Aragão, Almir Guineto, Arlindo Cruz, Grupo Fundo de Quintal, Quinteto em Preto e Branco, Nelson Sargento, Noca da Portela e sua querida Estação Primeira de Mangueira, etc., etc..]


Com Nelson Cavaquinho


“Andança”, que dá título ao filme, foi uma música de muito sucesso, que alcançou o terceiro lugar no Festival Internacional da Canção de 1968, composição de Edmundo Souto, Paulinho Tapajós e Danilo Caymmi.  Uma entre as muitas lançadas por Beth, como “As Rosas Não Falam”, “Folhas Secas”, “Vou Festejar”, “Coisinha do Pai”, entre tantas outras que compunham LPs ou CDs, lançados ano a ano e em shows eletrizantes.

 

As gravações do filme são amadoras, Beth não era cineasta, e refletem as possibilidades tecnológicas do momento em que foram gravadas.  Constituem, no entanto, um acervo precioso e absolutamente encantador, que nos envolve todo o tempo, não importando os riscos e chuviscos que apareçam.  Que maravilha que Beth preservou o seu trabalho, para nós, para depois de ter partido desta terra.  Ficará para sempre na nossa memória.

 

À grande artista que foi Beth Carvalho se soma a cidadã, e sua participação política na sociedade brasileira, pela democracia, com sua visão progressista e popular, como era sua própria vida no meio do povo que batuca, canta, dança, desfila, discute e questiona, se alegra e ama.  Vale a pena revisitar Beth em suas andanças.



terça-feira, 24 de janeiro de 2023

TÁR

Antonio Carlos Egypto

 



TÁR (Tár).  Estados Unidos, 2022.  Direção: Todd Field.  Elenco: Cate Blanchett, Nina Hoss, Noémie Merlant, Sophie Kauer, Mark Strong.  158 min.

 

O filme aborda uma personagem ficcional, Lydia Tár, que seria a primeira mulher a reger e comandar a Orquestra Filarmônica de Berlim.  Um feito e tanto para quem ainda compõe, é instrumentista e escreve suas memórias como top da música clássica, um ambiente marcada e predominantemente masculino. 

 

Essa é a maestro Tár.  Lendo isso, você vai dizer: está errado, maestro, não, maestrina.  Não para a personagem, que faz questão de ser chamada de maestro, assim, no masculino.  E isso é reiterado no filme, várias vezes.  Qual o propósito disso?  Identificá-la ao mundo masculino para enfrentá-lo?  Ou acentuar, assim, suas relações homoafetivas, que ela manipula e maneja conforme seus desejos, na gestão da orquestra?

 

Em vários momentos, discutindo compositores clássicos, levanta-se a questão da separação, possível ou não, entre a obra e o artista, na compreensão e avaliação do trabalho artístico-cultural.  No caso da “maestro”, no entanto, é evidente que sua personalidade e suas atitudes contaminam seu trabalho.  É o que vai acontecer quando sua empáfia, suas manipulações, desrespeitos e mentiras, vierem à tona e seu poder ruirá.  O filme leva intermináveis 2 horas e 38 minutos para descrever esse processo previsível e, mesmo assim, o período final de sua queda e, sobretudo, de sua volta, se revela de forma abrupta.  Com um exagero brutal na cena em que ela ataca, tromba e cai diante da plateia de um grande teatro lotado.

 



A fotografia mostra a opacidade, a pouca luz e cor, nesse ambiente de poder que se desintegra, enquanto a personagem se afasta de nós, nos incomoda.

 

“Tár” é desagradável, em princípio.  Aquilo que seria indicativo dos méritos ou características da personagem, na verdade, é colocado contra ela na narrativa.  E a gente se pergunta, por que criar tal personagem? 

 

Uma pena, já que Lydia Tár é vivida por uma grande atriz, como é Cate Blanchett.  Ela está ótima neste papel, pode levar o Oscar.  Inegavelmente, seu desempenho acentua competentemente a ojeriza pela figura que dá nome ao filme.  Exigiu muito desgaste dela na atuação.  Infelizmente, esse desgaste também atinge o público.  E não por uma razão mais profunda, “Tár” tem uma trama banal.  Tem momentos musicais interessantes.  Cate Blanchett.  E só.

 


quinta-feira, 7 de julho de 2022

ELVIS

Antonio Carlos Egypto

 

 



ELVIS (Elvis).  Estados Unidos, 2022.  Direção: Baz Luhrmann.  Elenco: Austin Butler, Tom Hanks, Olivia De Jonge, Helen Thomson, Richard Roxburg.  160 min.

 

A cinebiografia de Elvis Presley (1935-1977), dirigida por Baz Luhrmann, certamente terá um apelo comercial expressivo.  Afinal, trata-se do chamado Rei do Rock, uma figura lendária da cultura norte-americana e mundial, lembrada e cultivada até hoje.  Suas músicas, sua voz, sua capacidade interpretativa e seu desempenho nos palcos seguirão sendo revisitados e relembrados de forma saudosa.

 

O filme de Baz Luhrmann faz jus à importância desse talento, mostrando alguns de seus principais sucessos musicais e recriando as performances que marcaram o ídolo.  O principal destaque está no desempenho fantástico de Austin Butler, que emula a vibração inigualável que Elvis tinha nos palcos.  Ele nos leva a reviver a sua figura, a sua dança ousada, extravagante, carregada de movimentos pélvicos, viris, que acabaram forjando a expressão pejorativa Elvis the pelvis, indicativa do incômodo que causava aos moralistas.

 

O filme também destaca o legado da música negra na criação de Elvis.  Ele explorava um timbre e estilo vocal dos negros que conhecia e admirava, num tempo de fortes tensões raciais.  Isso, aliado à sua origem simples e a seu jeito contestador e provocador, produziu muitos conflitos na carreira do cantor.  Crítica, perseguição, censura.  Plano de controlar sua energia revolucionária com a criação de um novo Elvis, mais domesticado, que não vingou.

 




Todos esses elementos são trabalhados no filme, mas dentro de um foco específico: o da relação de 20 anos de convívio de Presley com seu empresário, o coronel Parker, papel vivido por Tom Hanks, em alguns momentos quase irreconhecível.  Ambos viveram um conturbado, tumultuado, mas afetivamente forte, relacionamento profissional, que envolvia também a família do cantor.  O sucesso e os problemas que Elvis viveu estão intimamente ligados a essa relação, o que explica, por exemplo, por que ele não se apresentava em shows fora dos Estados Unidos, embora fosse um astro global.

 

O desgaste a que Elvis foi submetido, em maratonas incríveis de apresentações, não respeitou limites ou os devidos cuidados, o que muito teve a ver com o seu declínio.  Houve alguns outros condicionantes nessa história, inclusive questões econômicas graves.  Se Elvis vivia à custa de pílulas e sua mãe mergulhou no alcoolismo, Parker era um jogador inveterado.  São elementos de um drama que se potencializou.

 

O diretor Baz Luhrmann tem um estilo um tanto exagerado de expor as situações, que sempre me incomodou nos seus filmes.  Neste trabalho não é diferente, porém, as apresentações reboladas e sensualizadas de Elvis certamente combinam com esse estilo over de filmar.  O filme também embola situações, uma entrando na outra, em momentos em que coisas simultâneas, ou próximas no tempo, estão ocorrendo.  Em outros momentos, há divisão da tela, para que acompanhemos cenas diferentes.  Enfim, ritmo não falta.  É uma produção grandiosa, cinemão hollywoodiano.




terça-feira, 23 de janeiro de 2018

SONORA:ENNIO MORRICONE

     
Antonio Carlos Egypto




O compositor Ennio Morricone tem uma vasta contribuição à música de cinema, sendo responsável por mais de 500 trilhas de filmes, na sua Itália de origem e em todo o mundo.  Trabalhos inesquecíveis, que fazem parte da trilha de vida de todos nós.  Basta lembrar  os western-spaghetti de Sergio Leone, “Cinema Paradiso”, de Giuseppe Tornatore, “Teorema”, de Pasolini, “1900”, de Bernardo Bertolucci, “O Deserto dos Tártaros”, de Valerio Zurlini, “A Batalha de Argel”, de Gillo Pontecorvo, “Investigação Sobre um Cidadão Acima de Qualquer Suspeita”, de Elio Petri, “Os Intocáveis”, de Brian De Palma, “Áta-me”. de Pedro Almodóvar, “A Missão”, de Roland Joffé, “Cão Branco”, de Samuel Fuller, “Cinzas do Paraíso”, de Terence Malick ou “Os Oito Odiados”, de Quentin Tarantino.  A lista é interminável, mas por aí já dá para perceber a enorme importância do trabalho musical de Ennio Morricone.  Pois bem, agora que ele está prestes a completar 90 anos de vida, todos esses filmes e muitos outros poderão ser vistos de 24 de janeiro a 19 de fevereiro, numa mostra que homenageia o compositor, no Centro Cultural Banco do Brasil, centro de São Paulo, em sessões a R$5,00.  Veja a programação em ccbbsp@bb.com.br


terça-feira, 30 de abril de 2013

SOMOS TÃO JOVENS

                          
Antonio Carlos Egypto




SOMOS TÃO JOVENS.  Brasil, 2012.  Direção: Antonio Carlos Fontoura.  Com Thiago Mendonça, Laila Zaid, Bianca Comparato, Bruno Torres, Olívia Torres, Daniel Passi, Sérgio Dalcin, Sandra Corveloni, Marcos Breda.  104 min.


Renato Russo (1960-1996), cantor e compositor, foi um dos grandes nomes do rock brasileiro.  “Somos Tão Jovens” é uma cinebiografia do artista, centrada em seis anos de sua vida em Brasília.  Nesse período, ele constrói sua carreira musical, formando a banda de punk rock “Aborto Elétrico”, que depois se dissolveria.  Ele teria um período de atuações-solo, em busca de novos rumos melódicos e poéticos, e chegaria à banda “Legião Urbana”, que alcançou grande sucesso.  Da divisão do “Aborto Elétrico” resultou também a banda “Capital Inicial” que, igualmente, obteve muito êxito.



“Somos Tão Jovens” é um filme de ficção sobre a vida de Renato Russo, a partir de uma biografia autorizada.  Caracteriza o personagem por meio de algumas cenas que mostram a personalidade e fatos marcantes vividos no período, mas sem se deter muito na história de vida.  A epifisiólise que o acometeu, deixando-o por dois anos entre uma cama e a dependência de uma cadeira de rodas para se locomover, aparece de forma discreta, assim como sua bissexualidade.  E não há referências ao HIV, que viria mais tarde comprometer sua vida.  O uso de álcool e outras drogas é mostrado, sem maiores repercussões, no conjunto da vida ou da obra.

O filme está muito mais preocupado em mostrar como sua música evoluiu.  Acaba fazendo um musical, em que o rock reina soberano e que vai agradar aos fãs do gênero.  Para isso, contou com performances gravadas ao vivo, com Thiago Mendonça no papel de Renato Russo, mostrando excelente desempenho, tanto na música como na atuação e na caracterização do personagem.  Aliás, a semelhança com o original é bem acentuada.  O desempenho dos atores/músicos que o acompanham nas apresentações é muito bom.  Isso dá força a essa ficção, que respira rock por todos os poros.



A direção musical do filme ficou a cargo de Carlos Trilha, que também produziu discos do “Legião Urbana” e conhecia bem Renato Russo.  O contato com o pessoal do rock de Brasília, que se destacou nos anos 1980, deve ter contribuído para criar todo o clima que “Somos Tão Jovens” procura enfatizar.



Era o tempo final da ditadura e Renato era um roqueiro politizado, que fez de sua poesia também uma peça de resistência.  Seu trabalho permanece sendo conhecido, respeitado e consumido pelo talento que revelou.  Nos 36 anos que viveu, Renato Russo e o “Legião Urbana” deixaram sua marca.  O filme de Antonio Carlos Fontoura funciona como um registro e uma homenagem a esse rock que começou muito barulhento e terminou muito mais melódico e poético.  E sempre crítico, inconformado, contestador.



sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Os Miseráveis


Tatiana Babadobulos

Os Miseráveis (Les Miserables). Reino Unido, 2012. Direção:Tom Hooper. Roteiro:William Nicholson. Com: Hugh Jackman, Russell Crowe, Anne Hathaway, Amanda Seyfried, Sacha Baron Cohen, Helena Bonham Carter. 158 minutos

 
Musicais não são muito prestigiados pelo público no cinema. São tratados como longos, cansativos e arrastados. Mas nem sempre foi assim. No início do século 20, eles eram os mais procurados por aqueles que queriam assistir a um filme, principalmente na época das grandes produções de Hollywood. Basta lembrar do clássico “Cantando na Chuva” (1952), com Gene Kelly, e todos os outros estrelados por Fred Astaire.

Das últimas produções do gênero, o que mais fica na lembrança é “Chicago” (2002), de Rob Marshall, mesmo diretor de “Nine” (2009). Este último, aliás, foi inspirado: “8 ½”, de Federico Fellini, de 1963. Outra produção que pode ser recordada com um certo saudosismo é “Moulin Rouge” (2001). E “Mamma Mia!” (2008) pode ser facilmente esquecido.

Adaptação do musical da Broadway, “Os Miseráveis” (“Les Miserables”), inspirado na obra do escritor francês Victor Hugo, chega aos cinemas. Durante a Revolução Francesa no século 19, Jean Valjean (Hugh Jackman) rouba um pão para alimentar a irmã mais nova, mas é preso pelo crime. Durante anos ele é perseguido pelo policial Javert (Russell Crowe).

Após ser solto, Valjean procura a filha de Fantine (Anne Hathaway), ex-funcionária de uma fábrica que caiu nas ruas para ganhar dinheiro. Daí pra frente, histórias se entrelaçam e se cruzam de forma harmoniosa.

A fita, dirigida por Tom Hooper (“O Discurso do Rei”), traz apenas diálogos cantados. É difícil, por exemplo, encarar o fato de que Russell Crowe, ator conhecido por suas atuações em filmes de ação, como “Gladiador” (2000), comece a, de repente, cantar enquanto lidera a tropa.



A interpretação de Anne Hathaway é oposta. Mesmo com a voz embargada da mãe que está sofrendo por não ter dinheiro para mandar para a filha, ela canta. E as músicas, vale salientar, são lindíssimas, como “I Dreamed a Dream”, “Bring Him Home”, “One Day More” e “On My Own”.

Helena Bonham Carter e Sacha Baron Cohen fazem parte do núcleo cômico da trama. Helena já foi vista em outros musicais, como “Sweeney Todd – O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet”, dirigido por seu marido Tim Burton e estrelado por Johnny Depp. Baron Cohen, com sua expressão irônica e debochada de outros filmes (“Borat”, "O Ditador"), envolve o público em mais trapalhadas, fazendo com que a trama se torne um pouco mais leve, mas tenha o peso que o assunto merece, já que trata-se de uma obra escrita em 1862.

Embora se passe na França do século 19, o longa-metragem é cantado em inglês. Vez ou outra um personagem se refere a uma pessoa como “madame” e “monsieur”. Esse uso do francês apenas para tratamentos pessoas irritam um pouco o espectador, como se o elenco só fosse capaz de dizer aquelas palavras no idioma de Molière.



“Os Miseráveis” trata da Revolução Francesa, das dores causadas pelo incidente, mas também de amor não correspondido e pelo sacrifício feito no papel da mãe, que aceita cortar o cabelo, vender o dente e o corpo em troca de alguma moeda.

A fita não pertence a um gênero amado por unanimidade pelos cinéfilos, mas “Os Miseráveis” encanta pela produção, por algumas interpretações mas, sobretudo, pelas canções.

Vencedor de três prêmios no Globo de Ouro (Melhor Comédia ou Musical, Atriz Coadjuvante para Anne Hathaway e Ator para Hugh Jackman), o longa concorre a oito Oscars, incluindo as categorias principais.