segunda-feira, 17 de novembro de 2025

MODIGLIANI E A QUEDA DO CÉU

                             

 Antonio Carlos Egypto




MALDITO MODIGLIANI (Maledeto Modigliani).  Itália, 2020.  Direção: Valeria Parisi.  Elenco: Chloe Aridjis, Ariana Marelli, Valeria Parisi, Paolo Vírzi, John Myatti.  97 min.

 

O pintor e escultor italiano Amedeo Modigliani (1884-1920), nascido em Livorno, Toscana, é um reconhecido gênio das artes plásticas.  Também cercado de muitas polêmicas e julgamentos, do tipo mulherengo, alcoolista, consumidor de drogas, etc..  Tratado como escandaloso e vivendo uma vida curta e atormentada, é uma espécie de mito.  Abordá-lo num documentário biográfico não é uma tarefa fácil.   Mostrar a sua obra, considerando o impressionante número de falsificações e dúvidas ainda existentes sobre a autenticidade de muitas de suas obras, é outro problema.

 

A diretora Valeria Parisi, que também atua no filme, contornou o problema, colocando no centro da narrativa, a nos guiar sobre a vida e a obra de Modigliani, a sua última e jovem esposa, Jeanne Hébuterne, que se suicidou dois dias após a morte do pintor.  É por meio de suas impressões, registros e sentimentos, que adentramos a obra retratada.  Isso dá um fio condutor bastante eficiente para falar um pouco de tudo da vida de Modigliani.  Inclusive de suas mulheres anteriores: a poetisa russa Anna Achmatova e a jornalista inglesa Beatrice Hastings, figuras marcantes não só da vida dele, mas da época em que viveram.  Onde se destaca Paris, do início do século XX, da belle époque.  Modigliani partiu para lá em 1906 e conviveu com o ambiente artístico esfuziante da cidade nesse período.  Todo mundo estava lá, inclusive o contemporâneo Pablo Picasso (1881-1973), com quem Modigliani conviveu bastante e de cuja arte se aproximou.  Sua bela e amada cidade natal, Livorno, que ele nunca esqueceu, também é bem mostrada no filme.

 

O documentário inclui sequências encenadas de episódios importantes, vividos por Jeanne, mas também dá o espaço tradicional aos especialistas, que comentam o trabalho tão marcante de Modigliani.  Sua obra é mostrada, passando por inúmeros museus no mundo, e incluindo a questão das falsificações.  O filme nos revela esse grande legado artístico, o que é fundamental num trabalho desse tipo.  Seus nus femininos, suas figuras humanas de longos pescoços e os contornos dos rostos e corpos tão característicos estão lá, nos exibindo todo o talento e originalidade do artista. É um belo filme para curtir ou conhecer Amedeo Modigliani.

 


A QUEDA DO CÉU (Kutumosi Kerayumi).  Brasil, 2024.  Direção: Eryk Rocha e Gabriela Carneiro da Cunha.  Elenco: Davi Kopenawa, Povo Yanomami e Comunidade de Watoriki.  108 min.

 

“A Queda do Céu” é um trabalho que se baseia na escrita e no testemunho do xamã e líder yanomami Davi Kopenawa e acompanha o ritual Reahu, que mobiliza a comunidade Watoriki, no esforço coletivo para segurar a queda do céu.  Marcada por fortes nuvens negras e uma chuva torrencial, anunciam a queda do céu, trazida pelo que Davi chama de povo da mercadoria, o pessoal do garimpo ilegal, as doenças e epidemias xawara, que vêm por meio dos forasteiros, numa crítica contundente a esse mundo dos brancos.

 

O filme é um mergulho na vida e na cultura dos yanomami, mostra a beleza da cosmologia do povo, dos espíritos xapiri e da força manifestada pelos sonhos, que dirigem e orientam a vida.  Adverte a todos sobre a vingança da Terra.  E aborda a crença no xamanismo como elemento indispensável para curar o mundo. 

 

“A Queda do Céu” teve sua estreia no Festival de Cannes, já recebeu muitos prêmios, com exibição na COP30, em Belém do Pará, e agora em cartaz nos cinemas brasileiros.  Segundo Gabriela Carneiro da Cunha, “o filme é um convite para ver, ouvir e sonhar com os yanomami um outro projeto de Brasil”.  O filme traz ainda a beleza da natureza das terras yanomami, numa filmagem sedutora, que reforça a ideia do sonho como fio condutor.  Um trabalho que merece ser conhecido e apreciado.

 

FESTIVAIS PARA TODO LADO   

 

Durante a Mostra Internacional de Cinema em São Paulo pouca coisa acontece, além dos lançamentos normais do circuito comercial, mas depois dela uma série de mostras saem da toca.  Simplesmente não dá para acompanhá–las após a maratona cinematográfica da Mostra.  Mas não custa registrar que ainda está em andamento o Festival de Cinema Italiano, com filmes on line de fácil acesso, atuais e clássicos, até 29 de novembro.

https://festivalcinemaitaliano.com,

 

A Mostra Mix Brasil, de diversidade sexual, já está terminando sua 33ª. edição, mas tem programação até 23 de novembro, em vários espaços da cidade, com ingressos pagos e gratuitos. https://mixbrasil.org.br

 

A 11ª. mostra Mosfilm de Cinema Soviético e Russo acontece até 23 de novembro, no Centro Cultural São Paulo, com ingressos gratuitos.  Tem ainda um Festival de Cinema Israelense, até 19 de novembro, on line e gratuito.  E vem aí o Festival de Cinema Francês do Brasil (ex-Varilux), de 27 de novembro a 10 de dezembro, pelo Brasil afora.

Será que me esqueci de algum?  Pode ser, sim. É coisa demais.  Mas se puder aproveitar, faça isso, porque ao longo de dezembro não vai sobrar muita coisa para ver nos cinemas.                            



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